sexta-feira, 30 de abril de 2010

Açorda de Cherne e Ovas | Alvarinho AM/PD 2009

Esta é uma açorda que está algo fora das preparações mais naturais, de bacalhau, camarão ou mariscos...
Deitei água e um pouco de sal num tacho. Quando a água estava a ferver juntei uma posta de cherne e ovas de pescada. Desliguei o lume e deixei uns quatro ou cinco minutos, o tempo estritamente necessário para que a carne se separe das espinhas. Coei o caldo e usei-o para embeber pão duro (tenho para mim que os pães mais "industriais" como as carcaças são excelentes para estas açordas, conferem-lhes uma textura aveludada fantástica). Retirei o involucro das ovas e as peles e espinhas ao cherne. Reservei. Num tacho, deitei uns dentes de alho esmagados e cortados e um fundo de azeite (a quantidade de azeite depende do tipo de pão que se usar, pelo que com este pão, um fundo chega) e deixei o alho aromatizar o azeite. Juntei o pão embebido do caldo de cozer o peixe e fui mexendo até obter uma papa uniforme (o tempo que demora a ficar pronta depende do tipo de pão, da quantidade de água e da consistência final requerida). Juntei as ovas e continuei a mexer até elas se distribuirem uniformemente. Adicionei o cherne e coentros picados (em parcimoniosa quantidade para que não abafasse o sabor delicado do cherne) envolvi e deixei harmonizar sabores com o tacho tapado durante cinco minutos.


Acompanhei com aquele que é talvez o Alvarinho mais barato do mercado. Um vinho feito por Anselmo Mendes para o Pingo Doce e que é vendido a € 3,89. Anselmo Mendes é o criador de alguns dos melhores vinhos feitos a partir desta nobre casta branca, como o "Muros Antigos", o "Contacto", o "Muros de Melgaço" e o "Anselmo Mendes" aka "Curtimenta". Este é um vinho mais simples, proposto a um preço que o situa próximo do Muralhas de Monção, um dos vinhos de combate da região dos vinhos verdes.
O vinho aparece algo fechado no início a indiciar que se deve decantar (e guardar o decanter no frigorífico) mas depois abre para aromas cítricos e algum vegetal. Na boca é fresco, mas um pouco plano e termina curto. Tem boa acidez e os 12,5 º de álcool estão bem para o corpo do vinho. Não entusiasma muito mas está uns furos acima de vinhos da região propostos ao mesmo preço ou até a preços superiores. Para quem gosta de Muralhas e nunca provou um Alvarinho extreme, aconselho vivamente. Nota pessoal: 15,5.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Duorum 2008 e mais coisas, como Alheiras...

1 - Depois do meu último post sobre alheiras (este) tinha quase jurado para mim mesmo  (o que não vale nada) que jamais voltaria a tratar mal uma Alheira (se bem que a melhor forma de não tratar mal cerca de 90% das alheiras disponíveis no mercado se calhar é nem as comprar, mas isso são outras contas).

2 - Tenho para mim (sem certezas nenhumas) que se podem obter excelentes mariadagens - e se lhes chamasse maradagens? - entre comidas de Trás-os-Montes e Vinhos do Dão, comidas da Beira Interior e vinhos do Alentejo, comidas da Beira Litoral e vinhos do Douro and so on and so on... Mas também que se se maradar comidas e vinhos do terroir a coisa até pode correr bem. 

3 - Comer Alheira com pão a acompanhar não parece transmontanicamente correcto, tem que ser com grelos...

4 - José Maria Soares Franco e João Portugal Ramos estão a fazer vinho no Douro (desde 2007)!


As razões do post estão sintetizadas acima. O mote foi uma passagem por Vila Nova de Foz Côa, Vila Flôr e Mirandela numa tarde quente (até os habitantes de Freixo de Espada à Cinta se queixavam do calor). O fim, foi a recriação dessa parte de viagem em comida, mais propriamente num jantar simples.

Começando por Vila Nova de Foz Côa, onde nasceu o Duorum 2008, continuando com um belo pão de trigo de Vila Flôr saído há pouco tempo do forno de lenha e terminando numa alheira de caça de Mirandela.

