domingo, 1 de março de 2009

A Reviravolta


Na minha última caçada, entre outras coisas (poucas), cacei um Marqués de Murrieta Ygay Reserva de 1993.
Sabendo que se trata de uma bem conhecida Bodega Espanhola, produtora de vinhos Riojanos de qualidade desde meados do séc. XIX, não hesitei e cacei-a, com uma bala de 9€! Jejeje, como dizem lá para aquelas bandas onde fazem o vinho.

Consultando na Internet a qualidade da añada daquele ano, reparei que se tratava de um ano considerado bom. Uma añada pode ser regular, normal, boa, muito boa e excelente. Já se vê que não era das melhores. Como em tudo, quem não sabe muito acerta pouco, pensei eu. lol.

Desde 1925 que na Rioja nenhum ano terminado em três deu uma colheita muito boa ou excelente. Curioso (apenas isso), não é? Em Portugal, nos círculos vínicos, chama-se às colheitas menos boas, anos malditos. E como eu me tenho dado bem com eles…

A propósito, em Espanha existe muita informação oficial sobre a qualidade das anãdas, sem que isso constitua qualquer nuvem negra sobre os produtores. Por cá, já se sabe, acabaram com essa coisa da classificação das colheitas. Podiam os consumidores ficar confusos e julgar que nos anos menos bons os bons produtores produziriam uma zurrapa qualquer, esquecendo que eles, protegendo as suas melhores marcas, só as lançam para o mercado quando a qualidade é muito alta, mas adiante.

A CVR de la Estremadura mantém essa prática. Acho bem! Gosto de saber o que pensam os especialistas, mas, num ano menos bom, se um reconhecido bom produtor lança um dos seus melhores vinhos, compro à confiança. Porquê? Porque ele protege a sua marca, se não quer perder rapidamente o capital de confiança conquistado. Adelante!

Quando decidi beber o vinho, deixei a garrafa dois dias de pé, para que o depósito assentasse no fundo da garrafa. Garrafa refrescada, aberta, vinho filtrado e decantado e pum …… ao fim de 15 anos estava imbebível! Os aromas eram bastante desagradáveis.

Estava já preparado para uma segunda decantação, desta vez para el cano, mas o Cupido disse-me para esperar até ao dia seguinte e lá ficou a garrafa no purgatório a aguardar a descida aos infernos, agendada para o dia seguinte.

No dia seguinte, quase 24 horas depois, decidi, sem grandes expectativas, prová-lo. Estava outro, libertara-se daqueles aromas adquiridos durante os anos de estágio em garrafa, estava vivo e encorpado, com a fruta a dar a primazia à complexidade e a uma barrica de grande qualidade muito bem integrada. Era a grande reviravolta. Como no futebol, quando se marca dois golos nos descontos e ainda se ganha o jogo.

O vinho tem vindo a provar-me a sua extraordinária capacidade de resistir ao tempo (as vezes em condições bem adversas) e de se transformar. Exuberante, incisivo e mais frutado nos primeiros anos de vida, para se tornar elegante, complexo e sedoso depois.

Já agora, deixem alguns dos vossos vinhos – escolham-nos bem - para os beberem já com alguns anos. Verão como ele vos compensará e premiará a paciência.

1 comentário:

  1. Caro Contribuidor (com maíusculas como deve ser...) efectivamente depois de teres procedido a tão singular compra (e olha que ainda há uma ao mesmo preço, passei lá há bocado...), não seria de esperar que ligasses a dizer épá, isto vai para el cano"... lol, ainda bem que esperaste (agora lembrei-me de um pera manca de 2001 que abri num jantar de sexta - o Gus esteve nesse jantar - e o "estupor" do vinho só abriu no domingo. lolada). Como te disse acima, belo texto...

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