quinta-feira, 26 de maio de 2011

Prova de Vinhos @ Garrafeira Tio Pepe



Já conheço a Garrafeira Tio Pepe há alguns anos e como trabalho muito perto e é sítio de passagem na volta a casa, acabo por parar lá de vez em quando. Bom ambiente, excelente atendimento da Ana Ferreira e do Luís Candido, preços correctos e muitas referências de vinhos tornam-na na minha garrafeira de eleição (embora compre menos do que desejaria) e quando há provas, gosto de ir. Provar vinhos novos, falar de vinhos e de tudo o mais e aprender sempre alguma coisa.   


E nesta quarta feira, houve uma prova, com novidades e sem (aparentemente) um tema específico. Dezasseis vinhos em prova e uma surpresa. Os vinhos aparecem listados e com um pequeno comentário sobre os que provei:


Portas do Tejo tº 2009
Portas do Tejo bº 2010
Grou tº 2006 - Muito agradável, talvez o melhor tinto em prova. Alentejano puro e duro com frescura à mistura, o que o torna uma tentação, apesar do preço, a rondar os € 30,00.
Povoação tº 2010
Dócil Loureiro bº 2010 - Um Loureiro de Dirk Niepoort. Elegante e muito bem feito, é a prova provada que os vinhos da região dos Vinhos Verdes ainda estão a crescer, mas já dão coisas muito boas.
Crasto Superior tº 2009 - Um Crasto do Douro Superior. Cheio e pleno (passe o pleonasmo) é um vinho que precisa de comida por perto.
Ponte das Canas tº 2008 - A segunda marca do Mouchão. Alegre, prazenteiro, complexo, pediu meças ao Grou, apesar de custar pouco mais de metade do Preço.
Quinta do Rio Távora Reserva bº 2009 - Um branco duriense correcto e agradável e que também pede comida.
Zéfyro bº 2010
Canto V bº 2010
Zéfyro tº 2008
Canto X tº 2008
Bagaboa bº 2010
Bagaboa tº 2008
Domingos Soares Franco Coleção Privada 157 Castas tº 2010 - 157 castas é muita casta. A brincar, podia perguntar-se se falta(m) alguma(s) castas ou se tem alguma(s) a mais. Interessante e curioso, talvez precise de tempo em garrafa e de comida por perto para melhor se mostrar. 
Domingos Soares Franco Coleção Privada 208 Castas bº 2010 - 207 castas é um ror de castas que compuseram um vinho complexo e algo misterioso, com a madeira muito bem doseada e a pedir algum tempo e concentração. Pode melhorar em garrafa.


E a surpresa da prova foi este Alvarinho Pequenos rebentos, do Eng. Márcio Lopes, que trabalhou com Anselmo Mendes. Cítrico e com algum vegetal, fino, sem a exuberância aromática que caracteriza alguns Alvarinhos (e que AM procura não explorar) mas com frescura, acidez e alguma mineralidade que me deixaram a sonhar com um robalo de mar assado no forno enquanto o estava a provar. E proposto a um preço de € 8,50 para uma produção de 4.000 garrafas.

Em suma, um muito agradável fim de tarde. E tenho que agradecer ao meu amigo e colega, o Arq. Gabriel Andrade e Silva, por me ter cedido as duas primeiras fotos, já que as que tirei, ficaram muito más.  



quarta-feira, 25 de maio de 2011

Aligot na 29ª Trilogia, a da Batata

Na região francesa de Auvergne, faz-se um preparado magnífico à base de puré de batata e queijo Laguiole (ou Cantal) antes de afinado, incorporando perfeitamente o queijo no puré até dar uma massa elástica e espessa.

Foi com esta frase que o Eng. José Bento dos Santos apresentou o Aligot que provou num jantar no Restaurante D. O. M. de São Paulo e do chef Alex Atala, considerado o 11º melhor restautante do mundo em 2011 e que descreveu na Revista de Vinhos deste mês. O Aligot de Atala é feito com um queijo brasileiro.

O melhor Aligot da minha vida. Uma textura inconcebível, uma massa firme e elástica, um sabor especial, íntimo, guloso que não apetece parar de comer.

