O Quinta das Bágeiras Garrafeira tinto é um dos grandes vinhos Portugueses. Um Baga extreme da Bairrada, concentrado, duro e longevo, feito a partir das melhores uvas da quinta e lançado apenas nos melhores anos. Este 2005, do qual se produziram 6676 garrafas, tem 20% de Touriga Nacional proveniente de uma vinha com 15 anos, sendo o restante Baga, de vinhas muito velhas. Nem sei bem o que dizer, tinha provado o vinho há pouco tempo e achei-o francamente bom, mas desta vêz, com mais atenção achei-o sublime. A Touriga vem apenas afinar o vinho, continuando a Baga a ser omnipresente. Poderoso é um adjectivo razoável para descrever este "monstro" da Bairrada... Um vinho que entra facilmente no meu top-ten, como tinha entrado o sublime garrafeira 95. E com uma relação qualidade/preço (cerca de € 25) assombrosa. Nota pessoal: 18.
Este foi o texto que escrevi há pouco menos de 2 anos quando aqui falei pela primeira vez deste vinho do Mário Sérgio Alves Nuno. Agora voltei a provar o vinho, mas noutras circunstâncias. Mudou o formato e a garrafa passou a Magnum, a nº 159 das 2134 produzidas (e com um preço a rondar os € 50,00). O vinho está apuradíssimo e continua mais que pronto para viver anos na garrafa, mas a dar já um enorme prazer a beber nesta altura.
A maior virtude das magnuns será mesmo a bondade com que deixam o vinho evoluir mais lentamente do que as garrafas de 0,75 l, mas isso não obriga a abrir uma magnum apenas quando o vinho das garrafas normais está "cansado". Num jantar especial, numa comemoração, tudo é um bom motivo para partilhar as garrafas deste formato que se estranha apenas até se entranhar... E este vinho, seis anos após a colheita e quatro após o engarrafamento deixa adivinhar longa longevidade (passe o pleonasmo) e muitos anos de absoluto prazer para qualquer enófilo. É uma daquelas garrafas de compra obrigatória para comemorar o 20º aniversário de um filho que tenha nascido em 2005.
E sendo um dilecto filho da Bairrada, feito com a mal amada Baga e a Touriga Nacional da moda, mas à moda antiga, sem desengaces e sem meias pipas de madeira nova, mas antes velhos tonéis, é um dos vinhos que se mariada muito bem com um leitão, bem escolhido e bem assado, por quem o saiba assar. Acolitado com umas batatas cozidas com pele e uma salada fresca, desde que o leitão seja supremo, este vinho lá estará para o acompanhar. Talvez daqui a uns dez anos prefira uma chanfana e daqui a vinte uma perdiz estufada, mas isso são contas de outro rosário.
(E deixo uma Receita Conventual de 1743, compilada por António de Macedo Mengo)
"Pelado e aberto por uma ilharga, se lhe tirem as tripas e a fressura... e também picarão toucinho e umas cabeças de alho, cravo inteiro e pizado, pimenta inteira e pizada, cuminhos, sal, folha de louro, um pouco de vinho e algum vinagre. ...Mexa-se tudo isto muito bem, e se metta dentro do leitão, de sorte que não leva môlho; e cosendo a abertura, espetarão o leitão em espeto de pau, e o untarão com manteiga de porco.
Isto feito, ponha-se a assar, que será devagar, e emquanto se for assando se tirará fóra algumas vezes para tomar ar e côr. E, quando começar a levantar empollas na pelle, se lhe irá dando com um panninho molhado com água e sal.
Quando estiver assado, o que commummente leva duas horas, terá então os couros bem córados e vidrentos; e logo se porá na ponta de um espeto um pedaço de toucinho, que assando-o se irá pingando com elle o leitão. E depois de bem pingado irá á mesa, servindo-se com laranja, pimenta e sal."
Pois eu sei que vou preferir um belo leitão, com a pele estaladiça como este, embora não seja capaz de recusar a dona e senhora chanfana...
ResponderEliminarEstás de parabéns pela bela estrutura de todo o texto!
Beijinhos.
Mais um grande texto!
ResponderEliminarÉ para mim um agrado ler o teu blog. Este post despertou-me mais a atenção porque sou fã do Leitão... e fiquei fã das Bageiras desde a vertical que propuseste com o post 100 no Fórum da RV.
... Se resistir à gula, espero provar a minha magnum daqui a 10 anos com a chanfana
... Se tiver coragem, pode ser que daqui a 20 a prove com uma perdiz(se ainda existirem estas preciosas aves)
Abraço ;)
Como o leitão bairradino (assado por quem sabe!), é matéria de devoção e não de comentário e este vinho é dos que está na parte desconhecida do meu universo vínico, resta-me arregalar o olho para as belas abóboras gila e esperar vê-las um dia em toda a sua filamentar glória!
ResponderEliminar