Para a alheira, reservei um bom tratamento. Meti o forno a 130º C, piquei a pele à alheira e meti-a no forno num tabuleiro de alumínio. Deixei-a uns 20 minutos, cortei-a e servi. Com uns pedaços do belo pão de Vila Flôr que acabou por servir para pouco mais do que limpar os dedos (mas provei e era excelente). O vinho não é menos do que se esperaria desta segunda edição, que teve 16,5 pontos da Revista de vinhos e a seguinte nota de prova:.

" Um aroma silvestre com notas vegetais, fruto com nuance amarga muito agradável. Muito jovem na boca, taninos aguerridos, seco, fresco, limpo e revigorante, um tinto especiado com bom impacto e prova muito atraente".

Fiquei rendido às maradagens com produtos da zona e a este Duorum. Vende-se a cerca de 10 €.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Fiuza Rosé Touriga Nacional e Cabernet Sauvignon 2009

Este Rosé da Fiuza & Bright, acabado de sair para o mercado é feito com Touriga Nacional e Cabernet Sauvignon e fermenta a 15% por forma a "exaltar os sabores das castas" (da informação à Imprensa). Tem côr de romã, nota-se o Cabernet a amparar o lado mais floral da Touriga, tem fruta e muita frescura. Os 13,5º não incomodam se se tiver cuidado com a temperatura de serviço (12º C). É um rosé feito para agradar e beber sem grandes preocupações, como atesta a palavra enjoy gravada na rolha. É pena ter um final algo curto. Ao preço (cerca de € 4,50) é uma proposta interessante para beber a solo, numa esplanada ou para acompanhar comidas simples e pouco condimentadas.

domingo, 25 de abril de 2010

Codornizes de Escabeche | Vinha Paz 2006

Há anos que não comia codornizes. Antigamente eram um petisco difícilmente alcançável se não se fosse caçador. Agora é vê-las em todos os talhos, aos magotes. Ainda por cima são baratas. Comprei umas quantas para fazer de escabeche ou com molho de escabeche. Temperei-as com sal e um pouco de pimenta e salteei-as em azeite até ficarem louras. Reservei-as. Juntei cebola em rodelas, louro e alho esmagado ao azeite e deixei a cebola ficar translúcida. Adicionei vinho branco e um pouco de vinagre de vinho tinto (da Herdade do Esporão, nada mau), juntei as codornizes e deixei-as em lume brando mais uns quarenta minutos. Retirei-as do lume e deixei arrefecer. Depois guardei no frigorífico de um dia para o outro. Servi com uns bolinhos de feijão branco esmagado a que juntei um pouco de pimenta, um ovo e farinha de trigo para ligar. Fritei em óleo bem quente.  


Para acompanhar escolhi um dos meus vinhos do Dão favoritos. O Vinha Paz 2006. Um vinho muito bem feito, do Dr. Canto Moniz. Por menos de oito Euros dificilmente se poderia pedir mais. Como diz João Paulo Martins: "quem não gosta deste vinho é porque não gosta de vinho tinto"...

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Esparguete com Pasta de Azeitonas e Alhos à Alexandre O' Neill by Saramago (after, by me)

Alfredo Saramago (Arronches, 1938 - Lisboa, 2008) foi um eminente gastrónomo e divulgador da nossa Cozinha. No seu livro "Cozinha para Homens" e na página 60 apresenta uma receita absolutamente improvável... Um esparguete da sua Autoria feito a partir de uma pasta de azeitonas e alho de Alexandre O' Neill (Lisboa, 1924 - 1986). Foi a partir desta notável receita a respirar Alentejo mas dificilmente "encaixável" numa refeição Portuguesa completa que ensaiei esta preparação... Para um jantar ligeiro.

Começando pela pasta de azeitonas e alhos de O' Neill... Com uma proporção de duas partes de azeitonas pretas descaroçadas e uma parte de alho. Deita-se tudo num almofariz, junta-se um pouco de bom azeite e esmaga-se até obter uma pasta (esmaguei qb para ficar com pedaços de azeitona visíveis). Pode-se deitar em frascos, cobrir com azeite e guardar no frigorífico (segundo Saramago, aguenta um mês) ou usar no esparguete de Alfredo Saramago...

Da receita, coze-se esparguete al dente. Eu resolvi cozer massa meada. Porque acho piada àqueles tubos (ainda por cima são muito mais difíceis de cozer que o esparguete) e porque aumentando o diametro dos tubos de massa, a superfície aumenta muito mais (geometria básica que não cabe aqui) logo aumenta (aliado ao facto da massa meada não ser maciça) a capacidade da massa de ser aromatizada. Passa-se a massa por água fria num passador para retirar a goma. Despeja-se a água de cozer a massa e deita-se um pouco de azeite no tacho. Leva-se a lume brando e deita-se a massa. Vai-se mexendo até estar quente e deita-se a pasta acima referida. Continua-se a mexer durante mais dois minutos e serve-se. 


