No passado domingo, ao inicio da tarde, coloquei-me a caminho de Penalva do Castelo, mais concretamente da
Quinta da Boavista, situada a cerca de 6 Km da vila.
Esperava-nos o produtor / enólogo / chef / gourmand - João Malheiro Tavares de Pina, com a sua amizade, simpatia e paciência habituais.
A Quinta da Boavista, propriedade da Família Tavares de Pina, situa-se no Concelho de Penalva do Castelo, na Beira Alta, a cerca de 25 minutos de Viseu e a 30 da Serra da Estrela, Nesta quinta são produzidos os Terras de Tavares e Torre de Tavares.
Depois de uma breve volta pela quinta (que é muito bonita, pois além das vinhas, a paisagem é bastante verdejante e tem criação de cavalos), visitamos a adega com as suas cubas, cascos, e barricas de estágio. Já no interior de uma das casas da quinta (antiga adega reconvertida em sala de provas e sala de estar), perfilavam-se os vinhos produzidos na Quinta da Boavista/Terras de Tavares.
E para abrir as hostilidades: um Torre de Tavares, Síria, 2009, feito com uvas provenientes de vinhas com cerca de 60 anos do concelho de Figueira de Castelo Rodrigo.
Já tinha a ideia que a síria dava excelentes vinhos brancos, o que se confirmou com este Torre de Tavares. Notas de maçã verde e alguma tosta. Uns mexilhões à marinheira foram uma excelente companhia.
Seguiram-se os Torres de Tavares, Encruzado, 2007 e 2008.
Gostei do perfil destes encruzados bastante estruturados/encorpados. Notas citrinas, minerais e silex. Algum marmelo. Com o tempo de evolução apareceram também notas mentoladas. Foram aconchegados por um mil folhas de salmão fumado, rúcula selvagem, ovas de salmão russo e cebolinho.
E terminaram-se os brancos com a estrela da noite: O Torres de Tavares, Bical/ Cerceal, branco, 2007.
Um branco estruturado, feito com as castas bical ou borrado de moscas, no Dão, e cerceal branco. Na prova apareceram notas de marmelo, sílex, mineralidade, tem um perfil seco.
Foi acompanhado por uns pimentinhos padrón recheados com carnes diversas.
Mais um excelente branco de 2007 e a notícia de que já não existem garrafas disponíveis para o mercado!
Após um breve intervalo, iniciou-se a prova dos vinhos tintos.
E começou-se pelo Torre de Tavares, Regional beiras, 2006.
Um vinho que se revelou muito equilibrado, fresco, alguma mineralidade e sem presença da madeira. Tem uma excelente RQP.
A seguir, vieram os Terras de Tavares, Touriga Nacional, 2005 e 2008.
Em 1º lugar, o TN de 2005, que apresentou aromas a violeta, muita frescura, mas sem as desagradáveis (na minha opinião) notas florais.
O TN 2008 (amostra de casco) apresentou-se ainda muito jovem, mas já a denotar o enorme potencial. É um tourigo do Dão do meu agrado, frescura, um toque vegetal, austero, e notas mentoladas.
Na minha opinião, um dos melhores vinhos da noite. Um vinho a seguir no futuro com muita, muita atenção e a deixar o produtor/enólogo com uma decisão difícil para tomar: Fazer um monocasta touriga nacional (touriga portuguesa) ou fazer um blend com o Jaen para obter o Reserva...
Com um novo intervalo, chegaram à mesa outras das estrelas da noite: a mini vertical de Jaen! Os Torre de Tavares, Jaen, 2005, 2007 e 2008 (amostra de casco).
Todos os Jaen’s a darem uma excelente prova, com notas terrosas, caruma, frutos vermelhos, algum marmelo, enfim, a manifestarem a essência do verdadeiro Dão!
A mini vertical dos Jaen foi aconchegada por umas bochechas de porco preto, puré de marmelo e cebolinho cortado.
