segunda-feira, 31 de maio de 2010

Adega de Pegões Colheita Seleccionada Branco 2009


O porta-estandarte dos vinhos brancos da Cooperativa Agrícola de Santo Isidro de Pegões, aka Adega de Pegões colheita seleccionada é um dos vinhos com melhor relação qualidade preço do mercado. É feito com Arinto, Chardonnay e Antão Vaz e passa por madeira. Atendendo a que o estágio em madeira pode onerar o custo duma garrafa de vinho branco em 2 a 4 Euros (generalizando) pode-se dizer que este vinho, ao ser comercializado a 2,99 € sai quase de borla...
Não será bem assim, mas quase. As notas iniciais de citrinos a que se junta algum tropical, aliadas às subtis notas da madeira no aroma, um comprimento e largura de boca muito bons para um vinho deste preço, uma bela acidez e um final razoável tornam este vinho num natural companheiro para a mesa.
Ao preço é uma tentação. Nota pessoal: 15,5+. 

Quinta de Foz de Arouce Branco 2008 | Atum no Forno

Os vinhos brancos da Quinta de Foz de Arouce são, para mim, dos mais interessantes brancos Portugueses e entrariam sem hesitações em qualquer lista que fizesse (se a fizesse). Oriundos dum terroir improvável, como tanto se diz, ali a uns quilómetros das regiões demarcadas do Dão e da Bairrada. Feitos com uma casta, o Cerceal que normalmente é usada em lote e estagiados em barrica. Feitos em quantidades mínimas (a rondar as 2.000 garrafas), o que os tira da vista da maior parte das pessoas. E a custar cerca de 16 € numa garrafeira (12 € na loja da Quinta). 
Tudo factores que contribuirão para que não seja um vinho da moda, mas antes um vinho que calmamente vai angariando os seus admiradores indefectíveis. Ainda por cima tem uma bela aptidão para evoluir em cave... Este 2008 aparece com elegantes notas da barrica, boa fruta e "um perfil que tem muito pouco de modernismo olfactivo" (JPM - Guia de Vinhos 2010). Muito bom na boca e com um longo e agradável final. Um branco com muita classe. Nota pessoal: 17.    

Foi provado a acompanhar um atum no forno.


quinta-feira, 27 de maio de 2010

Arroz de Tamboril e Vinha de Alvaredo Alvarinho 2009

Um simples e reconfortante arroz de tamboril... Piquei cebola, alho e cortei pimento vermelho em tiras. Deitei um fundo de azeite num tacho e deixei em lume brando até a cebola estar transparente. Juntei um pouco de polpa de tomate e o tamboril em pedaços. Juntei água (a quantidade de água varia em função do tipo de arroz)  e o arroz. Deixei o arroz ficar al dente, juntei salsa picada, sal e pimenta e servi. 

Acompanhei com um Alvarinho feito para os Supermercados Dia (o rótulo não refere o produtor) e que se chama Vinha de Alvaredo. Por € 3,89 tem-se um Alvarinho simples e sem defeitos. Fresco e agradável, bebe-se com prazer. Nota pessoal: 15,5.

Quinta da Garrida Reserva Touriga Nacional 2004

A Quinta da Garrida (Dão) é propriedade das Caves Aliança, juntamente com a dos Quatro Ventos (Douro), das Baceladas (Bairrada) e da Terrugem (Alentejo). Para provar este Touriga Nacional de 2004 fiz um naco de perna de porco no forno, barrado com uma pasta de alho, banha de porco, pimenta e sal e que foi regado com um pouco de vinho branco e umas batatas a acompanhar.
Este vinho extreme de Touriga Nacional teve 90 pontos da Wine & Spirits. Cor rubi profunda, notas florais da touriga, fruta bem madura, taninos redondos e um final longo. Um vinho de que é muito fácil gostar. PVP: € 8,99. Nota pessoal: 16,5.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Açorda de Camarão | Vale do Rico Homem Branco 2009

Esta açorda é feita sem caldos, por isso fica a saber apenas ao que leva, não sofrendo por isso do Síndrome do Restaurante Chinês. Levei ao lume um tacho com água, sal, um pouco de pimenta moída e uma malagueta. Quando estava a ferver juntei camarões (deverão ser usados camarões frescos; se congelados devem ser previamente descongelados) e desliguei o lume. Ao fim de cinco minutos retirei os camarões e tirei-lhes as cabeças. Esmaguei as cabeças no almofariz e juntei à água da cozedura. Deixei a fervinhar em lume brando enquanto os camarões arrefeciam. Descasquei os camarões e coei o caldo para uma taça grande onde juntei pedaços de uma regueifa que deixei a embeber. Deitei um fundo de azeite noutro tacho juntamente com uns dentes de alho esmagados e em lume brando deixei os alhos aromatizarem o azeite. Retirei os alhos e juntei o pão e o caldo. Para mais rapidamente obter uma pasta com textura uniforme, passei a batedeira a baixa velocidade. Deixei em lume brando mexendo sempre até a açorda estar homogénea. Juntei então os camarões e salsa picada, envolvi tudo e servi.   