Assim continua JBS a falar do Aligot de Atala. E até dá uma receita adaptada a Portugal: 600 gr de laminas de queijo da ilha não afinado (curado) para um quilo de puré de batata emulsionado com manteiga e finalizado com leite. Junta-se o puré e o queijo num tacho em banho maria e bate-se energicamente com uma colher de pau até obter uma emulsão com a consistencia desejada. É de referir que no D.O.M. o Aligot é servido entre o ultimo prato de carne e a sobremesa nos menus de degustação.


O meu foi algo abastardado, já que não se consegue arranjar queijo da Ilha com menos de 3 meses de cura, no mercado. Fiz um puré de batata com um pouco de manteiga das Marinhas e leite meio gordo a que juntei queijo da Ilha de 3 meses de cura cortado em laminas finas. Prescindi do banho maria e fiz o Aligot num tacho de fundo grosso na posição 1 da vitroceramica e num disco mais pequeno que o tacho. Bati até obter uma massa consistente e servi em bolinhas. Com uma salada verde e um copo de Boas Vinhas branco (o do post anterior) foi o meu jantar.


Um prato algo inusitado e que eu não conhecia e que acabou por ser um belo mote para o devido cumprimento da Trilogia nº 29, com a Ana e o Luís, cujo tema foi a batata.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Boas Vinhas Dão Branco 2010

Nuno d’Orey Cancela de Abreu licenciou-se em Agronomia pelo Instituto Superior de Agronomia de Lisboa em 1980. Posteriormente fez uma pós-graduação em Viticultura e Enologia na Escola Nacional Superior de Agronomia de Montpellier, França.
Entre 1981 e 1987 exerceu a função de Director Executivo da Associação para o Desenvolvimento da Viticultura Duriense. De 1985 a 1987 foi professor de Vinificação, Tratamentos e Estabilização de Vinhos no Curso Superior de Enologia da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
De 2001 a Julho de 2010 acumulou as funções de director do Departamento de Enologia e administrador da Quinta da Alorna.
Em Agosto de 2010 volta a sua atenção para o seu projecto pessoal no Dão onde produz as marcas Quinta da Fonte do Ouro, Quinta da Giesta e Boas Vinhas. (daqui).

E este Boas Vinhas branco de 2010 é mais um dos vinhos que custam € 2,99 nas prateleiras das grandes superfícies. Um vinho de combate, para o dia a dia, feito com Encruzado e Cercial, sem madeira. Cítrico, fresco e com acidez média, é um vinho que pede decantação para abrir e uma cuidada temperatura de serviço, já que à medida que vai aquecendo começa a ficar para o pesado. Agradável, bem feito e fácil de beber, é uma boa escolha, ao preço.

Acompanhou muito bem uma humilde salada de atum com feijão frade e um pouco de maionese acolitada com alface temperada com flor de sal, uns pingos de sumo de limão e bom azeite.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

28ª Trilogia, a do Queijo | Bife com Molho de Queijo das Ilhas

Esta semana, para a trilogia de receitas, a Ana propôs-nos, a mim e ao Luís, o queijo como tema. Resolvi reeditar o clássico bife com molho de Roquefort, mas aqui substituindo o queijo de ovelha por um de vaca, o queijo da Ilha de São Jorge feito com leite próximo do que alimentou a vitela que cedeu parte do pojadouro para o bife. Grelhei rapidamente o bife na grelha e reservei-o num prato aquecido, depois de o temperar com sal e pimenta. Entretanto, fiz o molho. Manteiga, natas e o queijo ralado em lume baixo. Fui mexendo até obter uma mistura homogénea. Deitei o molho num prato, o bife por cima e uma mini torre de batatas fritas em rodelas. Simples e eficaz. Gostei muito deste molho. 

E para a semana teremos nova trilogia, a mando do Luís.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Quinta das Bágeiras Garrafeira Tinto 2005 | Leitão à Moda da Bairrada



O Quinta das Bágeiras Garrafeira tinto é um dos grandes vinhos Portugueses. Um Baga extreme da Bairrada, concentrado, duro e longevo, feito a partir das melhores uvas da quinta e lançado apenas nos melhores anos. Este 2005, do qual se produziram 6676 garrafas, tem 20% de Touriga Nacional proveniente de uma vinha com 15 anos, sendo o restante Baga, de vinhas muito velhas. Nem sei bem o que dizer, tinha provado o vinho há pouco tempo e achei-o francamente bom, mas desta vêz, com mais atenção achei-o sublime. A Touriga vem apenas afinar o vinho, continuando a Baga a ser omnipresente. Poderoso é um adjectivo razoável para descrever este "monstro" da Bairrada... Um vinho que entra facilmente no meu top-ten, como tinha entrado o sublime garrafeira 95. E com uma relação qualidade/preço (cerca de € 25) assombrosa. Nota pessoal: 18.