Usei o adjectivo improvável (numa refeição Portuguesa, naturalmente) porque como prato completo não funciona e para entrada parece demasiado substancial. Como jantar ligeiro esteve muito bem.

Para acompanhar este prato, um Gravato do Eng. Luís Roboredo. Um Palhete da Mêda que vai estando cada vez melhor. Ou um Rosé de Touriga do Arq. José Perdigão. Ou outro... aceito sugestões :)

terça-feira, 20 de abril de 2010

Chanfana | Quinta das Tecedeiras Reserva 2007

A Chanfana é um prato tradicional da Beira Litoral, também conhecido por Lampantana e era obrigatório em todas as festas e bodas da região da Bairrada. É feito com cabra velha (há em Coimbra uma chanfana tradicionalmente feita com borrego) e constitui uma deliciosa forma de aproveitar uma carne que dificilmente serviria para outra preparação. Idealmente será preparado em forno de lenha e servido no dia seguinte. Faz-se assim:

Se se usar uma cabra inteira, corta-se em pedaços que se distribuem por púcaros de barro preto de Molelos. Se se fizer menos, convém usar partes da pá ou da perna, das costelas e do cachaço até deixar um púcaro a 3/4 da capacidade. Junta-se um pouco de toucinho, azeite e banha de porco (tal como na melhor tradição do folar de Valpaços, usam-se as três gorduras), cebola (em rodelas), alho esmagado, pimenta, colorau, salsa, uma folha de louro, sal e um pouco de noz moscada (estes são os ingredientes tradicionalmente utilizados e descritos na Cozinha Tradicional Portuguesa, de Maria de Lourdes Modesto). Junta-se vinho (e aqui deve-se juntar mesmo vinho - não confundir com um líquido vendido em pacotes - não tem que ser caro, mas tem que ser vinho e se for um baga honesto, melhor) a cobrir a carne e leva-se ao forno. Aquecido na temperatura máxima, deita-se o púcaro lá para dentro e deixa-se a assar a uma temperatura mais baixa (cerca de 170º C). Quando a carne estiver macia desliga-se o forno e deixa-se arrefecer. No dia seguinte aquece-se no forno e serve-se... Com batatas cozidas.

Embora seja mais ou menos unanime a mariadagem da Chanfana com um bom vinho da Bairrada, para que não ficasse tudo em família acompanhei com um vinho do Douro que andava já há algum tempo com vontade de provar. O Quinta das Tecedeiras Reserva 2007. Notado com 18 pontos pela Revista de Vinhos e com um preço a rondar os € 25, é uma escolha segura ao preço, como tinha referido aqui. Francamente, gostei muito do vinho. Ainda mais porque está disponível nas lojas da Dão Sul a € 14. Nota pessoal: 17,5.

Vinha de Lordelo da Quinta da Gaivosa 2007

O Vinha de Lordelo nasce da vontade de Domingos Alves de Sousa de mostrar a especificidade de algumas vinhas da Quinta da Gaivosa. Em 2003 consegue pela primeira vez fazer a vindima e vinificação da vinha de Lordelo, uma vinha centenária, a mais velha da Quinta, com 2,5 ha e um rendimento de 10 hl/ha (o que significa que são precisos 7,5 m2 de vinha para produzir uma garrafa de vinho...). Como se refere na webpage de Alves de Sousa:

"É sem dúvida um daqueles casos em que a frieza dos números há muito que haveria aconselhado o arrancar e o plantar de uma nova vinha. Mas se assim tivesse sido nunca teríamos tido a oportunidade de fazer e apreciar este vinho."

Depois da edição de 2003, sairam já as colheitas de 2005 e 2007. Sempre em quantidades muito baixas, cerca de 3.000 garrafas em cada colheita.

A proporção das castas que entram neste vinho é a seguinte: 10% de Sousão, 10% de Tinta Amarela, 20% de Touriga Nacional, 30% de Tinta Roriz e 30% de outras castas. É vinificado com desengace total, fermentação com película durante 5 a 6 dias e maceração após fermentação, mínimo de 8 dias. Estagia 12 meses em carvalho Francês Allier e Nevers e mais 12 meses em garrafa antes de ser lançado para o mercado.


