terça-feira, 29 de junho de 2010

Muros Antigos Escolha 2009, by Anselmo Mendes

Anselmo Mendes é um grande enólogo... Para além da sua actividade como consultor, produz os seus próprios vinhos e na região dos Vinhos Verdes assina vinhos que vão do democrático Alvarinho do Pingo Doce, vendido a € 3,89 até ao vinho a que dá o seu nome, também conhecido por Curtimenta e que é vendido a cerca de € 25,00 nas melhores Garrafeiras e é um dos grandes brancos Portugueses. Muros Antigos é uma marca que integra dois vinhos varietais, um Alvarinho e um Loureiro e este "Escolha", de lote, feito com Alvarinho e Loureiro. Um vinho que se destacou na prova de vinhos "verdes" brancos da edição deste mês da Revista de Vinhos, tendo sido notado com uns robustos 16 valores.

Creio que ainda poderá haver pessoas que, apreciando vinhos, torçam o nariz aos vinhos da Região dos Vinhos Verdes...

"É preciso andar muito distraido (ou ser muito preconceituoso) para não se dar conta da autentica revolução, na vinha e na adega, que está a mudar a face da região dos Vinhos Verdes. Eu lembro-me perfeitamente do tempo em que, em cada dez Verdes, nove cheiravam a pano de cozinha molhado e o décimo não cheirava a nada. Não foi há tanto tempo assim. E lembro-me de quando era difícil beber um Loureiro com seis meses de garrafa que não estivesse já meio oxidado."

Este excerto do Editorial da RV acima referida, de Luís Ramos Lopes acaba, juntamente com a prova de Vinhos "Verdes" levada a cabo pelo painel da RV por mostrar que os vinhos ditos verdes evoluiram muito e que serão das melhores escolhas para este Verão. Na maior parte das vezes temos vinhos de qualidade propostos a preços muito razoáveis, com muito boa acidez e baixo teor de álcool.

Naturalmente, este Muros Antigos Escolha será uma das melhores escolhas, afinal andam 50.000 garrafas no mercado, vendidas a € 5,49 cada uma. Notas cítricas a fugir do tropical (como Anselmo quis) e muita elegância na boca, uma acidez cristalina e um final risonho. Um vinho de reconciliação com a Região.

Além de dar muito prazer na prova, é evidente a sua aptidão gastronómica. Foi provado a acompanhar uma salada de atum, mas brilharia ainda mais a acompanhar um prato mais elaborado, como um linguado grelhado com molho de manteiga. Grande vinho...

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Variações sobre o Pato com Laranja


Há dias em que apetece ir para a cozinha. Para cozinhar, pensar, descontrair e já agora, fazer o jantar...
Esta preparação foi feita a partir do universal Canard à l' Orange e dum belo estufado do Avental do Gourmet, um dos meus blogues de referência. A ideia era construir um prato com pato e laranja, mas estufando o pato. Comecei por deitar um pouco de azeite e uma cebola picada num tacho. Juntei uma coxa de pato e, em lume forte deixei alourar dos dois lados e também que alguma da gordura da pele derretesse e aromatizasse o azeite. Entretanto a cebola foi alourando e quando estava dourada, baixei o lume. Reservei a coxa de pato e passei o azeite num passador, tendo rejeitado a cebola. Voltei a deitar o azeite no tacho, juntei uma nova cebola, agora picada grosseiramente, vinho branco e um pouco de aguardente velha (usei uma de espumante das Caves São Domingos), bem como um pouco de pimenta preta e, naturalmente, a coxa do pato. Deixei a estufar em lume muito brando durante cerca de duas horas, tendo o cuidado de virar a carne e ir acrescentando água aos poucos, mantendo a consistência do molho. Quando a coxa estava bem macia, retirei-a do tacho e levei-a num tabuleiro ao forno pré-aquecido a 250º C para dourar a pele. Retirei do forno e reservei. Entretando vazei o molho para o copo da varinha e triturei tudo até obter um molho homogéneo, com que reguei o pato na hora de servir. 
Para acompanhar, pensei num puré de batata. Tinha cozido umas batatas que me limitei a desfazer com o garfo. Juntei um pouco de manteiga e doce de laranja amarga. Fui mexendo com o garfo até obter uma papa não totalmente homogénea.
Para completar o prato, umas folhas de rúcula temperadas com um pouco de flor de sal e um fio de bom azeite, servidas à parte. 