Este foi o texto que escrevi há pouco menos de 2 anos quando aqui falei pela primeira vez deste vinho do Mário Sérgio Alves Nuno. Agora voltei a provar o vinho, mas noutras circunstâncias. Mudou o formato e a garrafa passou a Magnum, a nº 159 das 2134 produzidas (e com um preço a rondar os € 50,00). O vinho está apuradíssimo e continua mais que pronto para viver anos na garrafa, mas a dar já um enorme prazer a beber nesta altura.
A maior virtude das magnuns será mesmo a bondade com que deixam o vinho evoluir mais lentamente do que as garrafas de 0,75 l, mas isso não obriga a abrir uma magnum apenas quando o vinho das garrafas normais está "cansado". Num jantar especial, numa comemoração, tudo é um bom motivo para partilhar as garrafas deste formato que se estranha apenas até se entranhar... E este vinho, seis anos após a colheita e quatro após o engarrafamento deixa adivinhar longa longevidade (passe o pleonasmo) e muitos anos de absoluto prazer para qualquer enófilo. É uma daquelas garrafas de compra obrigatória para comemorar o 20º aniversário de um filho que tenha nascido em 2005.   


E sendo um dilecto filho da Bairrada, feito com a mal amada Baga e a Touriga Nacional da moda, mas à moda antiga, sem desengaces e sem meias pipas de madeira nova, mas antes velhos tonéis, é um dos vinhos que se mariada muito bem com um leitão, bem escolhido e bem assado, por quem o saiba assar. Acolitado com umas batatas cozidas com pele e uma salada fresca, desde que o leitão seja supremo, este vinho lá estará para o acompanhar. Talvez daqui a uns dez anos prefira uma chanfana e daqui a vinte uma perdiz estufada, mas isso são contas de outro rosário.  


(E deixo uma Receita Conventual de 1743, compilada por António de Macedo Mengo)
"Pelado e aberto por uma ilharga, se lhe tirem as tripas e a fressura... e também picarão toucinho e umas cabeças de alho, cravo inteiro e pizado, pimenta inteira e pizada, cuminhos, sal, folha de louro, um pouco de vinho e algum vinagre. ...Mexa-se tudo isto muito bem, e se metta dentro do leitão, de sorte que não leva môlho; e cosendo a abertura, espetarão o leitão em espeto de pau, e o untarão com manteiga de porco.
Isto feito, ponha-se a assar, que será devagar, e emquanto se for assando se tirará fóra algumas vezes para tomar ar e côr. E, quando começar a levantar empollas na pelle, se lhe irá dando com um panninho molhado com água e sal.
Quando estiver assado, o que commummente leva duas horas, terá então os couros bem córados e vidrentos; e logo se porá na ponta de um espeto um pedaço de toucinho, que assando-o se irá pingando com elle o leitão. E depois de bem pingado irá á mesa, servindo-se com laranja, pimenta e sal."

sábado, 14 de maio de 2011

Alento Tinto 2008 | Lombo de Porco com Osso Assado no Forno

Apesar da formatação dos vinhos, a que não é alheio o negócio da grande distribuição, ainda vamos tendo alguns produtores que apostam em vinhos com carácter e que não vão atrás das modas. E no Alentejo, creio que a moda ainda passa pelos vinhos com fruta bem madura/compotada, madeira para afinar a coisa, muito álcool, muito corpo e um toque de doçura para agradar ao público em geral. Mas esta será a regra confirmada por muitas excepções, como o prova este Alento tinto de 2008.
Feito em Estremoz por Luís Viegas Louro (filho de Miguel Louro, o prestigiado produtor da Quinta do Mouro) com Aragonês, Trincadeira, Alicante Bouschet e Touriga Nacional, tem enfoque na fruta madura mas sem compotas, uma acidez viva e alguma frescura que o tornam muito agradável e nada pesadão. Os 14º de álcool não incomodam nada, desde que se tenha um mínimo de cuidado na temperatura de serviço (16º C). Sem madeira (?) ou com muito pouca, é um vinho simples mas muito bem feito, feito para brilhar à mesa. Por cerca de € 5,00 tem-se um vinho muito interessante a merecer prova.