É um vinho de vinha mas também de ourivesaria que teve direito a todos os mimos por parte do Produtor. O painel de provadores da Revista de Vinhos apresenta a seguinte nota:

"Aroma de grande profundidade, com notas vegetais e terrosas, frutos silvestres, esteva, especiarias, num conjunto muito apelativo apesar da tenra idade. Fresco e voluntarioso na boca, distinto, com bela textura de taninos, firme, personalizado, com final muito longo e expressivo. Um Douro com muito futuro pela frente."

Um grande vinho, sem dúvida. Nota pessoal: 18,5.

sábado, 17 de abril de 2010

Vallado Branco 2008

É a primeira vez que falo aqui da Quinta do Vallado. Em mais de 600 post' s é indesculpável nunca ter provado nenhum vinho desta que é uma das grandes Quintas do Douro. Na verdade até provei... Há pouco tempo provei o Vallado tinto 2007 (12€ no restaurante e menos de sete no supermercado) e gostei muito. Como gosto dos Reservas e dos Varietais (e na calha está uma prova horizontal dos vinhos de 2005, nomeadamente o Reserva, Touriga Nacional e Sousão, a apresentar quando se proporcionar). A Quinta do Vallado existe desde 1716 e foi adquirida por Dona Antónia Adelaide Ferreira (uma das mais míticas figuras do Douro) no século XIX. Após seis gerações, continua na posse da família. Francisco Ferreira gere os destinos da Quinta e Francisco Xito Olazabal (Quinta do Vale Meão) é o responsável pela enologia. Este Vallado branco 2008 encontra-se facilmente em qualquer sítio e custa € 5,49.


Chamou-me a atenção ter visto um novo lote deste vinho com um selo apenso ao rótulo que refere: "Robert Parker - 90 points". Uau, 90 pontos Parker para um vinho de menos de seis Euros? Ri-me enquanto me lembrava de ter lido algo como isto há uns anos: "se um vinho não tem 90 pontos Parker, não vale nada, mas se tiver mais de 90 pontos, não tem preço".  Meti uma garrafa no cesto das compras e enfiei-a no frigorífico.


Afinal os 90 pontos do Guru do Vinho foram para o Reserva branco da Quinta que custa quase 20€... Este mereceu 15,5 pontos da Revista de Vinhos e demais blogosfera e 81 pontos MJA. Confesso que não achei piada à brincadeira, mas nem me senti enganado. O vinho é feito com predominância de Arinto, Gouveio, Rabigato e Viosinho. 90% do lote estagia durante 5 meses em inox e o restante 10% em madeira. Exuberante no nariz, com as suas notas cítricas, com bom volume na boca, com a passagem por madeira a revelar-se discreta, mas a ajudar a estruturar o conjunto. Elegante e com uns razoáveis 12,5º de álcool revela-se uma boa escolha. Foi provado na companhia de um polvo estufado. Nota pessoal: 16. 

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Variação sobre o Goulash | Quinta do Crasto Vinhas Velhas 2006

Chamei variação a esta preparação porque na verdade o Goulash apesar de não ser em strictu sensu  uma receita canonizada, tem alguns preceitos de preparação ignorados aqui. Para quem não sabe o que é um goulash, fica aqui o link para a wikipédia, que apenas peca por ser muito pouco rigoroso (o meu link anterior parece ser melhor, IMHO).
Na verdade, foi a combinação limão e cominhos que inspirou este estufado, feito com carne de toiro bravo que já tinha ensaiado antes numa jardineira.
Deitei um fundo de azeite no tacho, dois dentes de alho esmagados, uma folha de louro e uma cebola picada. Quando o azeite estava bem quente, juntei os nacos de toiro e selei-os. Juntei uma cenoura em rodelas, polpa de tomate e um pouco de vinho branco e deixei a estufar em lume muito brando. Passado cerca de 40 minutos juntei umas bagas de pimenta branca passadas pelo almofariz, casca de limão e cominhos moídos. Deixei a harmonizar sabores enquanto preparei o acompanhamento...
Um arroz branco. Feito com duas partes de água para uma de arroz (agulha, do Suriname, não me convence) e um pouco de sal com um fio de azeite. Coado depois de cozido. Servi à parte.