Esta preparação, apesar de poder parecer complexa, é na verdade muito simples. O estufado é fácil de fazer, apenas requer tempo e alguma atenção. E vale a pena; a carne fica macia e muito saborosa. No caso da carne de pato, o acompanhamento é bastante importante para cortar algum excesso de gordura. Aqui, a ligação acridoce do doce de laranja amarga com o pato só veio demonstrar porque é que o Canard à l' Orange é um dos clássicos da Cozinha Mundial. Também o toque quase amargo da rúcula ajuda a cortar a gordura. 


domingo, 27 de junho de 2010

Bacalhau à Conde da Guarda | Guadalupe Selection Branco 2009

Enquanto estava a provar o Guadalupe Branco 2009 (post anterior) refrigerei o Guadalupe Selection 2009, um extreme de Antão Vaz da Quinta do Quetzal (enviado pelo Produtor para prova) e situado logo acima desse. A primeira impressão foi de que ganharia em ser arejado, pelo que deitei o vinho num decanter e deixei o decanter no frigorífico. Apeteceu-me provar este vinho com um Bacalhau à Conde da Guarda que é, para mim, uma das melhores formas de preparar bacalhau.

O vinho tem um perfil parecido com o seu irmão "normal" mas parece menos equilibrado na prova. Com comida as coisas mudam de figura e este Guadalupe Selection foi excelente companhia para esta preparação de bacalhau. Um Antão Vaz da Vidigueira desenhado por José Portela com Rui Reguinga. Bom nas notas cítricas e no volume de boca. Final médio e agradável. De realçar a aptidão gastronómica. Nota pessoal: 16.

Guadalupe Branco 2009


A Quinta do Quetzal situa-se na Vidigueira, próxima da Villa Romana de São Cucufate.  Para além dos vinhos branco e tinto Reserva comercializados com o nome da Quinta, tem também a marca Guadalupe. São dois brancos e dois tintos, o Guadalupe "normal" e o Guadalupe Selection. Este branco da colheita de 2009 (enviado pelo Produtor para prova) é feito com uvas Antão Vaz e Roupeiro cultivadas em solo xistoso com acentuado declive. Notas cítricas e algum tropical. Bem na boca, fresco e com muito boa acidez, algum mineral. É um vinho que funciona bem a solo (coisa não muito comum nos vinhos abaixo de 4 €) numa esplanada ou a acompanhar pratos não muito elaborados de peixe e mariscos. Gostei muito. Nota pessoal: 15,5.

sábado, 26 de junho de 2010

Cabrito Assado no Forno | Ouzado 2005

O cabrito (com menos de 4 quilos) preparado no forno deve ser uma das glórias da nossa gastronomia (não digo nem popular nem tradicional). Aparecem preparações do nosso receituário oriundas de quase todas as regiões nessa  grande obra da Senhora Dona Maria de Lourdes Modesto que é a Cozinha Tradicional Portuguesa. Em ocasiões solenes ou de festa, este será um dos pratos mais unânimes, ainda hoje.
Feito à moda do Minho com o seu arroz de míudos no forno ou acolitado com batatinhas na sua assadura (mais ao sul), marinado com ou sem vinho branco, com ou sem pimentão, assado no forno de lenha ou num forno doméstico a gás ou eléctrico é, sem duvida um dos pratos que mais orgulham quem os prepara.