Acompanhei-o com um naco de lombo de porco com osso no forno e respectivas batatas que se mostraram uma excelente companhia para o vinho.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Trilogia 27, a das Entradas

"Os aperitivos são para excitar os apetites e não para os satisfazer".
Alfredo Saramago


Nesta trilogia com a Ana e o Luís, propus um tema mais que versátil sob o ponto de vista da liberdade criativa e ao mesmo tempo relativamente ausente da maioria das refeições: as Entradas.
Com efeito, é relativamente raro abrir-se uma refeição normal em casa com uma entrada. Sopa, às vezes, um prato e uma sobremesa (uma peça de fruta?) são a santíssima trindade da maioria das refeições. Exceptuam-se alguns restaurantes que enfiam tantas entradas na mesa que se se quiser provar todas já não sobra espaço para mais nada. É pedir um café e a conta, claro. E exceptuam-se almoços ou jantares de festa ou mais elaborados. E nos jantares feitos para provar alguns vinhos, as entradas servem na perfeição para serem degustadas enquanto os brancos refrescam e os tintos arejam. Com tanta excepção fiquei sem saber bem qual é a regra e se a mesma se confirma.

Para a trilogia 27, a do 3 ao cubo, resolvi fazer uma entrada tripla composta por preparações saborosas, de fácil preparação e que pudessem agradar a gregos e troianos, sem dar cabo do palato para o resto da refeição e que além disso, acompanhassem bem uma flute de espumante.

Comecei por enrolar os bordos de uma base de massa folhada, montada sobre uma base que iria dividir a superfície da mesma em três e levei ao forno quente 210º C até dourar ligeiramente.


Depois foi fazer as preparações. A primeira é um clássico, ovos mexidos com salmão fumado. Ovos ligeiramente batidos, manteiga numa sertã com lume muito baixo, deita-se o salmão partido em pedaços pequenos, juntam-se os ovos, tempera-se com sal e pimenta branca e, querendo, adicionam-se natas batidas. Vai-se mexendo e quando os ovos estão cremosos mas não secos, retiram-se do lume e servem-se imediatamente.


A segunda preparação foram uns cogumelos shiitake salteados em azeite com um pouco de alho picado, hortelã e salva a que juntei no fim algumas ameijoas. Por fim, uma salada feita com alface roxa, tomate cereja, queijo fresco em cubos, temperada com um pouco de flor de sal e um fio de bom azeite.


Estas entradas, servidas assim, sobre a base de massa folhada, ganham uma versatilidade inusitada. Por um lado podem-se servir em formato individual, mas também podem ser servidas em formato maior para mais do que uma pessoa. E já agora, querendo-se, pode sempre comer-se a massa folhada. Para acompanhar, uma flute de espumante. Este Fita Azul Attitude Bruto Reserva, da Casa Borges é uma boa opção. Há anos que estes espumantes deixaram de ser os espumantes de casamentos e baptizados. Bem feitos e com uma boa relação qualidade/preço (este custa cinco Euros) são um bom motivo para se beber bolhinhas em mais ocasiões para além de aniversários, casamentos e a passagem do ano. E para a semana há mais, desta vez sobre tema a propor pela Ana.

sábado, 7 de maio de 2011

Prova Colinas de São Lourenço @ Garrafeira Tio Pepe

Carlos Dias comprou as "Colinas de São Lourenço" e está a produzir vinho e azeite nesta propriedade de 65 ha em São Lourenço do Bairro, na Bairrada. Depois de ter feito da marca de relógios Roger Dubuis uma das mais prestigiadas a nível mundial é de esperar que daí saiam grandes vinhos. Para completar o portfólio, tem ainda a Quinta da Pedra, situada perto de Braga, na Região dos Vinhos Verdes. No passado dia 4, Carlos Dias veio à Garrafeira Tio Pepe apresentar os seus vinhos, com Enologia de Marta Ágoas e tendo Anselmo Mendes como Enólogo Consultor.



