Nesta trilogia da hortelã, proposta por mim à Ana e ao Luís, apeteceu-me fazer uma caldeirada. Podia dizer que é uma variação da caldeirada de petingas à moda da Figueira da Foz, mas creio ser mais assertivo chamar-lhe apenas caldeirada, que nisto de caldeirar podem haver "receitas" cristalizadas, mas decerto, cada tacho (ou caldeira) falará mais alto na hora de receber o peixe fresco, quanto mais fresco melhor, que se arranjar. E para caldeirar, quase tudo serve, desde que seja peixe do mar.
Nesta caldeirada, mandaram as petingas, sardinhas pequeninas que de frágeis não chegam aos circuitos comerciais convencionais e cuja comercialização até parece que é proibida (ai, asae, asae, quanto fizerem uma análise histórica e social do teu papel na mudança dos hábitos alimentares tugas, saberemos o mal que nos fizeste - tu e o teu patrão franco/alemão - que nos puseste a desdenhar do nosso melhor peixe do mundo em detrimento do salmão do viveiro e da perca do uganda e demais porcarias).
E para a caldeirada é fundamental ter uma caldeira, ou um tacho de fundo grosso. Cebola às rodelas a cobrir o fundo, uns dentes de alho esmagados, pimento vermelho (maduro) em tiras, tomate (de época, maduro - não havendo, que remédio senão recorrer ao congelado ou conservado), batata cortada em rodelas (a rondar os 5/6 mm, para melhor absorverem os sabores do caldo - rodelas mais grossas ficam menos saborosas), uma folha de louro e pimentas (com predominância da branca) moídas no moínho ou esmagadas no almofariz), um raminho de hortelã (querendo, meta-se um outro de salsa) e as petingas, arranjadas (aqui sem cabeça nem as espinhas da barriga) a ficar por cima.
Deita-se um generoso fio de bom azeite (apenas bom, não precisa de ser excelente, já que vai ferver e ver alteradas as suas qualidades organolépticas - o que costumo usar, do pingo doce, o tal "das nossas planícies" serve muito bem) e um pouco de água (a cobrir a camada de cebola, tomate e pimento e a beijar as batatas) e leva-se ao lume médio. Quando levanta fervura, baixa-se para o mínimo e deixa-se a fervilhar durante cerca de trinta e cinco a quarenta minutos (dependendo do fogão). Desliga-se e serve-se com uma fatia de boa broa :)
Acompanhei esta caldeirada com o vinho verde e branco do Pingo Doce de 2011. Um euro e meio de vinho com boa acidez, algum "pico", cítrico com algumas notas vegetais, bem feito, sem dúvida. Os vinhos "verdes" do PD são feitos na Quinta da Lixa e parece que por aquelas bandas de Felgueiras, o enólogo Carlos Teixeira não consegue fazer maus vinhos. Este é bom, o Loureiro (que custa € 1,79) também e o Alvarinho, feito por Anselmo Mendes, de que o Rui Miguel deu conta aqui, também promete. E assim se cumprem 72 trilogias :)
Apesar de eu ser mais adepto das caldeiradas com peixinhos vários, esta monovarietal de petinga ficou bem apetecível, sim.
ResponderEliminarE o mesmo posso dizer do loureiro, para o qual muitas vezes olhei mas sempre desconfiei (tão barato...)e depois compro o alvarinho Anselmo Mendes que é o meu verde preferido, bom vinho e também bom preço. À proxima vem o baratucho...
Quanto é que recebeu do pingo doce...???
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