Este foi feito com uma perna e um vão de costelas de um cabritinho, não totalmente certificado (comprado numa grande superfície) e marinado durante 24 horas numa pasta composta por banha de porco, sal, pimenta preta moída no almofariz, alho, louro (uma folha) e um pouco de massa de pimentão. Foi ao forno a 130º C durante umas 3 horas. Depois da primeira meia hora adicionei um pouco de vinho verde branco (AVA, da Quinta da Aveleda) e fui virando a carne de meia em meia hora. Fui regando a carne com o molho. Antes de servir, levei o forno aos 220º C para alourar a carne. Para acompanhar escolhi um duo que para mim acompanha muito bem o cabrito. Batata e couve (de branca a verde) cozidas. 


O vinho escolhido para acompanhar este prato é tudo menos consensual. Daí também o nome... Um vinho feito por um dos mais respeitados produtores Alentejanos e com Enologia de João Melícias. Proveniente da Herdade do Menir, de onde sai o Couteiro-Mor para o Supermercado e o Vale de Ancho para a Garrafeira. Feito na vindima de 2005 com Alicante Bouschet, Cabernet Sauvignon e Syrah. Castas estrangeiras. Estagiou em inox. Saiu há seis meses (mais?) para o mercado. Um vinho improvável para um cabrito. Como é que um vinho que não passa por madeira, é feito no Alentejo com castas estrangeiras e sai para o mercado ao fim de 4 anos acaba por ser uma boa mariadagem? Porque a cor é linda, a fruta é muita e madura qb, os taninos estão redondos e o final é longo e teima em ser persistente. Por 12,50 € é um vinho que proporciona uma experiência interessante a acompanhar comidas. Bela aptidão gastronómica. Nota pessoal: 16,5. 

terça-feira, 22 de junho de 2010

Salada de Camarão, Rúcula Selvagem e Queijo de São Miguel Cura de 9 Meses | Quinta da Alorna Arinto Chardonnay Reserva 2009


Depois de ter provado o Reserva tinto 2007 da Quinta da Alorna, de que dei notícia aqui, abalancei-me a provar o Reserva branco de 2009. Confesso que a ligação de Arinto e Chardonnay nunca me entusiasmou muito, embora tenha dado alguns grandes vinhos por cá (lembro-me do Casa/Quinta de Pancas de 1996 que entrou na lista dos 100 melhores vinhos de 1999 de José António Salvador e que custava 1.250$00 na Garrafeira "Coisas do Arco do Vinho", ali na Galeria Norte do CCB). 
Para provar este vinho, resolvi fazer um prato muito simples... Camarão cozido, queijo da ilha de São Miguel com 9 meses de cura (comprado no Lidl) e rúcula selvagem em salada, com azeite e um pouco de flor de sal...
O queijo da ilha de São Miguel é muito delicado de sabor, mas tem alto teor de gordura que para mim era importante para matar o "amanteigado" do Chardonnay... Coisas das minhas mariadagens.



Na verdade, o uso do queijo de São Miguel na salada ajudou a que o temido (era mesmo só temido) amanteigado do Chardonnay (estagiado em madeira) não acabasse por pontuar totalmente o vinho. Na verdade, não pontuou. Belo equilíbrio com o Arinto e muito bom nas notas de madeira do estágio. Ao preço (5,99 €), é um achado. Nota pessoal: 16,5.

domingo, 20 de junho de 2010

Arroz de Bacalhau


O arroz de bacalhau é uma receita tradicional do Minho e devidamente explicada na Cozinha Tradicional Portuguesa de Maria de Lourdes Modesto. Curiosamente era feito com bacalhau desfiado sem ser demolhado. Este foi feito com um lombo de bacalhau que estava demolhado e congelado. Escalfei-o, reservei a água e desfiz o lombo em lascas. Deitei um pouco de azeite, cebola em rodelas, alho esmagado e deixei em lume espevitado. Juntei polpa de tomate e arroz carolino. Deixei o arroz "fritar" e adicionei a água onde escalfei o bacalhau. Ao fim de dez minutos estava pronto. Acompanhei com o Alvarinho Soalheiro 2009 que continua a ser uma incontornável referência nos brancos portugueses.