A prova começou com os vinhos da gama de entrada, os Colinas, na versão branco, rosé e tinto. Simples e bem feitos, serão boas apostas para o dia a dia.


A seguir, uma agradável surpresa, o Royal Palmeira "Sur Lies Fines" Loureiro 2009. Um Loureiro muito bem feito e apresentado num conjunto garrafa/rótulo muito elegante.


Hora de passar à gama Principal. Um Branco de 2009 feito com Chardonnay e Arinto muito bem casados. Elegante e mineral, com boa acidez, é um belo vinho. O Rosé "Tête de Cuvée", também de 2009, é feito com Pinot Noir. Muito elegante e fresco, é um belo rosé. Nos tintos, o Principal reserva 2007, feito com Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon e Merlot, agradável e equilibrado. Destaque para o Grande Reserva 2006. Feito com as mesmas castas do 2007, está um tinto elegante e concentrado, muito apetecível. Nota-se a preocupação em fazer vinhos com baixo teor alcoólico e pouco marcados pela madeira.



Como complemento, ainda se provaram dois brancos de 2010 em amostra de casco, um Loureiro e um Alvarinho da Quinta da Pedra.


Em síntese, um projecto consistente e um portfólio de vinhos bastante interessante.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Quinta da Covada Tinto 2009 | Arroz de Galinha no Forno

Nestes 89.000 quilómetros quadrados que restaram do Império, muito se foi perdendo e não foi só nos idos de 1974 e seguintes. Terá sido em 1985/6 quando virámos as costas à nossa vocação Atlântica e nos virámos para a CEE, como se a Europa nos pudesse dar alguma coisa. Um quarto de século foi suficiente para destroçar as incipientes indústrias, agriculturas e pescas do antigo regime, que foram bem pagas para desaparecerem.
A nova ordem da distribuição alimentar mudou, o comércio tradicional quase desapareceu, absorvido pelas grandes superfícies que foram aparecendo sem regras, nem rei, nem roque.
O Portugal, pequeno e periférico que até tinha piada como destino turístico para alemães e finlandeses (e demais europeus de primeira) foi largamente financiado. Emprestaram-se milhões e milhões de milhões, de ECUS e depois de EUROS para tudo e mais alguma coisa, como auto-estradas e demais infraestruturas. E tudo parecia correr bem, até o rectângulo ter gasto todo o dinheiro. Pavilhões desportivos, piscinas, museus, teatros, bibliotecas e rotundas, muitas...

E a agricultura a definhar. Talvez se tenham salvo dois produtos, desta razia dos subsídios para não produzir: o vinho e o azeite. E o vinho está muito formatado, a pedido dos gestores das grandes superfícies que precisam de assegurar quantidade para abastecer todos os pontos de venda e uma qualidade que agrade ao cliente-tipo. Do azeite, está cada vez melhor, valha-nos isso (e não será de estranhar que no além-tejo os nuestros hermanos já o produzem aos milhões de litros).

Mas nem todo o vinho é formatado e ali para os lados de Tabuaço há uma Quinta, a da Covada, que tem um jovem Enólogo, o João Lopes Pinto que gosta de fazer o vinho do seu gosto, com as vinhas de que dispõe. E para além de dois belos "reservas", o de 2007 e o de 2008, o Desnível e um varietal de Touriga Nacional, lançou um colheita de 2009, feito com uvas provenientes de duas vinhas, uma com 40 anos e outra com 17 e com cepas de Touriga Nacional, Tinto Cão, Tinta Amarela, Tinta Barroca e Rufete. Parte do vinho estagia em madeira e o resultado é um vinho pouco marcado pela madeira, com boa fruta e aromas de mato, fresco, genuíno duriense. Ao preço (pouco mais de 3 euros) é uma bela surpresa. É pena quase não se encontrar à venda (esta garrafa foi gentilmente oferecida pelo produtor).      