Para acompanhar, escolhi um Quinta do Crasto. Quando se fala em Quinta do Crasto vem logo à cabeça o Vinha da Ponte, ou o Vinha Maria Teresa... Ou não, também se pode pensar no Touriga Nacional ou nos colheitas. Escolhi outro, o Vinhas Velhas 2006. Há pouco tempo provei o VV 2007 e achei-o excelente, mas a precisar de tempo em garrafa. Este 2006, ao contrário, está a pedir para ser provado. Se ganha em garrafa? Talvez, mas com esta "concentração com madeira à vista" e "Não parece precisar de guarda" como disse João Paulo Martins no seu Guia de Vinhos 2009, a vontade de o provar era grande. Mais um clássico do Douro. Com um PVP de cerca de 23€, é mais uma boa escolha. Nota pessoal: 17,5. 

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Quinta da Gaivosa 2005


O Quinta da Gaivosa é um vinho de Domingos Alves de Sousa que se tem vindo a afirmar como um dos grandes clássicos do Douro pela consistência e qualidade que vai demonstrando colheita após colheita, desde 1992. Para o fazer, o Eng. Alves de Sousa conta com o apoio de Anselmo Mendes e do Tiago Alves de Sousa, seu filho e enólogo residente.




É feito com Tinta Roriz, Touriga Franca, Tinto Cão, Touriga Nacional e outras castas provenientes de vinhas com mais de sessenta anos. Estagia seis meses em carvalho francês Allier e Nevers e 12 em garrafa antes de ser lançado para o mercado. Tem uma bela cor ruby. O nariz começa com a elegância da tosta da madeira e passa depois a boas notas de fruta vermelha. O final é longo e delicioso. Os robustos14º de álcool estão bem envolvidos no corpo do vinho. Um grande vinho do Douro... É pena que não se fale mais deste vinho, mas quando o Produtor lança vinhos como o Abandonado ou o Vinha de Lordelo da Gaivosa, para não falar dos seus Reservas Pessoais, este até quase que passa para segundo plano. 

Como disse João Paulo Martins no seu guia de vinhos 2009:

"É o tipo de vinho que não deverá beber distraído, sob pena de passar ao lado de um grande vinho"...

Disponível no mercado por cerca de € 30, é um vinho que dificilmente deixa alguém indiferente. Tem luvas de seda em punhos de titânio... Nota pessoal: 18. Grande vinho.

Acompanhei com um prato das beiras, um sarrabulho com batata e feijão verde cozidos. Delicioso...

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Açorda de Camarões | Quinta de Foz de Arouce Branco 2006

Às vezes dou comigo a pensar como comidas tão simples podem ser tão deliciosas como uma açorda de camarão. Simples de executar, mas a pedir algum cuidado para não transformar um grande prato numa coisa desengraçada ou sensaborona... A começar pela escolha dos camarões. Escolhi uns 40/60 (cerca de 20g cada) de Madagáscar. Cozi-os em água com sal durante 4 minutos e retirei-os do tacho.


Descasquei os camarões e deitei as cabeças e as cascas de novo para o tacho. Juntei pimenta preta e uma malagueta e deixei em lume brando durante quase uma hora. Retirei o tacho do lume e coei o caldo para uma travessa. Juntei pão de trigo (carcaças, papo-secos, desses) partido em pedaços pequenos e deixei o pão embebido no caldo...


Noutro tacho, deitei um fundo de azeite e dois dentes de alho esmagados e deixei o alho aromatizar o azeite. Juntei o pão e o caldo de cozer os camarões e fui mexendo até obter uma pasta homogénea e clara (obtive-a ao fim de cerca de meia hora em lume brando). Adicionei os camarões e um pouco de salsa fresca e desliguei o lume. Servi.   