sábado, 19 de junho de 2010

Casa de Santar Tinto 2007


Este é para mim vinho muito especial. Quando comecei a provar vinhos, lembro-me dos monocastas (da colheita de 1997) e dos reservas de Santar como dos meus vinhos preferidos nos idos de 2000. Passaram 10 anos, em Santar não se repetiram os monocastas e o colheita "ganhou" mais que uma vez a batalha contra os seus pares comercializados a menos de 4 € na prova anual da Revista de Vinhos. Não é importante que o preço afinal seja de 4,49 € em qualquer supermercado. Na verdade este Casa de Santar (dependendo, naturalmente, do gosto pessoal) até é bem capaz de ser a melhor proposta do mercado, abaixo dos 5 €. Tem, para mim, duas grandes virtudes. Uma é a elegância do conjunto garrafa/rótulo que acaba por marcar alguma diferença no momento da compra e a outra é a aptidão gastronómica deste vinho. É feito com Touriga Nacional, Alfrocheiro e Tinta Roriz e tem 13,5º de álcool. Muito elegante nas notas de frutos vermelhos, marcado qb pela madeira, com taninos finos, dá um grande prazer na prova. Um belo Dão a um belo preço. Nota pessoal: 16. 

Esteve em muito bom plano a acompanhar uma peça de entrecosto de porco no forno com batatas novas. 


quinta-feira, 17 de junho de 2010

Bife da Vazia em Molho de Queijo com Enformado de Batatas Confitadas em Manteiga

Este é mais um bife de café, inspirado nos belos bifes da tradição Lisboeta... Uma fatia da vazia com um dedo de altura foi à chapa bem quente. Esteve pouco mais de um minuto de cada lado, tempo suficiente para dourar por fora e ficar bem rosada (mas não en sangre) por dentro... Acredito que a maior parte das pessoas que passam por aqui passam melhor os bifes, mas quando a carne (ou tchitcha como se diz para lá do Marão) é boa, este é mesmo o melhor tratamento a dar à dita. Vaza-se para a chapa, deixa-se ficar um minuto, vira-se, adiciona-se um pouco de sal marinho (ou flor de sal, aqui justifica-se) e reserva-se (entre dois pratos ou num prato dentro do forno a 70º C).


Entretanto, preparei o molho... Umas gotas de azeite no fundo dum tacho e um dente de alho. Deixei o alho aromatizar o azeite, juntei um pouco de vinho branco (convém que seja bebível, sob pena de estragar a preparação) e depois de levantar fervura adicionei uma fatia de queijo de ovelha (usei Alvelhe, bom e barato), um "ar" de pimenta preta e umas gotas de tabasco. Fui mexendo sempre até derreter o queijo e reduzir o vinho.
Para acompanhar o bife e o seu molho, em vez das naturais batatas fritas, optei pelas mesmas, cortadas em rodelas finas e confitadas em manteiga dentro duma forma de folha de alumínio moldada num copo cilíndrico de whisky. Estiveram meia hora com a forma tapada dentro da cloche. Depois tirei a tampa da forma e deixei alourar por uns minutos.


As batatas preparadas desta forma ficam absolutamente deliciosas e proporcionam um belo momento de degustação. São uma natural companhia para este bife. Para beber pensei num vinho tinto novo do Dão (podia ser o Casa de Santar 2007 que refrigerei) mas acabei por preferir uma Super Bock...