Para acompanhar este vinho, resolvi ensaiar um arroz de galinha, feito quase como o nosso arroz de pato no forno. Cozi uma galinha numa panela com água, sal, um toco de chouriço, uma cebola, uma folha de louro e um pouco de pimenta preta moída. Quando a galinha estava cozida, limpei-a de peles e ossos e desfiei a carne grosseiramente. Num tacho, deitei um fundo de azeite, cebola picada, alho esmagado e deixei em lume médio até a cebola ficar translúcida. Juntei um pouco de polpa de tomate e deixei mais uns minutos. Acrescentei a galinha, um pouco de vinho tinto e deixei a estufar em lume brando. Juntei arroz carolino e água a ferver (3 partes de água para uma de arroz) e deixei o arroz ficar meio cozido. Passei o conteúdo do tacho para um tabuleiro de barro e guarneci com o chouriço em rodelas. Levei ao forno pré aquecido a 210º C para deixar o arroz acabar de cozer e servi, com uma salada verde à parte. 

quarta-feira, 4 de maio de 2011

26ª Trilogia e uma Francesinha

Nesta 26ª trilogia, o tema sugerido pelo Luís, foi o pão. E a notícia de que a francesinha tinha sido eleita pelo Aol Travel como uma das dez melhores sanduiches do mundo, foi o mote para a minha contribuição para esta trilogia.


Francesinhas há muitas, desde as tradicionais que levavam carne assada fatiada, passando pelas que levam molho de marisco até às do desenrasca em qualquer café manhoso ou mesmo as que se fazem em casa, com molho de compra. Muitos segredos e muitos mitos tem a francesinha e o seu molho. Esta foi feita honestamente a recriar uma francesinha que se pode comer em qualquer café da Invicta. O molho foi feito com um fundo de azeite num tacho, a que juntei alho e cebola picada. Deixei refogar até a cebola estar macia e juntei polpa de tomate. Deixei mais um pouco em lume médio e juntei cerveja ao molho. Juntei uma folha de louro e também um cubo mágico de carne para não deixar que o molho ficasse muito diferente dos do café ou da cervejaria. Mantive aquele sabor artificial do caldinho. Depois foi temperar com sal, pimenta e malagueta e deixar reduzir em lume brando. Nas carnes usei um escalope de vitela que grelhei rapidamente e salsichas (Nobre, de frasco) que salteei em óleo, para além do incontornável fiambre. Depois foi montar a francesinha. Uma fatia de pão de forma, uma fatia de fiambre, o escalope de vitela, outra fatia de fiambre, as salsichas, outra fatia de fiambre e uma fatia de pão. Depois foi cobrir com queijo flamengo, regar com o molho e levar ao forno uns minutos.


Assim se cumpriu mais uma trilogia, com a Ana e o Luís. Para a semana há mais...

Bacalhau à Conde da Guarda | Aneto Reserva 2009

O Bacalhau à Conde da Guarda não é novidade aqui no blogue. Com efeito, desde que o Prof. João Vasconcelos Costa lhe fez menção, já lá vão quatro anos, que esta preparação se tornou numa das minhas preferidas. Pela execução, simples, pelos ingredientes (ou a falta deles) que espantam e acima de tudo pela delicadeza do resultado final, ou não fosse esta preparação ter saído das mãos sábias de Mestre João Ribeiro. Na verdade a preparação é de uma simplicidade desconcertante e que passo a descrever (com procedimento adaptado e algo diferente do referido pelo Prof. JVC):

Cozem-se 250 gramas de batatas e escalfam-se 350 gramas de bacalhau (creio que será assim uma proporção de 50% de cada, depois de se tirar as peles e as espinhas ao bacalhau). Reduzem-se as batatas a puré num passador, limpa-se o bacalhau de peles e espinhas e pisa-se num almofariz, juntamente com uns dentes de alho (quantidade? não se sabe, mas deverá ser comedida, sob pena de se sobrepor aos restantes sabores). Deita-se uma generosa quantidade de manteiga (duas colheres... serão de café, de sopa? e que manteiga, da mais barata ou valerá a pena usar a fantástica manteiga das Marinhas?) no fundo dum tacho e junta-se o bacalhau alhado e almofarizado (porque esmagado no almofariz) com o alho e as batatas já em "puré" e calmamente incoporpora-se 1/3 de litro de natas (natas mesmo, que os preparados de natas com aromas de qualquer coisa e que se dizem para carne, peixe ou tartarugas só servem mesmo para colmatar as falhas na cozinha e o deficiente sentido do gosto. Quando a mistura se revelar homogénea, é hora de temperar com sal, pimenta e noz moscada (e das quantidades, não se sabe, manda o pobre do sentido do gosto acolitar a gosto, que Mestre João Ribeiro não terá divulgado as quantidades). Transfere-se a mistura para uma assadeira e polvilha-se com queijo. Nas minhas primeiras experiências, rejeitei o queijo, por achar que não iria trazer grande mais valia à preparação, mas posteriormente, ensaiei com queijo ralado de São Jorge (pouco, para não dominar o prato) e com queijo da Serra estrelada (também comedidamente). Falta o parmesão, também denominado por parmigiano reggiano por quem confunde queijo com atum e que foi até  o escolhido pelo Luís numa das nossas trilogias...
Dizer que esta é a milionesima primeira receita de bacalhau é pouco. Por mim, está no top five...       



