A vitela não aparece muito por aqui por duas ordens de razões. A primeira tem a ver com o facto de raramente entrar no receituário tradicional da região da Gândara, onde (nas carnes) pontuam o porco e as galinhas, pelo que o meu gosto demorou a ser reeducado. A segunda tem a ver com a (baixa) qualidade da carne vendida em talhos e supermercados daqui do Burgo. Por isso quando vou para lá do Marão, em geral aproveito para comprar carne Mirandesa na Origem. Esta foi comprada na loja do tio Belmiro, aquela ao lado do Dragão (Continente do Dolce Vita das Antas) e apenas porque a peça (perna) tinha muito bom aspecto e foi preparada com inspiração na vitela de forno Transmontana a que juntei cebolinhas novas...
Deitei azeite, banha de porco e manteiga num tabuleiro de barro. Juntei sal, pimenta e uma folha de louro, a carne e cebolas novas descascadas e levei ao forno a 160º C. Fui virando e regando a carne com o molho. Quando estava dourada e as cebolas macias (ao fim de 45 minutos), retirei do forno e servi com uns espinafres cozidos.
O melhor do prato foi o molho, com as três gorduras a complementarem-se muito bem; a banha de porco a dar a estrutura, a manteiga a dar untuosidade e o azeite a ver jogar. A cebola também esteve muito bem, com aquele sabor acridoce que só se encontra nas cebolas de época (estas vieram do quintal do meu pai e deixam a milhas quaisquer cebolas do mercado). Nota menos positiva para a carne que ficou um pouco seca, apesar do pouco tempo que levou de forno e dos cuidados que tive. Se fosse vitela Mirandesa, ou Arouquesa, ou Barrosã, o prato teria ficado excelente.
Acompanhei a vitela com um vinho que não provava há anos, o Quinta de Cabriz Reserva (aqui na edição de 2006. Situado logo acima do Colheita Seleccionada (que custa 3 € e se deixa beber muito bem) é um vinho que se encontra em qualquer super ou hipermercado (são feitas cerca de 100.000 garrafas) e custa cerca de 8 €. É um vinho sem espinhas, feito para agradar à mesa (desde que o prato seja bem escolhido), com tudo no ponto. Nota pessoal: 16.
Decididamente, o teu complot de 3 gorduras conseguiu surpreender-me: eu nunca junto manteiga por ser de queimadura fácil.
ResponderEliminarTenho muito que aprender ainda (contigo e não só) sobre temperaturas certas e adequadas.
Por aqui, em Lisboa, encontramos vitela com bilhete de identidade (lol) no Corte Inglês. No talho não arrisco...
Beijinhos.