terça-feira, 15 de junho de 2010

Porto Tawny 10 Anos St-Bart

Um tawny de 10 anos proposto a menos de metade do preço dos seus iguais dos produtores institucionais. Custa cerca de 8 Euros nos supermercados Dia. Côr mogno (com laivos de ruby, a denunciar mesmo os 10 anos de idade para ser aprovado pela Câmara de Provadores do IVDP), tem notas de fruta confitada (e pouco mais) e é demasiado fácil (previsível) na prova. Ainda assim, não deixa de ser uma proposta interessante para ter no frigorífico e degustar enquanto se prepara o jantar. Não tem virtudes, mas também não tem grandes defeitos (o maior será ser destinado em grande parte ao mercado francês, aparentemente pouco exigente). Nota pessoal: 14,5.



segunda-feira, 14 de junho de 2010

UBUNTU!! 2008

"Após termos criado em 2002 o primeiro vinho da família dos “Fabulosos”, ao qual demos o nome de “Fabelhaft”, Dirk Niepoort insistiu em escolher um nome distinto para cada mercado, usando a velha máxima “think globaly act locally”, e sobretudo em desenhar um rótulo original para cada país, recorrendo a um cartoonista local para ilustrar uma história adequada aos valores e sensibilidade de cada país e a sua relação com o vinho. “Diálogo”, ”Conversa”, “Allez Santé”, “Drink Me”, “Alonso Quijano” ,”Fabelhaft”… são alguns dos nomes que os “Fabulosos” assumem atendendo à realidade dos mercados a que se destinam, respectivamente Portugal, Brasil, Bélgica, Inglaterra, Espanha e Alemanha. Este vinho simboliza a alegria, a celebração, a boa comida, os bons amigos, a boa vida, um vinho de puro prazer, elegante e que expressa a realidade do Douro.
Este ano, e com a realização do mundial de futebol na África do Sul, lançamos uma edição limitada alusiva a este evento, o UBUNTU!! 2008, um vinho que mantém o mesmo espírito e resulta de um blend de diferentes castas (Touriga Franca, Tinta Roriz, Touriga Nacional, Tinta Barroca e Tinto Cão), um vinho fresco, frutado, com a complexidade de um vinho do Douro e a elegância dos Vinhos Niepoort." (retirado do site da Niepoort).

UBUNTU!! foi distribuido com o Público do passado sábado (por mais € 5,60) e o suplemento Fugas fez 10 anos. Dois motivos para tornarem obrigatória a compra do jornal. E o vinho é muito interessante.




domingo, 13 de junho de 2010

Vitela Assada em Três Gorduras com Cebolinhas | Quinta de Cabriz Reserva 2006

A vitela não aparece muito por aqui por duas ordens de razões. A primeira tem a ver com o facto de raramente entrar no receituário tradicional da região da Gândara, onde (nas carnes) pontuam o porco e as galinhas, pelo que o meu gosto demorou a ser reeducado. A segunda tem a ver com a (baixa) qualidade da carne vendida em talhos e supermercados daqui do Burgo. Por isso quando vou para lá do Marão, em geral aproveito para comprar carne Mirandesa na Origem. Esta foi comprada na loja do tio Belmiro, aquela ao lado do Dragão (Continente do Dolce Vita das Antas) e apenas porque a peça (perna) tinha muito bom aspecto e foi preparada com inspiração na vitela de forno Transmontana a que juntei cebolinhas novas...

 Deitei azeite, banha de porco e manteiga num tabuleiro de barro. Juntei sal, pimenta e uma folha de louro, a carne e cebolas novas descascadas e levei ao forno a 160º C. Fui virando e regando a carne com o molho. Quando estava dourada e as cebolas macias (ao fim de 45 minutos), retirei do forno e servi com uns espinafres cozidos. 


O melhor do prato foi o molho, com as três gorduras a complementarem-se muito bem; a banha de porco a dar a estrutura, a manteiga a dar untuosidade e o azeite a ver jogar. A cebola também esteve muito bem, com aquele sabor acridoce que só se encontra nas cebolas de época (estas vieram do quintal do meu pai e deixam a milhas quaisquer cebolas do mercado). Nota menos positiva para a carne que ficou um pouco seca, apesar do pouco tempo que levou de forno e dos cuidados que tive. Se fosse vitela Mirandesa, ou Arouquesa, ou Barrosã, o prato teria ficado excelente.