E um prato delicado como este, merece um grande vinho, de preferência, branco e com madeira. Escolheu-se o Aneto Reserva 2009, uma criação de Francisco Montenegro, Autor do Bétula e dos Anetos.
FM parece ter uma especial vontade de fazer grandes vinhos bancos no Douro e e está a conseguir. Este Aneto custa cerca e € 15 e é bem capaz de ser outro campeão na relação qualidade/preço. Feito com Semillon, Arinto, Viosinho e Gouveio, tem 13,5º de álcool.

Solo fortemente granítico, de fertilidade muito pobre Clima: microclima de transição Mediterrânico - Atlântico. Data da vindima: primeira semana de Setembro Vinificação: vindima manual em caixas de 15 Kg. Triagem em tapete. Esmagamento e prensagem suave. Fermentação muito lenta a baixa temperatura (14ºC) Estágio: metade do lote fermentou em barricas novas e usadas de carvalho francês com posterior agitação das borras, semanalmente. Engarrafado em Maio de 2009.
Cor: citrina com reflexos esverdeados Aroma: exuberante e muito elegante, a sésamo, tropical e mineral, bem casado com a baunilha das barricas Sabores: bom volume na boca, pleno de bons sabores e acentuada acidez; final muito longo e delicado. Temperatura de serviço: 12 ºC  (daqui).


segunda-feira, 2 de maio de 2011

Another Big Day - Baga Friends @ Quinta de Nápoles


Dia 30 de Abril de 2011 pela manhã. Tempo fresco. De Viseu até à Régua e depois pela estrada ao longo do Douro que liga a Régua ao Pinhão. Logo após a saída para Armamar, aparece a Adega da Quinta de Nápoles de volumetria sóbria, revestida a xisto e muito bem integrada na paisagem envolvente. É estacionar minha gente, que lá dentro, passam-se... coisas. 



Desde logo a sala de recepção, uma recuperação de uma edificação de dois pisos a que se retirou o piso de cima, deixando o volume com um pé-direito duplo onde se distribuiram os dísticos com o nome dos convidados e um copo de prova a cada.


Dessa sala acede-se a duas mini "caves" climatizadas, feitas pela Cave do Vinho e onde repousavam muitas garrafas da Niepoort. Interessante o conceito, para quem quer uma cave em casa e dispõe de pouco espaço. 


Dessa mesma sala de entrada, descem-se umas escadas e acede-se à adega. O corredor de ligação tem um monte de chaves penduradas. Pitoresco...


Já na Adega, as provas começaram pelos Baga Friends.


Filipa Pato, recentemente eleita a "Newcomer of the Year" pela revista Der Feinschmecker, a mais prestigiada publicação alemã na área gourmet. De destacar os brancos Nossa 2009 e o fantástico Nossa 2008 em magnum, bem como o seu espumante 3B.


Logo ao lado, Luís Pato com os seus vinhos. Destaque para o belo espumante Vinha Formal, para o Vinha Formal (branco) 2005 em magnum e para o Vinha Barrosa 2001, de que tinha dado nota aqui.  