Para acompanhar, um Quinta de Foz de Arouce Branco 2006. Feito de Cerceal com passagem por madeira. Seco, mineral. Um vinho mais que improvável da Lousã mas que sempre que é lançado (o primeiro que provei era de 1995 e o 2008 já deve estar no mercado) aguça a gula. Um dos grandes brancos portugueses. PVP: 16 €. Nota pessoal: 17.

sábado, 10 de abril de 2010

Bochechas de Porco Estufadas num Herdade do Porto da Bouga Reserva 2008

As bochechas de porco são cada vez mais, das partes mais apreciadas do bácoro. E então se forem de porco preto são elevadas ao estatuto de prato de grande requinte... Estas eram de porco normal, com menos gordura que as suas primas oriundas de porcos pretos. Uma das formas mais deliciosas de as preparar, imho, será estufadas. E em vinho tinto. E no vinho que vai acompanhar a comida, já agora... Escolhi um vinho do Alentejo, o Herdade do Porto da Bouga Reserva 2008. Vendido a € 4,99 no Pingo Doce. Já tinha provado a colheita de 2006 e achei o vinho interessante para o preço. Comprei uma garrafa deste 2008. Deitei as bochechas numa caixa de plástico com tampa (vulgo tupperware) com uns dentes de alho esmagados, um pouco de sal marinho e cobri-as com o vinho. Deixei a marinar umas três horas tendo o cuidado de ir agitando a caixa. Quanto ao restante vinho foi para o frigorífico depois de metido no decanter.
Deitei um fundo de azeite no tacho e quando estava quente deitei as bochechas préviamente escorridas. Selei-as, juntei uma cebola e deixei refogar. Juntei o líquido da marinada, uma folha de louro, pimenta preta moída, dois cravinhos e um pouco de cominhos em pó. Deixei estufar em lume muito baixo durante quase duas horas, tendo o cuidado de ir virando as bochechas. Servi com umas simples e deliciosas batatas cozidas com pele. 


O vinho é produzido em Portalegre por Joaquim Teixeira da Costa com enologia de António Saramago. Feito com Trincadeira, Aragonês, Alicante Bouschet, Touriga Nacional e Syrah, estagia oito meses em madeira. Aparece marcado pela fruta bem madura, com a madeira em segundo plano. Muito redondo (e guloso) tem uns cordatos 13,5º de álcool. É um vinho de que é fácil gostar e ao preço, uma boa escolha. Nota pessoal: 15,8.

Dão Álvaro de Castro 2006

Álvaro de Castro é Engenheiro Civil... Mas nasceu no Dão e ao Dão de Pinhanços voltou depois de ter vivido e trabalhado em Lisboa. Quinta da Pellada e Quinta de Saes estão na origem dos seus vinhos, lançados pela primeira vez no mercado em 1989. Maria Castro, sua filha e Enóloga da Casa dá o apoio ao enfant terrible do Dão aka Mr. Touriga Nacional no lançamento de rótulos tão desejados como raros: Carrocel, Primus da Pellada ou Pape, sem esquecer o DADO/DODA feito com Dirk Niepoort... Na gama de entrada dos vinhos de Álvaro de Castro temos o Saes... Acima, temos o Dão Álvaro de Castro (colheita e reserva). Dão e Álvaro de Castro, quase dois sinónimos, ou não fosse a inquietude do Engenheiro a devolver à Região Demarcada do Dão um prestígio que tinha perdido há décadas...

De repente, lembrei-me de que não provava vinhos do Álvaro de Castro há algum tempo... E qual seria o Dão da sua vindima de 2006? Comprei o colheita, o que tem o seu nome (a € 7,29) e é feito com 85% de Alfrocheiro e o restante de Touriga Nacional e Tinta Roriz. Para acompanhar, uma peça de perna de porco assada no forno com as suas batatas, como tenho apresentado aqui no blogue e que para mim ainda é um dos melhores pratos para harmonizar vinhos.

E que dizer deste Dão? Muito elegante e menos austero do que esperaria. Violáceo na cor, com boa fruta e concentração. No seu guia de vinhos de 2009, João Paulo Martins falava dos taninos e da dureza do vinho, bem como da necessidade de ter algum cuidado com o prato, mas agora o vinho está muito mais cordato e a proporcionar uma bela prova. Ao preço, vale bem a pena... Nota pessoal: 16,5

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Creme de Favas e Frango


Sopa ou creme de favas e frango... Cozi frango com uma cebola e um pouco de pimenta preta. Quando o frango estava cozido, retirei-o da panela e reservei. Cozi favas na água onde cozeu o frango e retirei-as. Coei a água da cozedura e juntei as favas descascadas. Passei a varinha e juntei o frango quase desfiado sem peles nem ossos. Juntei um pouco de arroz carolino e um pouco de sal. Simples de fazer e muito saborosa esta combinação de frango e de favas numa sopa.