Acompanhei a vitela com um vinho que não provava há anos, o Quinta de Cabriz Reserva (aqui na edição de 2006. Situado logo acima do Colheita Seleccionada (que custa 3 € e se deixa beber muito bem) é um vinho que se encontra em qualquer super ou hipermercado (são feitas cerca de 100.000 garrafas) e custa cerca de 8 €. É um vinho sem espinhas, feito para agradar à mesa (desde que o prato seja bem escolhido), com tudo no ponto. Nota pessoal: 16.   


Casa Ferreirinha Esteva 2009


O Esteva é o vinho de entrada da gama da Casa Ferreirinha e um dos vinhos (a par com o Monte Velho da Herdade do Esporão) mais consumidos nesta gama de preços (abaixo dos 4 €). Confesso que nunca me despertou grande interesse, mas com a gradual subida da qualidade dos nossos vinhos, deu-me vontade de provar este tinto da vindima de 2009 oriundo de um dos mais respeitáveis produtores portugueses. É feito com Tinta Roriz, Touriga Franca e Tinta Barroca. Presumo que não tenha passado por madeira. Da edição de 2008, JPM refere o seguinte:

"Muito bem na prova, oferece tudo o que é suposto um vinho do ano oferecer: fruta, frescura, facilidade de prova, boca macia mas com algum corpo, sem taninos complicados, tudo muito fácil e agradável..."

Assino por baixo...

sábado, 12 de junho de 2010

Pasta de Sapateira e Quinta do Ameal 2009

Esta simples e singela sapateira foi metida na panela (onde estava água a ferver e sal) ainda viva e ficou cerca de 12 minutos a cozer. Abri-a e aproveitei a carne das patas e o interior (exceptuando, naturalmente, os pulmões) que verti  num prato. Juntei uma colher de sopa de maionese, um ar de pimenta branca e umas gotas de aguardente bagaceira velha de Alvarinho, uma Quinta de Soalheiro. Trabalhei tudo com um garfo até obter uma pasta homogénea e levei ao congelador para arrefecer. Servi com pão levemente torrado. 

Claro que fui ver como a sapateira era tratada pela blogo e forosfera. E como seria de esperar, é muito mal tratada. Para além da extensa lista de coisas usadas para a preparação, que inclui ovos cozidos, pão ralado, mostarda, maionese, cebola picada, picles, pimentos, louro, polpa de tomate, salsa, ketchup, molho inglês, cerveja, vinho branco, vinho do porto, whisky e sabe-se lá o que mais ainda havia muitas diferenças na forma e tempos de cozedura. Quanto à forma, foi divertido ver que em geral são mortas com vinagre, metido nas mais variadas quantidades e sítios, com o natural horror que o facto desperta em mentes mais sensíveis (eufemismo para cabeças ocas). Quanto aos tempos, oscila entre os 10 e os 20 minutos (naturalmente depende do tamanho dos bichos). Claro que não vi em lado nenhum a sapateira a ser preparada com todos os ingredientes que referi, mas em alguns casos estavam presentes quase todos. Síndrome do Restaurante Chinês no seu melhor ou, dito de outra forma, leva sapateira, mas sabe a tudo menos a sapateira.
Vi apenas uma proposta séria, no avental do gourmet, mas para santolas. É pena que o blogue tenha acabado, mas ao menos continua disponível. 


Para acompanhar esta sapateira que só sabia a sapateira, escolhi um dos meus vinhos brancos favoritos. O Quinta do Ameal 2009, feito de Loureiro em Refóios do Lima. Notas citrícas e muita frescura. Tem um bom volume na boca e um final muito interessante. Por € 6,00, tem uma relação qualidade/preço muito boa. Nota pessoal: 16. 