Mário Sérgio Alves Nuno, que nos deu a provar o excelso Quinta das Bágeiras Garrafeira Branco 2009, um vinho que estará ao nível dos seus irmãos de 2004, 2005 e 2007. Aqui, ao lado do Sr. Simões (à esquerda), o obreiro do magnífico almoço que fizémos nas Bágeiras há um ano atrás. Em muito bom nível, naturalmente, os seus espumantes e a má notícia do dia (do ano?): não vai haver Quinta das Bágeiras Garrafeira tinto 2007. Depois do fabuloso 2005 e dada a grande qualidade dos tintos de 2007 era de esperar algo de superlativo nas Bágeiras...



A seguir, uma prova, para mim, en primeur. Os vinhos do Buçaco são míticos desde que José dos Santos os começou a lotear (a partir de vinhos comprados a produtores da Bairrada e do Dão) e a guardar nas caves do Palace Hotel do Buçaco. São vinhos que apenas se podem provar no Palace Hotel do Buçaco, no Grande Hotel da Curia e no Hotel Astória em Coimbra. Os brancos em prova, de 2001, 2003 e 2007 surpreenderam pela elegância e pelo potencial de guarda. Feitos com Bical e Maria Gomes da Bairrada e Encruzado do Dão, demarcam-se pela diferença. Os tintos, feitos com Baga e Touriga Nacional não os cheguei a provar, mas mereceram rasgados elogios.

Dos restantes Baga Friends, Kompassus, Quinta da Vacariça e Sidónio de Sousa, acabei por não provar nada, ficando a lamentar ter perdido a oportunidade de provar o Sidónio de Sousa Garrafeira 2005, um dos ícones contemporaneos da Bairrada e que não será reeditado, uma vez que a vinha foi arrancada.

Dos Baga Friends, passei aos Douro Boys (Niepoort, Quinta do Vallado, Quinta do Crasto, Quinta do Vale Dona Maria e Quinta do Vale Meão) destacando o Meandro 2009 em amostra de casco e o já mais que aclamado Quinta do Vale Meão 2008 de Xito Olazabal, bem como o Quinta do Vale Dona Maria e o VT de Cristiano Van Zeller.

Hora de passar aos  amigos "estrangeiros" presentes...  


Domaine Rulot e os Mersault, dos melhores brancos da Borgonha. Fantásticos, cativantes.


Jean Marc Rulot, a servir os seus Mersault.


Da Borgonha para a Alemanha e para os Riesling de Mosel, pela mão de Wilhelm Haag.


Vinhos Fritz Haag em prova. É fácil ficar fã e muito, muito difícil deixar de o ser.


De Mosel a Campagne, oportunidade para provar os R&L Legras. Excelentes. 


Schloss Gobelsburg, Austria. Riesling e Gruner Vertliner. A mineralidade que veio do frio. 


O Schloss Gobelsburg by João Roseira: vinde probar, que este tem Goubeio...


Michael Moosbrugger a servir os seus Schloss Gobelsburg.


Ainda de volta à Borgonha, Domaine Rousseau, com Eric Rousseau a dar os seus vinhos a provar.



De Espanha, Telmo Rodriguez. Fiquei fã do Verdejo e do Matallana 2005.


João Rico a dar a provar o vinho da casa.


Para além dos produtores com vinhos em prova, estiveram presentes alguns outros, como o Eng. Mota Capitão, da Herdade de Portocarro.


Jorge Moreira, o Autor do Poeira, aqui em conversa com o Gus acerca do Poeira 2004 que se tinha bebido na véspera, ao jantar.


Álvaro de Castro. Palavras para quê?


Jorge Moreira (again) aqui com Xito Olazabal, enólogo do Vallado e do Vale Meão e enólogo do ano da Revista de Vinhos.

Depois das provas começou a ouvir-se falar em ostras. Uns debandaram outros não...




Os vinhos do almoço estavam a refrigerar.



O Chef Rui Paula já estava na cozinha a maestar o almoço...


As ostras (parece que) desapareceram num ápice (não sei que não as provei).


Assalto à paleta e demais embutidos. Foi pena não haver Navazos para acompanhar.


Primeiro prato do Chef Rui Paula: Açorda de Robalo.


Coxa de pato confitada sobre espargos e puré.


A sobremesa, um cilindro de maçã com crocante de canela e gelado.


No fim do almoço, pausa para descontrair, antes do café e de alguns fortificados (gostei muito do moscatel Niepoort 1977).


Dirk Niepoort, o anfitrião.


Cheers :)


Também há Douro assim. Grande dia.