sexta-feira, 22 de abril de 2011

Sável Frito | Adega de Vila Real Reserva 2009

Depois de ter amanhado o sável, corte-o em postas muito fininhas, salgue-o e regue-o com um pouco de vinagre. Deixe que repouse três ou quatro horas. Ao fim deste tempo retire as postas do vinagre e aperte-as bem, entre um pano de linho, para que algumas espinhas venham agarradas ao pano. Passe as postas por farinha e frite-as em azeite bem quente.

Esta é a receita do sável frito à moda de um tal padre Elias divulgada pela união das empresas de hotelaria, restauração e turismo (UNIHSNOR) e que me levantou uma questão curiosa que tem a ver com a forma como se baptizam as receitas. Claro que há receitas canónicas e cristalizadas, como o bacalhau à Braz ou à Gomes de Sá que justificam por si o nome que ostentam. Mas este sável do padre Elias o que é? Que tem de especial? O pano de linho? Terá esse alguma propriedade milagrosa de sacar as irritantes espinhas à sápida carne do sável. Se sim, canonize-se o pano, canonize-se o padre e candidate-se a receita a património imaterial da humanidade. Se não, chame-se-lhe apenas sável frito. É que para brincar com os nomes das receitas já temos muita gente na blolgosfera que escreve as maiores alarvidades todos os dias, é uma questão de estar atento. Por mim, a UNIHSNOR podia ter deixado o padre Elias em paz, já que terá mais responsabilidade nestas coisas de comidas do que uma qualquer pessoa que se lembra de tirar umas fotos aos pratos e vai despejar as foticas na net e afinfa-lhes com um nome pomposo a acompanhar a receita e a dar nota do estado da unha encravada e do pudim flan que comprou na loja dos chineses.

De qualquer modo, com ou sem pano de linho, com ou sem padre Elias, o sável frito é uma das iguarias de época que a globalização não controla. Enquanto tivermos sáveis e rios, temos dois meses para degustar estas magníficas postas de sável, fritas e a acompanhar uma açorda de ovas. Não havendo ovas para açordar, acompanha-se com as batatas novas, cozidas com a casca.     


Para acompanhar este prato, escolhi um vinho Branco do Douro, o Adega de Vila Real Reserva 2009. A AVL comercializa três vinhos brancos, o Grande Reserva, de que dei nota aqui, este Reserva e um colheita. O Reserva é feito com Viosinho, Malvasia Fina e Fernão Pires. Frutado, cítrico, com notas muito suaves de tosta. Parecido no carácter com o Grande reserva, é um vinho que alia algum corpo a uma acidez média, bom para beber nesta altura. Atendendo a que custa menos de € 3,00, é uma excelente escolha.



2 comentários:

  1. Com ou sem pano, com ou sem padre, o sável é um grande peixe, assim frito fininho e estaladiço.
    Pelo menos aqui para o Sul, a época do sável já acabou, sendo a grande época de meados de Fevereiro a meados/fim de Março, quando já são muito raros os exemplares ovados, suprasumo deste magnífico peixe.
    Inveja ainda haver para essas bandas!

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  2. Fizeste-me rir e, sobretudo, pensar sobre os nomes que se dão (dou, damos) às receitas...
    Não como sável desde miúda, nem me lembro o aspecto do peixe antes de fritar.
    Gostei do termo açordar, que não conhecia...
    Beijinhos.

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