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Post Scriptum, by Chryseia 2007

" O Post Scriptum é um vinho parceiro do Chryseia, um aclamado tinto do Douro que funde a perícia bordalesa de Bruno Prats com a riqueza das castas do Douro. Como o Chryseia, o Post Scriptum provem das melhores quintas durienses da familia Symington, embora seja produzido num estilo mais amadurecido, pronto para beber mais cedo. O vinho foi estagiado em barricas de carvalho francês de 400 litros para amaciar os taninos."

Esta é a informação constante do rótulo e o vinho foi notado recentemente com 90 pontos da Wine Spectator. Boas notas de fruta bem madura, a madeira muito bem integrada e muita elegância são as suas principais caracerísticas. É, sem dúvida, muito bem feito e fácil de agradar. PVP: 12,50 €. Nota pessoal: 16,5.


Acompanhou uma pá de porco com osso, barrada com uma pasta de banha de porco, alho, pimenta preta e sal, borrifada com um pouco de vinho branco que foi a assar no forno a 170º C, juntamente com batatas novas com a pele. Uns grelos cozidos completaram o prato.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Back to Conceito 2008



Back porque a primeira vez que o provei foi na Quinta do Infantado. A segunda foi em casa a acompanhar uma das minhas preparações preferidas de bacalhau. A terceira podia ter sido em Viseu, mas foi mesmo em casa, outra vez, este fim de semana (tinha combinado ir a Viseu e fazer umas provas com o Gus, mas não foi possível). Um vinho de filigrana e um dos melhores de Tugal, para mim. Talvez o melhor vinho da colheita de 2008 que tinha provado. Crocante, mineral, um grande Douro branco. Feito pela Rita Marques, uma das melhores enólogas portuguesas... Insuspeitos os 2 (a Rita e o seu Conceito de branco), duas pérolas do Douro. Foi uma enorme coincidência eu e o Gus termos provado o mesmo vinho, mas na verdade ambos ficámos desiludidos. Não pensei em problemas com a garrafa, mas mais num problema do vinho... Está a crescer, ganhou um pouco de peso, pode ter tomado um ansiolítico e quer descansar um pouco dos media... Por mim, que venha o 2009 e (re)volto ao 2008 quando ele ganhar uma nova roupa...

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Quinta dos Roques Touriga Nacional 1997


Quando este vinho do Luís Lourenço saiu para o mercado eu não sabia quem era o Luís Lourenço. Como não conhecia produtores de vinho. Andava a tactear, a começar a gostar de vinhos. Há dez anos atrás comprei pela primeira vez o Guia do João Paulo Martins. Era nesse guia que JPM falava deste Touriga Nacional dos Roques. E disse o seguinte: "Extremamente vegetal no aroma, tem a presença da casta e da madeira nova (um pouco verde), com tudo ainda por casar. Confirma na boca que precisa de tempo para que tudo se funda. Não aconselhamos a que seja bebido nos tempos mais próximos." Na verdade, em  relação ao 2007 (que provei aqui) fez uma apreciação próxima,  referindo que tem "Bom estilo de conjunto, mas a precisar de cave". Dez anos depois de ter sido colocado no mercado e quase treze desde a vindima, provei um vinho que é já um clássico do Dão. Nestas coisas de vinhos com alguma idade, as (boas) condições de guarda são fundamentais para a preservação da saúde do vinho. Este não terá tido a melhor guarda e já estava um pouco mais evoluido do que seria expectável. Mas ainda assim a ser boa companhia para um bacalhau cozido com legumes (batata, cenoura, couve e couve flor) e regado com bom azeite. 




quinta-feira, 3 de junho de 2010

Cocktail de Marisco by Tio Belmiro em Feijoada e um Espumante Lagar de Baixo

Com este tempo quente, a vontade de comer coisas pesadas é pouca. Ainda assim, apeteceu-me uma feijoada de marisco devidamente acompanhada por um espumante. Comprei um cocktail de marisco no modelo... Vinha numa bela caixa de papel e tinha delícias do mar e lulas. Mas se era marisco, porque é que tem as lulas e a farinha a saber a caranguejo? Coisas do tio belmiro... Enfim! 

