Sou fã incondicional do Mário Sérgio Alves Nuno e dos seus estranhos vinhos. Quando a maioria dos vinhos que saem para o mercado estão mais do que prontos para beber, quase todos os novos das Bágeiras estão quase feitos e sempre a pedir cave e descanso e alguns velhos brilham muito. Se actualmente, poucos produtores usam o termo garrafeira nos tintos, nos brancos só há um, o Mário Sérgio e mais nenhum. E os brancos garrafeira das Bágeiras são fantásticos. E os tintos, também.
O primeiro garrafeira tinto saiu da colheita de 1991. Depois, em 1994, saiu a segunda edição, na altura com duas ou três versões diferentes. 1995 deu um ícone à Bairrada e 1997 foi a quarta edição. Volta a sair em 2000, 2001 e 2003 e em 2005 leva com um pouco de Touriga Nacional e aparece um portento de concentração. Depois desse 2005 é lançado o 2004, mais cordato. Em 2007, ano de belos tintos, estranhamente, não saiu garrafeira. É em 2008 que o Mário volta a editar o garrafeira, agora de novo extreme de Baga, com 7212 garrafas.
Não é um vinho fácil, embora me tenha parecido o melhor garrafeira para beber em novo. Tem uns razoáveis 13,5º de álcool e taninos sólidos, mas já dá boa prova, embora daqui a uns cinco ou dez anos esteja melhor. Madeira usada, frutos vermelhos e alguma mineralidade. É um vinho que pede calma, paciência e bons tratos, embora não esteja muito bruto. Pede mesa com pratos fortes e segundo o João Paulo Martins, que o (a)provou e lhe deu 17,5 valores na ultima edição da RV, vai bem com vitela estufada em vinho tinto.
Optei por um naco da pá de vitelão nacional feito no forno em tacho de barro. Cobri o fundo do tacho com bom azeite, juntei banha de porco, alho esmagado e laminado, uma folha de louro e a carne em pedaços. Adicionei umas rodelas de chouriço, pimenta preta em grão e moída, sal e vinho tinto (bom e da bairrada) e levei ao forno pré aquecido a 200º C. Deixei ficar meia hora, baixei a temperatura do forno para os 170º C, virei a carne e deixei assar mais uma hora, voltei a virar a carne e deixei finalizar com o forno a 150º C, como se faz com a chanfana, durante mais uma hora e meia. Servi com batatas cozidas e bróculos cozidos no vapor das batatas.
A carne ficou de comer à colher e foi boa companhia para este vinho muito especial. Um garrafeira de Baga, distinto, austero, mas brilhante.