A Quinta de Foz de Arouce situa-se no Concelho da Lousã, na região das Beiras. Está rodeada pelos contrafortes das Serras da Lousã e Penela e é banhada pelos rios Arouce e o Ceira onde o primeiro desagua.
Os antigos documentos existentes na casa referem as propriedades como pertença da família desde o Séc. XVIII, sabendo-se que algumas dependências são mais antigas, pois a primitiva casa foi por duas vezes consumida pelo fogo. A capela contígua à casa foi fundada no Pontificado do Papa Bento XIII em 1724.
A cultura da vinha conhece-se neste local desde as ocupações Visigóticas da Península, como atestam várias lendas que dizem ter o Rei Arunce guardado vinho, entre outros preciosos bens, no seu castelo da Lousã.
A produção vitivinícola na quinta mistura-se com a própria história e demarcação da propriedade, sendo hoje, tal como a adega, a única que se conhece na região.
Dos 60 hectares que hoje compõem a quinta, 15 são de vinha. O solo é predominantemente xistoso e de características aluviais.
A vinha é composta por 3 hectares com mais de 50 anos, (vinha de Sta. Maria), por 9 hectares de vinha com 5 anos e por 3 hectares de vinha velha em reconversão. As castas tintas são distribuídas pela Baga, 80% e pela recém introduzida Touriga Nacional, 20%; as brancas, 5% do encepamento total, são na sua maioria Cerceal.
Os actuais proprietários, os Senhores Condes de Foz de Arouce, procuram manter o espírito hospitaleiro e desprendido com que recebem em sua casa e que caracteriza a verdadeira nobreza lusitana. A produção de vinho é como que a continuação desse espírito que se reflecte na sua filosofia comercial: “Com bom vinho fazem-se sempre bons e verdadeiros amigos”.
Este breve texto, retirado da
webpage da Quinta explica parte do fascínio que a propriedade e os vinhos aí produzidos exercem sobre qualquer enófilo...
Há pouco mais de um ano e na sequência de uma prova do vinho branco da Quinta de Foz de Arouce de 1995 feita pelo Gus e publicada
aqui no blogue e no
Forum Nova Crítica, nasceu a vontade de se fazer uma prova vertical dos vinhos da quinta.
Apesar da atitude deselegante e infeliz da administração do FNC demonstrada na remoção do tópico para uma secção com muito menor visibilidade (apenas mais uma e que explica muito bem porque é que tão poucas pessoas hoje se interessam e participam nesse fórum, mas isso são contas de outro rosário).
Foram-se estabelecendo contactos com os Senhores Condes de Foz de Arouce, proprietários da Quinta e com o Eng. João Perry Vidal, o enólogo, no sentido de nos receberem, ao mesmo tempo que se reuniu um grupo de enófilos admiradores indefectíveis dos vinhos. Após muitas peripécias e adiamentos, ontem dia 22 de Maio de 2010 realizou-se a tão esperada visita à belíssima propriedade.
A partir das 11.00 da manhã, o grupo constituído por 13 pessoas foi chegando ao Paço do século XVIII onde foi sendo muito bem recebido pelos Condes de Foz de Arouce.
A primeira parte do programa consistiu numa prova en primeur dos vinhos mais recentes da Quinta. No belo pátio interior provou-se o branco da colheita de 2009 e o tinto das vinhas velhas de Santa Maria de 2007, ambos ainda em amostra de casco com a prova a ser devidamente conduzida pelo Eng. João Perry Vidal, enólogo da casa. Tábuas de queijos e tapas, para além de aconchegarem o estômago, serviram para mostrar mais uma vez a bela aptidão gastronómica dos vinhos.
Ao fundo viam-se as vinhas da encosta sul...
Depois desta bela prova, era hora de nos dirigirmos ao restautante "A Viscondessa" do Meliá Palácio da Lousã para o almoço e para a prova vertical dos vinhos, mas não sem antes nos despedirmos temporariamente da Sra. Dona Isabel Osório. Infelizmente devido a compromissos pessoais a Senhora Condessa não nos pôde honrar com a sua companhia ao almoço.