Deitei um fundinho de azeite num tacho, cebola picada, alho esmagado e pimento vermelho... Deixei a confitar até a cebola estar transparente, juntei um pouco de polpa de tomate e cerveja. Ficou em lume brando uns 15 minutos. Juntei feijão branco (de lata) e o preparado de mariscos (com as delícias e as lulas) e deixei que os sabores se casassem à vontade. Salsa ou coentros seriam bem aceites, mas não havia. Servi assim... 


Não provava as ditas delícias do mar há anos... Continuam uma porcaria. Não percebo como é que se continuam a vender, mas deve haver gostos para tudo. Acompanhei com um espumante bruto Lagar de Baixo 2008. Feito com Arinto, Bical e Maria Gomes, é expressivo no nariz, com notas citrícas e algum tropical. Bolhinhas elegantes e consistentes, bom volume de boca e um final curto mas agradável. Um espumante bem feito para beber sem pensar muito. Custa cerca de 6 €. Nota pessoal: 15,5.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Quinta de Foz de Arouce Tinto 2003

Depois da visita à Quinta de Foz de Arouce e da prova vertical dos vinhos era natural o desejo de beber mais um ou outro vinho, em casa, nas calmas. Este 2003 foi provado no fim de semana passado, com o meu pai, a acompanhar um frango estufado feito por ele e que eu, por muito que me esforce não consigo reproduzir. Aquele molho aveludado é algo de irreprodutível...


Quanto ao vinho, é feito com Baga, Touriga Nacional e Tinta Roriz. Estagia em meias pipas de carvalho francês. É um vinho poderoso e ainda algo taninoso, a pedir guarda. Marcado por algum vegetal aliado a frutos vermelhos bem maduros, com a madeira bem enquadrada. Fresco e com muito boa acidez, termina médio. É um daqueles vinhos feitos à medida para os indefectíveis da Baga ou para os pacientes que o queiram provar daqui a 3 anos ou mais. O preço algo elevado (€ 12,50, mas as colheitas mais recentes estão disponíveis a € 8/9 na loja da Quinta) afastará aqueles que procuram um vinho sem arestas, redondo, pronto a beber, mas esse é o preço a pagar pela diferença. Em Foz de Arouce os vinhos precisam de tempo e paciência para serem desfrutados na sua plenitude. Nota pessoal: 16.    


Cistus Reserva 2007 com ProtoPolenta da Horta em Ninho de Alheira de Mirandela


O Cistus Reserva 2007 deve estar a sair para o mercado e o Produtor enviou o vinho para prova. É feito com 40% de Tinta Roriz, 40% de Touriga Franca e 20% de Touriga Nacional de uvas provenientes de vinhas com uma idade média de 23 anos e situadas nas encostas do Rio Sabor, no Douro Superior. Estagiou 15 meses em barricas de carvalho americano, francês e húngaro e foi engarrafado em Abril de 2010. São 28.000 garrafas com PVP recomendado de 9,99 € e Enologia de Manuel Angel Areal.
Foi refrigerado e arejado por um par de horas. Depois disso o vinho voltou para a garrafa e levou com uma manga para ser provado a cerca de 17º C (com as temperaturas dentro de casa acima dos 20º C é fundamental haver cuidados acrescidos com a temperatura de serviço). Tinto retinto, com boas notas de fruta bem madura bem casadas com a madeira do estágio. Taninos presentes mas macios. Bom volume de boca e um delicioso e longo final. Um vinho com boa aptidão gastronómica e de que é muito difícil não gostar. Nota pessoal: 16,5.

Acompanhei este vinho com uma alheira de Mirandela (a que retirei a tripa para que não se desfizesse) a aninhar uma papa feita com couve, alho francês, cenoura e ervilhas ligada com farinha de milho. Um prato simples e delicioso que foi uma bela companhia para este vinho.