domingo, 11 de julho de 2010

Da Caldeirada e dos Alvarinhos

Presumo que quando se fala de Caldeirada a maior parte das pessoas associe de imediato raia, tamboril e cação a batatas, cebolas, tomate e pimento e a água ou vinho branco e um fio de azeite. Depois, com mais e diferentes coisas, cada pessoa irá compôr a sua caldeirada. Passando os olhos por aquela que é talvez a mais importante publicação sobre a nossa cozinha, reunindo 800 receitas da nossa cozinha tradicional, que é a Cozinha Tradicional Portuguesa de Maria de Lourdes Modesto, encontrei 14 caldeiradas diferentes, do Minho ao Algarve. Penso que será correcto associar o termo "caldeirada" a "o que cabe na caldeira", focando-me assim mais na preparação do que no conteúdo. Na verdade uma caldeirada pode ser feita com uma ou mais variedades de peixe e incorporar moluscos e crustáceos. Quanto às batatas, não entram em todas as caldeiradas tradicionais. Há também caldeiradas feitas apenas com peixes de rio. Aparecem situações em que a base é um refogado. O vinho aparece também. Vendo a diversidade das nossas preparações, diria que não há uma receita canónica para a caldeirada, mas antes algumas regras básicas.

Esta minha preparação é muito simples e não se compara com a riqueza de sabores texturas e aromas de uma caldeirada de peixe, mas ainda assim constitui uma forma interessante de preparar umas lulas. Num tacho de fundo grosso deitei um fundo de azeite. Juntei as lulas, batatas, cebolinhas novas cortadas ao meio e pimento vermelho em fatias. Cobri com água, juntei um pouco de polpa de tomate (à falta de tomates bem maduros, mais vale usar a polpa), um pouco de pimenta branca, uma folha de louro, um pouco de pimentão doce em pó e dois dentes de alho esmagados. Levei a lume brando até as lulas estarem cozidas e servi. Normalmente as batatas são a ultíma coisa a cozer, mas se cozerem rápido (depende da variedade do tubérculo) pode-se juntar um pouco de vinho branco. As batatas não se desfazem e o resto continua a cozer. 


Já agora, se a caldeirada é tudo menos canónica, o que dizer dos vinhos da casta Alvarinho? Naturalmente associados à Região dos Vinhos Verdes, começam a aparecer um pouco por todo o país. Este veio de Trás-os-Montes, da Quinta de Cidrô, pertença da Real Companhia Velha. Foi lançado na colheita de 2007. Fiel à casta, mas aparece mais encorpado do que os da RVV. Apesar de já ter dois anos desde a sua saida para o mercado, continua fino e elegante, preservando a sua boa acidez. Não será uma referência, muito pelo preço (€ 8,85 na Wine o' Clock) mas é um vinho bem feito e interessante, embora algo intolerante com a temperatura de serviço (nada que uma manga não resolva).  

1 comentário:

  1. Conseguiste aguçar-me a curiosidade e lá irei em busca das receitas de caldeiradas de Norte a Sul no «A Cozinha Tradicional Portuguesa».
    Só por isto (e não só, claro!) valeu a pena esta caldeirada de lulas...
    Beijinhos.

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