O título é comprido e chato...
Como compridos e às vezes chatos são alguns nomes de pratos de alguns chef's, mas esses (os chef' s aka cozinheiros profissionais) estão mais que desculpados, querem | precisam de justificar a sua criatividade em nomes que levam meia hora a ler, para deleite do comensal | consumidor. Se calhar é legítimo, afinal há muitas horas de trabalho e muita gente por trás de um prato que nos chega à mesa.
Menos desculpável será algum "embandeiranço em arco" @ blogosfera tuga que apresenta manhosas preparações sob títulos pomposos, como que a disfarçar falta de técnica e cultura culinária.
Nada disto, naturalmente, se aplica à cozinha do Luís Pontes, que nos seus blogues
Comidas Caseiras e
Outras Comidas tem vindo, calma e paulatinamente a apresentar comidas do receituário tradicional, bem como as suas próprias criações, que se constituem como referência incontornável no panorama da blogosfera nacional.
Apeteceu-me apenas dar um tom pomposo na apresentação de uma (
aparentemente) deliciosa preparação a que o Luís chamou simplesmente de "
Azeitada de Alguidar".
Carne de porco (o Luís usou lombinhos) dupla e longamente marinada... Primeiro fica 24 horas em azeite, depois numa mistura de vinho, alhos, massa de pimentão e vinagre durante 3 a 4 dias e que depois é grelhada | frita na chapa. Pareceu-me uma proposta bastante interessante, ao ponto de a ensaiar...
Comprei um naco de perna de porco cortada como se fosse para bifanas grossas (com cerca de 1 cm de espessura) que deixei a "marinar" em azeite num tamparuére (tinha tampa) durante 24 horas. Findo esse período, juntei uma pasta feita com alho, pimenta preta, massa de pimentão, vinho branco (o
JP) e umas gotas de vinagre de vinho branco. Juntei ainda (à revelia da preparação descrita) um pouco de salsa fresca. Deixei no frigorífico durante três dias, tendo o cuidado de mexer a mistura todos os dias...
Antes de preparar a carne, pensei nos acompanhamentos. O mais natural, uns grelos cozidos e uma fatia de broa... por aí. Decidi fazer umas "papas de milho", acompanhamento natural da Região da Gândara para os torresmos de porco, mas aqui com grelos de nabo que iam assegurar a acidez natural para equilibrar a voluptuosidade da carne tão longamente marinada... Na mouche. Chamei-a de ProtoPolenta porque não me pareceu que ganhasse em ser salteada em azeite.
Num tacho, deitei água e um pouco de sal marinho e quando a água estava a ferver, juntei os grelos. Dei-lhes apenas uma entaladela, retirei parte da água e juntei farinha de milho. Reduzi o lume para o mínimo e fui mexendo até a farinha estar cozida. Desliguei o lume, juntei um fio de azeite e reservei. Entretanto, já tinha retirado a carne do frigorífico e tinha-a metido no grelhador, sem qualquer adição de gordura... Deixei a carne alourar por fora, dos dois lados e depois reduzi o lume e deixei ficar até a carne estar macia. Servi com maçã e uma mini rodela de limão.
Gostei bastante da carne... Algo excessiva de aroma e sabor aos tempêros, precisou mesmo da proto-polenta e da maçã para constituir um prato completo e delicioso.
Para acompanhar, escolhi o Casa Cadaval Trincadeira Vinhas Velhas 2007. O vinho da colheita de 2006 tinha sido considerado um dos melhores vinhos abaixo de 10 € e foi notado com uns robustos 17 valores pela Revista de Vinhos. Este prometia e esteve disponível na recente feira de vinhos do PD. Comprei uma garrafa, refrigerei-a um pouco e decantei o vinho. Deixei-o duas horas a descansar e servi-o... A Trincadeira dá belos vinhos, mas este apareceu algo marcado pela madeira, com a fruta a ficar em segundo plano. Ainda assim, proporcionou um bom wine-pairing para esta deliciosa preparação, mas algo longe das expectativas. Nota pessoal: 16.