Bola de Carne | Espumante Luís Pato Baga


Ivan Rebroff nasceu em 1931 em Berlim. Durante a sua vida cantou muito. Músicas do Folclore Russo, principalmente. Com uma extensão vocal de mais de quatro oitavas, cobria todos os registos vocais, do baixo ao soprano. Em 1968 gravou um disco chamado Na Sdarowje com músicas sobre vodka e vinho.



Foi ao som desse velhinho vinil (de edição Alemã) que se abriu um dos meus espumantes favoritos, o Luís Pato Baga.


Com uma bela côr salmão, uma bolha elegante e uma bela acidez é adequado para acompanhar uma bola de carne com azeitonas...

terça-feira, 6 de abril de 2010

Porca de Murça Reserva 2006

Wine Enthusiast Magazine scored it 92 points saying “Parcels" of old vines produce this complex wine.

Foi este o mote, juntamente com a entusiástica prova do PadreFrancisco que me levou a comprar este vinho para provar. € 7,59 no hipermercado... Foi refrigerado, decantado e servido a 16º C. Algo fechado no início, foi abrindo para algumas notas de frutos vermelhos maduros e algum vegetal. Na boca é agradável, embora com pouco corpo. Termina razoavelmente longo. Feito com as castas tradicionais do Douro de vinhas velhas seleccionadas, estagia em madeira antes de ser engarrafado (são estas as informações do contra-rótulo). É um vinho de que é fácil gostar, embora me pareça que os 92 pontos da WEM são algo exagerados. Nota pessoal: 16. 


Acompanhei o vinho com um frango assado no forno.

 

- A Oeste Nada de Novo -

Nada de novo... Sarrabulho à Moda da Beira. Acompanhado com batatas e grelos cozidos conseguiu brilhar a acompanhar o Doda, ou o Quinto Dado. 


DoDa, a quinta edição do DaDo de Dirk Niepoort e Álvaro de Castro ou a materialização do sonho de Rolf Niepoort. Um Vinho de Mesa, sem data de colheita no rótulo, por imperativos legais (aparece na rolha). Um lote de 55% de vinho do Douro proveniente de vinhas velhas feito na Quinta de Nápoles e com 20 meses de estágio em carvalho francês e 45% de vinho do Dão das Quintas de Saes e da Pellada com cerca de metade de Touriga Nacional sendo o restante uma mistura de castas tradicionais do Dão com um estágio de 24 meses em carvalho Allier ff.

 "...aromas florais na dose certa, madeira a amparar o conjunto, combinação perfeita de vigor e elegância..." (in Vinhos de Portugal 2010, de João Paulo Martins).

A breve frase de JPM que transcrevi acima diz tudo. Um grande Vinho de dois grandes Enólogos em 4.608 garrafas de 0,75 l e 212 em Magnum. PVP: € 32,00. Nota pessoal: 18.

Fica uma curiosidade do rótulo: "...o vinho foi feito por Dirk Niepoort a Álvaro de Castro..." Terá sido propositado? É que esta mesma frase aparece nos rótulos de todas as colheitas. No mínimo, estranho...

sábado, 3 de abril de 2010

Pão Processado


Tenho-me interrogado algumas vezes sobre o melhor acompanhamento e dar a uma alheira numa refeição. As batatas cozidas e salteadas e os grelos salteados são uma aposta segura, naturalmente. Com um arroz de Portobellos também não vão mal. Já que a alheira leva pão, porque não acompanhar com outro pão? E grelos, já agora... Uma açorda de grelos.

Deitei água e um pouco de sal num tacho. Quando a água ganhou fervura, juntei uns grelos e escaldei-os. Retirei os grelos  e deitei a água para cima de carcaças secas fatiadas. Deitei um dente de alho esmagado e cortado finamente e um pouco de azeite no tacho e deixei o alho aromatizar o azeite. Retirei o alho e juntei o pão embebido em água. Fui mexendo até o pão se desfazer numa papa macia. Juntei um pouco de pimenta branca e os grelos. Envolvi tudo e desliguei o lume. Deitei óleo numa frigideira e fritei uma alheira de caça industrial depois de lhe ter feito uma incisão longitudinal do lado exterior. Servi estes dois preparados de pão processado, separadamente. 

