Creio que às mil e uma receitas de bacalhau seria de bom tom juntar todas as outras que se fazem com sobras, cujo melhor exemplo será eventualmente a chamada Roupa Velha (que raio de nome...) e que, mesmo a despachar, podem dar coisas muito apetecíveis, como esta preparação que ensaiei. De coisas pré-preparadas, tinha batatas e bacalhau cozidos. Depois foi só ceder à tentação de fazer uns bolinhos ou uma tortilha, trocando ovos por espargos frescos e indo à cata de preparações como as migas de batata da tradição alentejana ou as migas gatas de bacalhau com espargos do Restaurante Tomba Lobos de José Júlio Vintém, em Portalegre.
Comecei por partir alguns espargos em pedaços pequenos (enquanto partirem, aproveitam-se) que escalfei e reservei. Cortei as batatas em fatias finas e limpei o bacalhau de peles e espinhas. Depois deitei um fundo de azeite num tacho e juntei dois dentes de alho esmagados. Em lume brando, deixei o alho aromatizar o azeite e juntei as batatas e o bacalhau em lascas. Fui mexendo com uma colher de pau até obter uma papa quasi homogénea. Juntei os espargos, temperei com um pouco de pimenta preta e envolvi tudo. Desliguei o lume e deixei algum tempo antes de servir. Já no prato, juntei umas azeitonas pretas.
O vinho que deu o mote para este prato tão simples quanto saboroso foi o Castello d' Alba vinhas velhas 2009. Feito com uvas de Códega do Larinho provenientes de vinhas velhas plantadas a 550m de altitude no Douro Superior e fermentado em madeira. É um vinho que não provava há uns anos, mas depois de ter bebido o Reserva há pouco tempo (como tinha dado nota aqui) tinha que o provar, uma vez que sempre o achei um dos bons brancos do Douro, com a vantagem de ser proposto a um preço cordato (€ 10,50 na Garrafeira Tio Pepe). Suave apontamento da tosta, muito equilíbrio entre o lado vegetal, cítrico e tropical dos aromas, mineral, profundo. Um vinho que consegue brilhar a solo e ter uma boa aptidão para a mesa. Já era fã e continuo fã. Belo vinho...
És tu fã do vinho e eu dos teus pratos com o rei bacalhau... Não sei se gosto dos espargos, mas roubava, se me deixasses, e de boa vontade, aquelas azeitonas exibicionistas que se chegaram à frente na foto: pretas, grandes e doces, mesmo como eu gosto...
ResponderEliminarBeijinhos.
Muito engraçada esta re-refusão que não chega a ser confusão e que deve ter ficado deliciosa.
ResponderEliminarÉ que o JJVintém já se fartou de fundir e misturar para apresentar migas "gatas" de bacalhau, tendo ele fundido as gatas que só acompanham carnes com as de bacalhau, típicas por ali.
Agora o Cupido refundiu o fundido com as micas de batata, outra coisa, e deu este belo pastelinho soberbamente encimando pelos espargos (são bravos?)e com essas azeitonas gordas como ameixas (ou é da foto?)que eu preferiria galegas intensas e pequeninas.
Ana, os espargos andam aí, vindos do Perú. Experimenta :) Já as azeitonas são as "banais" pretas oxidadas de frasco da marca Maçarico e das minhas preferidas.
ResponderEliminarBeijinho.
Luís, como se diz, quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, ou é tolo ou não tem arte. Será falta de modéstia, mas isto saiu mesmo bem. Quanto à referência ao pastelinho, estive quase a dizer que isto podia ser um bolinho de bacalhau desconstruído :)
Espargos e azeitonas já desvendados.