Relativamente à tortilha, para além de aparentemente estar documentada como oriunda de Navarra (wiki rullaz) e já existir em princípios do séc XVIII, apenas sei que o uso de cebola é tema fracturante para os espanhóis (quanto à salsa, presumo que se aplique o mesmo que em relação à cebola)... Mas como isto não é importante, passo a explicar como foi feita esta "tortilha by me":
Cozi batatas e esmaguei-as com o garfo (com um pouco de azeite); cortei em pedaços pequenos, chouriço de porco preto e linguiça. Piquei (grosseiramente) uma cebola, um molho de salsa e pimento vermelho; bati ovos e incorporei as batatas. Juntei a cebola, a salsa e os enchidos e mexi até obter um creme homogéneo; pré-aqueci o forno a 170º C, untei um tabuleiro com manteiga e fiz um fundo com papel vegetal. Deitei o creme e levei a cozer; ao fim de 20 minutos estava cozido; retirei, deixei arrefecer, desenformei e levei ao frigorífico. Passado umas horas, cortei e servi.
Claro que isto não é uma tortilha; no essêncial, deriva de um pastelão à moda de Sevilha que um amigo meu (com ascendência espanhola) faz. O facto de ser feita no forno, poupa o trabalho de virar o preparado e previne o risco de ela se desfazer ou cair ao chão. Também o uso da batata cozida e desfeita retira alguma da "cremosidade" natural de uma boa tortilha, mas o que acrescenta em estrutura é muito bom. Quanto ao uso da cebola, nem me importo nada de a incorporar - picada grosseiramente, coze dentro da massa, mantendo-se crocante). Quanto a virar a tortilha, nem é nada do outro mundo... uma frigideira dupla (não tenho) é o ideal; para desenrascar, uma tampa de tacho maior que a frigideira, serve perfeitamente para virar a tortilha (depois de estar cozida por baixo, verte-se sobre a tampa do tacho com a parte cozida para baixo e volta a deitar-se na frigideira, para acabar de cozer). Outra forma (até o chef Vítor Sobral já fez desta forma) é fazer a tortilha numa frigideira que possa ir ao forno e depois de cozida por baixo, levar ao forno a finalizar.
Quanto ao "gaspacho", foi feito a partir da "receita" apresentada pela Maria de Lourdes Modesto, na Cozinha Tradicional Portuguesa (pag. 227) e foi servido como bebida e não como sopa. Fiz assim:
No almofariz, fiz uma pasta com sal e alho; num recipiente alto, deitei um pouco de azeite, vinagre (de vinho branco) e orégãos. Juntei tomate, pepino e pimento vermelho e um pouco de água; ralei tudo com a varinha, juntei água gelada e revi as quantidades de azeite e vinagre (para ficar equilibrado em termos de untuosidade e acidez). Levei ao frigorífico. Antes de servir, mexi bem o preparado.
O "mais ou menos" é inteiramente aplicável aqui... Claro que nem a tortilha nem o gaspacho são pratos canónicos, fixos. Ambos se prestam a muitas interpretações... Esta é a minha, muito agradável para um fim de tarde de Verão. Nem indiquei quantidades, penso que quem cozinha terá noção das proporções entre as quantidades dos ingredientes usados.