Bem, parece que ando a (re)provar coisas que não comia há algum tempo... As belas das ovas de bacalhau, apesar de serem vendidas congeladas, podem constituir a base de uma bela salada e concomitantemente de uma bela refeição... Esta salada foi feita para acompanhar um dos meus brancos Tugas de eleição: o Bágeiras Garrafeira, aqui na versão Kid_2008, ainda sem rótulo e com seis meses na garrafa, oferecida pelo Mário Nuno, o distinto produtor.
Cozi as ovas do bacalhau em água temperada com sal, retirei a pele envolvente e cortei-as em pedaços. Abri um frasco de feijão frade de conserva (pois, ideal era mesmo demolhar os feijões e tal e cozer, mas os de frasco do Jumbo nem são nada maus) e passei os feijões por água corrente. Reservei, enquanto cozia ovos (em água temperada com sal) e picava cebola e salsa... Para a saladeira saltaram a cebola e a salsa, envolvidas em bom azeite (ando a usar um de Foz Côa, excelente), as ovas e o feijão (sem temperos extra, parece que não é mesmo preciso, mas a avaliar pela quantidade de caldos que há à venda nos hipermercados e ver que há pessoas que compram, algo vai mal de certeza nos paladares ou na técnica à volta dos tachos) e, por fim, os ovos, já fatiados... Envolvi a mistura e levei a saladeira com o respectivo conteudo ao frio e retirei a garrafa do Bágeiras. Decantei o vinho, provei (claro) e reservei tudo um bom par de horas... Servi a salada e o vinho...
Quanto à salada, nada de especial, é mais uma das formas de preparar bacalhau e neste caso as suas ovas.
Em relação ao vinho... Feito com Bical e Maria Gomes de vinhas velhas, com produções abaixo das 3.000 garrafas em cada colheita e estagiadas em madeira usada. Uma fórmula repetida, como se de uma receita de família se tratasse, o que até poderia parecer fácil (mas não é). Este 2008 detestou acordar para o decanter e trouxe com ele o papá Bical e a mamã Maria... Explico, o vinho estava todo partido. Se por um lado se notava a influência do papá Bical na estrutura, ao lado estava a mamã Maria a deixar o seu rasto de perfume por toda a casa. E o vinho a chorar, era tarde e ele precisava de descansar e não era no decanter que ia recompor energias...
Num registo mais sério, o vinho oscilou entre um asceta e um bebé mimado, entre a dádiva de uma aula de enologia e a vontade de lhe dar um sopapo. Nem acordou, foi mesmo o perfume da mãe Maria que saltou do copo e nem era nada mau... Na boca, algo confuso, entre o fresco e o sublime e com um final muitíssimo elegante. Não terá a estrutura do 2004 nem a elegância do 2005, mas não deixa de ser um belo exemplo do que as vinhas velhas do Mário Nuno podem dar aos brancos deste país. Mas seguramente é de guardar pelo menos três anos (isto foi mesmo infanticídio). Nota pessoal: 17.