quarta-feira, 20 de abril de 2011

24ª Trilogia, a do Fiambre

Estas trilogias às quartas, com a Ana e o Luís, servem para muito mais do que simplesmente escolher um ingrediente, uma preparação ou um tema relacionado com estas coisas das comidas e fazer um prato. Dá para nos divertirmos e acima de tudo dá para reflectir um pouco em torno do acto de fazer comida. Ao fim de 24 semanas, cada um de nós já propôs 8 temas. Para encerrar este ciclo e passarmos a um novo, resolvi provocar (no bom sentido, naturalmente) os meus parceiros de trilogia e resolvi apresentar como tema, um dos ingredientes mais desinteressantes que conheço, o fiambre. Na verdade, o jambom cuit não é, de per si, nada mau; má é a forma como a industria trata um produto nobre de charcutaria, transformando-o numa coisa banal e sensaborona. A maior parte dos fiambres comerciais são constituidos por água, muita, muitos aditivos e muito pouca carne. Um produto que deveria ser uma peça de porco em salmoura que é cozida e depois seca, transformou-se numa coisa altamente manipulada e mais que pronta a comer, já que até se vende embalado e fatiado. Próprio apenas (e pouco) para enfiar num pão, juntar uma fatia de queijo de plástico e enganar a fome. Querendo, torra-se ligeiramente o pão, junta-se um pouco de manteiga e faz-se uma tosta mista, tornando isto um pouco menos mau. O fiambre é uma coisa tão pouco interessante que aparece quase sempre associado ao queijo (também ele altamente manipulado, sem gosto, sem sal, sem gordura) já que a solo não brilha.

O fiambre é tão pouco interessante que não tem nenhum receituário associado. Qualquer coisa que se faça com fiambre poderia ser feita com outra coisa, excepto naturalmente a sande mista ou a tosta mista. E foi muito interessante ver como a Ana e o Luís responderam a este desafio. A Ana adaptou uma preparação, os canellonis e deu-lhes a volta, substituindo a carne por fiambre e juntando-lhe a frescura da cenoura. Prato seguro e bem feito, mas que até podia ter sido feito com presunto. O Luís não ligou à provocação e fez... fiambre, tout court, justificando também o que eu disse acima.  E eu fiz um upgrade à sandes mista, um folhado enrolado com queijo e fiambre. Estendi uma placa de massa folhada, recheei com fiambre da perna extra (uma designação mais que infeliz) fumado e fatiado da marca Pingo Doce e queijo flamengo Loreto (algo a meio caminho entre um queijo flamengo e aquelas fatias de marca branca que não sabem a nada) e enrolei.     


Meti o rolo num tabuleiro revestido com filme metálico de cozinha, pincelei com azeite e levei ao forno pré-aquecido a 210º C. Quando a massa estava dourada, retirei do forno. Deixei arrefecer um bocado, fatiei e servi, com uns canónigos temperados com um pouco de flor de sal e um fio de azeite. Agora vamos ver se para a semana sai um tema mais interessante, desta vez a mando da Ana.

2 comentários:

  1. Pois olha, eu só considero o fiambre um elemento desinteressante quando enfiado em sandochas e até nas tostas mistas.
    Acho que isso ficou provado nesta 24ª trilogia que foi uma das minhas preferidas (se é que é possível avaliar isso, sendo suspeita, pois cada uma delas é a minha preferida na sua semana - lol!)) e em que tornámos o fiambre tudo menos desinteressante (modéstia à parte).
    Gostei mesmo!
    Beijinhos.

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  2. A princípio pensei até que o Cupido estivesse a atravessar uma fase menos lúcida da sua vida e dei-me por grande sortudo, olha lá se em vez de fiambre o tema tinha sido "A Cozinha com Sopa de Cebola Maggi" ou as Receitas-Base da Bimby...
    Depois percebi que o tema só podia mesmo era ter sofisma e tudo se tornou bem mais divertido, como os 3 demonstrámos bem com as voltas e voltas que o tema levou.

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