A base deste jantar foram umas peças do cachaço de Vitela Mirandesa (esta é mais que certificada...) que tinha comprado em Mogadouro.Resolvi assá-la no forno, com apenas um fundinho de azeite no tabuleiro de barro e temperei apenas com flôr de sal. Pensei em acompanhar com uns chícharos, mas, folheando a Cozinha Tradicional Portuguesa, vi uma receita da Beira alta que me chamou a atenção, as Papas Laberças, que são uma espécie de sopa, mas neste caso fiz umas pequenas alterações. Pega-se num molho de nabiças, corta-se como se fosse para caldo verde e leva-se a cozer em água, azeite, sal e pimenta; depois de cozidas, juntar farinha de milho dissolvida em água quente; a quantidade de água utilizada determina a consistência destas papas. Resolvi deitar as nabiças numa sertã com um pouco de azeite e juntar farinha de milho sem adicionar água. Assim, em vez duma papa, ficaram mais umas migas.
Como a carne é excelente e as papas/migas ficaram com um aspecto fantástico, o vinho tinha que estar à altura. E que escolher? Com uma carne transmontana e umas migas beirãs, podia ser um vinho do Alentejo (qualquer coisa como um Vale do Ancho 2004 iria muito bem) por ser difícil escolher um Dão ou um Douro. Então lembrei-me duma velha ideia do Sr Rolf Van Niepoort de juntar o melhor dos dois mundos, o Douro e o Dão, que foi corporizada a partir de 2000 pelo seu filho, Dirk Van Niepoort (Douro) e pelo Eng. Álvaro de Castro (Dão), que a partir de lotes dos seus vinhos fizeram o Dado. Este vinho, pela legislação tem a categoria de "Vinho de Mesa" e não pode ter referência ao Ano de Colheita, Castas, Proveniência, etc; o que foi aberto é da colheita de 2000 e foi "o primeiro Dado". A sua excelência esteve à altura da comida. Ele há jantares assim...