O almoço tinha sido previamente marcado (naturalmente) tendo a gerência do Hotel reservado uma bonita sala para o grupo. Relativamente aos vinhos para a prova, cada pessoa levou os que tinha disponíveis nas garrafeiras, tendo o Senhor Conde, o Eng. João Filipe Osório tido a amabilidade de ceder as garrafas de colheitas que nos tinham sido impossíveis de arranjar. Afinal, estamos a falar de vinhos que começaram a ser engarrafados e comercializados a partir da vindima de 1987.
Começou-se por refrescar as garrafas dos brancos. Apenas foi possível provar as das colheitas de 1995, 2003, 2005 e 2006. Quanto aos tintos, abriram-se as garrafas e deixaram-se ao alto, tendo sido apenas ligeiramente refrigeradas antes de serem servidas. Coube ao Eng. Perry Vidal o trabalho de tirar as rolhas às garrafas...
Antes de ser servida a comida provou-se o branco de 1995 que tinha estado deitado uns anos na minha garrafeira e que a maior parte das pessoas nunca tinha provado. Cansado mas não morto, valeu pela curiosidade de provar um branco com 15 anos e do qual tinham sido feitas apenas mil garrafas.
Como éramos 15 pessoas e só havia uma garrafa de cada vinho (o que apenas permitia provar uma quantidade muito pequena) mas muitos vinhos em prova é facilmente compreensível que se tenha optado por ir servindo os vinhos da seguinte forma: primeiro os brancos e depois os tintos e dos mais antigos para os mais recentes. Com dois copos por pessoa foi fácil fazer uma "gestão" individual da prova. Ou seja, era possível ainda estar a provar um vinho quando já se tinha servido outro, em função do gosto pessoal e do alinhamento dos pratos, que foram:
Terrinha de Caça
Bacalhau gratinado com batatas confitadas
Lombinho de porco preto com molho de Porto
Bolo de chocolate com gelado de framboesa
Sobre a comida, não me alongo. Apesar do menú ter sido previamente acordado, pelo que a comida seria preparada de propósito para o almoço, a terrina de caça estava um pouco seca, o toque de vinagre no bacalhau não foi do agrado geral e os lombinhos eram um pouco duros. Também a fruta que adornava a sobremesa estava um pouco seca. Pormenores a que cada pessoa atribuirá um grau de importância diferente mas que não retiraram prazer à prova. E que prova...
Como tinha referido acima, provaram-se quatro brancos. Quanto aos tintos, provaram-se as colheitas de 1987, 1988, 1989, 1990, 1991, 1992, 1993, 1994, 1996, 1998, 2003, vinhas de Santa Maria 2001, vinhas velhas de Santa Maria 2003 em magnum e vinhas velhas de Santa Maria 2005. Catorze vinhos diferentes. Impressionou a forma como os vinhos estavam todos de boa saúde, atendendo a que em relação a alguns era impossível saber as condições de guarda. Por mim destaco o 1991 e os vinhas velhas de Santa Maria 2003 e 2005. O 1988, o 1992 e o vinhas de Santa Maria 2001 foram mais três vinhos que brilharam num universo onde nenhum vinho defraudou as expectativas. No total foram provados vinte vinhos diferentes, de 1987 a 2009 que resumem a história recente da Quinta de Foz de Arouce.
Não podia deixar de referir a forma entusiástica do Eng. Perry Vidal e do Senhor Conde de irem falando dos vinhos à medida que estes iam sendo provados, nem o interesse do grupo presente em debater assuntos directa e indirectamente ligados aos vinhos em prova. Naturais foram também as referências a João Portugal Ramos, genro dos Senhores Condes e responsável por uma boa parte dos vinhos provados. Destaque ainda para a qualidade do serviço, atento e pronto. No fim do almoço ainda se provou um vinho da Madeira sem rótulo levado pelo Nuno Gonçalves, o que deu origem a reflexões interessantes sobre a idade, castas e método de produção. A rematar, um Dönhhoff Riesling Ausless 2001 em garrafa de 375 ml (ainda deu um fundo a cada) levada pelo João Rico que serviu para brindar a uma prova épica.
Na volta ainda passámos na loja da quinta, onde tivemos a oportunidade de comprar alguns vinhos a preços muito interessantes e de nos despedirmos da Senhora Condessa de Foz de Arouce com um sorriso nos lábios e uma enorme vontade de voltar em breve.