Foi curiosa a prova da amostra de casco do Jaen de 2008, com estágio em carvalho americano e estágio em carvalho francês. O Jaen que estagiou em carvalho americano está mais pronto a beber, mas eu preferi o Jaen estagiado em carvalho francês.
E ficou confirmada a ideia que o Jaen é uma casta fabulosa e com enorme potencial (veja-se em Espanha os vinhos da casta ‘mencia’), e os Torre de Tavares, Jaen, são excelentes vinhos e reveladores do terroir do Dão e da personalidade do seu criador.
E provou-se ainda um monocasta de Tinta Pinheira. Uma amostra de casco de 2009.
Que grande surpresa e que bela casta. A cor é fraca e faz lembrar os borgonhas ou o bastardo no Douro.
A conclusão que tiramos é que este vinho precisa ainda de estágio e que vai continuar a ser usada em blends.
Por outro lado, esta Tinta Pinheira não daria um belo vinho rosé?!
Após nova pausa, chegou a vez da vertical Reserva’s: Os Terras de Tavares, Reserva, Tinto, 2003, 2004, 2005, 2006, 2007 e 1997.
Estes Reservas são feitos com touriga portuguesa (touriga nacional), Jaen e Aragonez (Tinta Roriz), sendo que o reserva 2005 tem 70% de Jaen e 30% de touriga portuguesa.
O Reserva 2003 revelou-se um vinho num excelente momento de forma.
Aromas de cachimbo, tabaco, couro, muito complexo, mas fino. A revelar que o ano de 2003 deu grandes vinhos no Dão e que os vinhos provenientes da Quinta da Boavista têm muita frescura.
O Reserva 2004 reflectiu o ano quente na região do Dão. Notas de especiarias, muito compotado, bastante maturação.
O Reserva 2005 tem um belo aroma, muita frescura e uma leve tosta das barricas onde estagiou, sem marcarem em demasia o vinho. Grande potencial de evolução.
Estes Reservas foram acompanhados por uns míscaros selvagens deliciosos, salteados com entrecosto de porco preto, bacon e tostas.
A seguir, provaram-se ainda os Reserva, tinto, 2006 e 2007, e o 1997, o primeiro vinho produzido na Quinta da Boavista.
O Reserva 2006 foi um vinho produzido num ano difícil, mas revela muita frescura e a elegância do Dão.
Estes vinhos foram acolitados por um cachaço de porco preto grelhado e umas migas de feijão vermelho.
O Reserva 2007 está um vinho enorme, feito em partes iguais com as castas jaen e touriga portuguesa (touriga nacional).
No nariz apresenta as notas terrosas e de caruma do Dão. Muita frescura e elegância.
O Reserva 1997 foi o primeiro vinho produzido na Quinta da Boavista.
Tem ainda uma cor muito viva, aromas de frutos secos. Novamente a tónica na frescura e na elegância.
Uma tábua de queijos e umas tostas foram o parceiro ideal para o mesmo.
E, no final desta longa jornada, uma amostra de casco daquele que será o futuro Terras de Tavares, tinto, Vinhas Velhas, 2009.
Austero, mas a revelar grande frescura e complexidade, e a denotar grande potencial de evolução.
Ao terminar esta já longa descrição da prova efectuada, quero apenas salientar três conclusões:
- A profunda elegância e personalidade dos vinhos produzidos na Quinta da Boavista – Torre de Tavares e Terras de Tavares e a sua notável frescura e aptidão gastronómica;
- Nos brancos, o potencial da síria e o encruzado;
- Nos tintos, a confirmação do Jaen como grande casta, a solo ou em blend, e o potencial da tinta pinheira;
Resta-me agradecer novamente ao produtor/enólogo a oportunidade que nos proporcionou de efectuar esta prova épica na companhia de bons amigos, bons vinhos e boas comidas.
Até sempre!