sábado, 10 de setembro de 2011

Herdade do Peso 2008

Tenho para mim que ser enófilo tuga é ter que ter na alma um qualquer sentimento de desconfiança e muita vontade de dizer mal das grandes empresas que fazem bons vinhos ao mesmo tempo que se endeusam (mais) pequenos produtores que às vezes até podem meter a pata na poça e apresentam vinhos menos constantes no que à qualidade lhes assiste. Nada a favor, nada contra, mas na verdade é mais fácil dizer que o vinho A da empresa X é formatado e tal, do que dizer que o vinho X do produtor A ficou uns furos abaixo do expectável. O nada a favor nada contra, apenas porque e em jeito de disclaimer, não me causa nenhuma urticária provar um vinho dum grande produtor (empresa) e se gostar, dizer bem dele. E se for barato, melhor. Já me custa mais dizer mal dum vinho caro feito às (poucas) centenas de garrafas e vendido a preço condizente ($$$$$, remember?) por um pequeno produtor, mas isso é apenas para não passar por otário (felizmente isso aconteceu-me muito poucas vezes). Uma pessoa fica logo a pertencer ao clube de quem tem uma bimby, um mac ou um bentley em casa e isso não é propriamente agradável. Mais valia ter torrado o dinheiro num casino ou ter comprado muito porto vintage :) 


E esta introdução parva serve apenas para introduzir (passe lá, senhor pleonasmo, não se molhe) um vinho que foi uma das minhas melhores recentes descobertas. Sogrape no Alentejo, mais concretamente na Herdade do Peso. Não é novidade, mas alguns vinhos que tinha provado no passado, não tinham convencido, até pelo IMHO pouco feliz, Grão Vasco (a mim incomoda menos um Mateus Rosé de Aragonês do que um Grão Vasco Alentejano, mas os senhores do marketing da sogrape devem saber muito bem o que fazem e até vendem dois mateus rosés e três grãos vascos) e em geral pela imagem, que não apelava nada à compra. Mas agora a imagem aparece renovada e este colheita 2008 é bastante apelativo. Tem Aragonês, Alfrocheiro e Alicante Bouschet, 14,5º de álcool, um ano de estágio em madeira mais seis meses em garrafa, está redondinho e muito fácil de beber, desde que com o devido cuidado no que às temperaturas de serviço concerne. Por mim, gostei muito, até pelo preço de € 5,99, mais que cordato para este vinho.


Para acompanhar este vinho escolhi uma feijoada. Feita com orelha de porco cozida, chouriço de porco preto e barriga de porco fumada, que pus a rebolar num tacho com um fundo de azeite e a que juntei cebola e alho picados. Juntei uma folha de louro (sem o veio, parece que é toxico, tal e qual como os olhos dos camarões*) polpa de tomate, um pouco de pimenta preta e deixei estufar por cerca de um quarto de hora. Depois juntei cenoura em rodelas, deixei mais meia hora e juntei feijão vermelho previamente cozido. Deixei em lume muito brando a harmonizar sabores e servi com arroz branco. 

* private joke.

2 comentários:

  1. Se a feijoada não me tenta (à conta da orelha), já do "redondinho" Herdade do Peso vou, pela descrição, gostar muito.
    Mas para já gostei mesmo da introdução "parva", lá isso gostei!

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  2. Também não sou fã de orelhas, assim como não sou de outras extremidades... mas pelo ar mostrado na foto, vê-se que rebolaram muito bem juntos.
    O teu texto está um bom exercício de estimulação dos neurónios!!!
    Beijinhos.

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