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Grãozada by me | Vila Santa 2007

Este prato foi inspirado no tempo que estava ontem, nublado e cinzento, a pedir uma "comida de tacho". Fiz uma variação sobre o Rancho à moda de Viseu... Cozi um pouco de orelheira fumada, barriga de porco fumada, chouriço de sangue e de carne e cortei em pedaços. Deitei um fundo de azeite e cebola num tacho e fiz um refogado. Juntei as carnes e deizei por uns minutos. Depois juntei cenoura (já parcialmente cozida junto com as carnes), couve branca, grelos de couve e de nabo e grão de bico previamente cozido. Juntei caldo da cozedura das carnes e deixei em lume brando até os vegetais estarem cozidos. Desliguei o lume, deixei repousar uns minutos e servi.

Para complementar esta espécie de rancho sem massa escolhi o Vila Santa 2007. Vila Santa é o porta-estandarte de João Portugal Ramos no Alentejo, situado acima dos vinhos de consumo corrente, como o Lóios ou o Marquês de Borba e abaixo dos aristocráticos Quinta da Viçosa e Marquês de Borba Reserva. Há Vila Santa Branco, Tintos varietais (de Syrah, Trincadeira e Aragonês) e o tinto de lote, feito com Aragonês, Touriga Nacional, Trincadeira, Cabernet Sauvignon e Alicante Bouschet que estagia em madeira nova. São 170.000 garrafas de um vinho a rondar os € 10,00. É um vinho muito bem feito, com as castas presentes a darem o seu contributo para a elegancia e estrutura deste vinho. Boas notas de fruta bem madura, boa barrica e um final longo. Não pretende fugir à sua origem (Estremoz)... É quente e pede (a mim pediu) para ser servido a cerca de 16º C. Em síntese, um vinho de lote de João Portugal Ramos feito para agradar... E agrada. Muito...

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Atum Estufado em Vinho Tinto

O atum fresco não é muito consensual. É daquelas coisas que facilmente inspira uma relação de amor/ódio, pelo seu sabor forte e peculiar. Por mim, não o preparo muitas vezes, mas de cebolada ou de tomatada à algarvia sabe sempre bem. Este que ensaiei veio na sequência de uma conversa sobre a melhor wine-pairing para o atum… Vinho tinto, jovem e com bons taninos. Nem precisa de ser muito complexo… Nem muito caro. Vale da Raposa 2007. Custa € 3,99. E atum estufado em vinho tinto? Porque não experimentar?

Deixei atum em postas para o grosso (dois centímetros) a marinar em alho, louro, pimenta e vinagre. Penso que o tempo ideal da marinada seja de oito a doze horas (deixei um dia inteiro e pareceu-me algo excessivo). Cortei uma cebola para o tacho de barro, juntei um fundo de azeite e deixei a cebola ficar transparente. Juntei o atum e selei a carne. Juntei o líquido da marinada e um pouco de vinho tinto a cobrir a carne. O vinho foi o Vale da Raposa que tinha aberto e decantado entretanto. É mais ou menos unânime que uma preparação culinária que leve vinho deverá ser feita com o vinho que a acompanhará. Em geral não sigo esta regra, como é óbvio, mas aqui, com um vinho de quatro Euros, porque não? Tapei o tacho e deixei a estufar em lume muito brando até evaporar o álcool. Deixei a apurar durante o tempo de cozedura de umas batatas. Servi. O atum estava delicioso, nada seco (como facilmente acontece quando se grelha) embora bastante marcado pelo sabor do alho da marinada. O facto de ter sido estufado em vinho tinto deu-lhe um sabor muito próprio. Foi, sem dúvida, uma bela experiência.

Quanto ao vinho… É o vinho de entrada da gama de Domingos Alves de Sousa.

Domingos Alves de Sousa que tem no Quinta da Gaivosa o seu porta-estandarte e nos Vinha de Lordelo e Abandonado dois vinhos de topo, para não falar dos seus Reserva Pessoal (o Reserva Pessoal Branco 2005 que está para sair para o mercado foi provado recentemente na Essência do Vinho e estava absolutamente fantástico) fez este Vale da Raposa com Touriga Nacional, Tinta Roriz e Tinta Barroca. Um vinho proposto a um preço onde andam dos vinhos mais consumidos, como o Monte Velho ou o Esteva. Este 2007 tem fruta aos molhos, taninos presentes sem incomodar e álcool bem integrado. Não é muito complexo, mas para este prato também não era preciso. Um vinho bom e barato para beber sem pensar muito, ou melhor, para pensar que há vinhos bons nesta gama de preços. Fiquei fã…