Esta é uma açorda que está algo fora das preparações mais naturais, de bacalhau, camarão ou mariscos...
Deitei água e um pouco de sal num tacho. Quando a água estava a ferver juntei uma posta de cherne e ovas de pescada. Desliguei o lume e deixei uns quatro ou cinco minutos, o tempo estritamente necessário para que a carne se separe das espinhas. Coei o caldo e usei-o para embeber pão duro (tenho para mim que os pães mais "industriais" como as carcaças são excelentes para estas açordas, conferem-lhes uma textura aveludada fantástica). Retirei o involucro das ovas e as peles e espinhas ao cherne. Reservei. Num tacho, deitei uns dentes de alho esmagados e cortados e um fundo de azeite (a quantidade de azeite depende do tipo de pão que se usar, pelo que com este pão, um fundo chega) e deixei o alho aromatizar o azeite. Juntei o pão embebido do caldo de cozer o peixe e fui mexendo até obter uma papa uniforme (o tempo que demora a ficar pronta depende do tipo de pão, da quantidade de água e da consistência final requerida). Juntei as ovas e continuei a mexer até elas se distribuirem uniformemente. Adicionei o cherne e coentros picados (em parcimoniosa quantidade para que não abafasse o sabor delicado do cherne) envolvi e deixei harmonizar sabores com o tacho tapado durante cinco minutos.
Acompanhei com aquele que é talvez o Alvarinho mais barato do mercado. Um vinho feito por Anselmo Mendes para o Pingo Doce e que é vendido a € 3,89. Anselmo Mendes é o criador de alguns dos melhores vinhos feitos a partir desta nobre casta branca, como o "Muros Antigos", o "Contacto", o "Muros de Melgaço" e o "Anselmo Mendes" aka "Curtimenta". Este é um vinho mais simples, proposto a um preço que o situa próximo do Muralhas de Monção, um dos vinhos de combate da região dos vinhos verdes.
O vinho aparece algo fechado no início a indiciar que se deve decantar (e guardar o decanter no frigorífico) mas depois abre para aromas cítricos e algum vegetal. Na boca é fresco, mas um pouco plano e termina curto. Tem boa acidez e os 12,5 º de álcool estão bem para o corpo do vinho. Não entusiasma muito mas está uns furos acima de vinhos da região propostos ao mesmo preço ou até a preços superiores. Para quem gosta de Muralhas e nunca provou um Alvarinho extreme, aconselho vivamente. Nota pessoal: 15,5.