Acompanhei este delicioso prato com um vinho da Adega do Monte dos Perdigões feito para o Grupo Jerónimo Martins. O Vale do Rico Homem branco de 2009. Acabado de sair para o mercado, é vendido a € 3,49 no Pingo Doce. É feito pelo Eng. Pedro Baptista com Arinto, Viognier e Verdelho. Boas notas cítricas, boa acidez. Um vinho honesto e bem feito, para acompanhar comida de uma forma descontraida. 

Quinta de Foz de Arouce Vinhas Velhas de Santa Maria 2005


O Vinhas Velhas de Santa Maria é o vinho de topo da Quinta de Foz de Arouce. Depois do Vinhas de Santa Maria de 2001 e do Vinhas Velhas de Santa Maria de 2003, saiu este da colheira de 2005. Feito de uvas de vinhas velhas da casta Baga (3 ha de vinha com um rendimento de 10 hl/ha) com um pouco de Touriga Nacional. Foram feitas cerca de quatro mil garrafas após estágio de catorze meses em madeira nova. Muito fino e elegante, é um vinho aristocrático que pede bons copos e cuidados na temperatura de serviço. PVP: cerca de 40 €. Nota pessoal: 18.

Foi excelente companhia para um lombinho de porco no forno recheado com chouriço de porco preto.



segunda-feira, 24 de maio de 2010

Lombo de Bacalhau com Enformado de Batatas, Cebola e Pimento

Esta é uma forma muito simples, rápida e deliciosa de degustar bacalhau. Tem-se lombo de bacalhau demolhado. Num tacho deita-se um fundo de azeite e leva-se a lume brando. Junta-se alho esmagado, pimento vermelho em tiras e deixa-se confitar. Junta-se a cebola e vai-se mexendo, sempre em lume brando atá ela ficar transparente. Juntam-se as batatas cortadas em rodelas finas e o bacalhau. Junta-se uma folha de louro e um pouco de pimenta preta, cobre-se com água quente e mantém-se em lume brando até as batatas estarem macias (cerca de dez minutos). Enformam-se os vegetais e rega-se tudo com o caldo. Polvilha-se o bacalhau com salsa fresca e serve-se. 

Este é um prato que gosto especialmente de acompanhar com um Alvarinho. E este Soalheiro 2009 está fantástico, tendo-se tornado um dos meus Alvarinhos de referência. Tinha-o provado há um mês, aqui.

domingo, 23 de maio de 2010

Quinta de Foz de Arouce - Visita e Prova Vertical dos Vinhos

A Quinta de Foz de Arouce situa-se no Concelho da Lousã, na região das Beiras. Está rodeada pelos contrafortes das Serras da Lousã e Penela e é banhada pelos rios Arouce e o Ceira onde o primeiro desagua.
Os antigos documentos existentes na casa referem as propriedades como pertença da família desde o Séc. XVIII, sabendo-se que algumas dependências são mais antigas, pois a primitiva casa foi por duas vezes consumida pelo fogo. A capela contígua à casa foi fundada no Pontificado do Papa Bento XIII em 1724.
A cultura da vinha conhece-se neste local desde as ocupações Visigóticas da Península, como atestam várias lendas que dizem ter o Rei Arunce guardado vinho, entre outros preciosos bens, no seu castelo da Lousã.
A produção vitivinícola na quinta mistura-se com a própria história e demarcação da propriedade, sendo hoje, tal como a adega, a única que se conhece na região.
Dos 60 hectares que hoje compõem a quinta, 15 são de vinha. O solo é predominantemente xistoso e de características aluviais.
A vinha é composta por 3 hectares com mais de 50 anos, (vinha de Sta. Maria), por 9 hectares de vinha com 5 anos e por 3 hectares de vinha velha em reconversão. As castas tintas são distribuídas pela Baga, 80% e pela recém introduzida Touriga Nacional, 20%; as brancas, 5% do encepamento total, são na sua maioria Cerceal.
Os actuais proprietários, os Senhores Condes de Foz de Arouce, procuram manter o espírito hospitaleiro e desprendido com que recebem em sua casa e que caracteriza a verdadeira nobreza lusitana. A produção de vinho é como que a continuação desse espírito que se reflecte na sua filosofia comercial: “Com bom vinho fazem-se sempre bons e verdadeiros amigos”.

Este breve texto, retirado da webpage da Quinta explica parte do fascínio que a propriedade e os vinhos aí produzidos exercem sobre qualquer enófilo...

Há pouco mais de um ano e na sequência de uma prova do vinho branco da Quinta de Foz de Arouce de 1995 feita pelo Gus e publicada aqui no blogue e no Forum Nova Crítica, nasceu a vontade de se fazer uma prova vertical dos vinhos da quinta.
Apesar da atitude deselegante e infeliz da administração do FNC demonstrada na remoção do tópico para uma secção com muito menor visibilidade (apenas mais uma e que explica muito bem porque é que tão poucas pessoas hoje se interessam e participam nesse fórum, mas isso são contas de outro rosário).

Foram-se estabelecendo contactos com os Senhores Condes de Foz de Arouce, proprietários da Quinta e com o Eng. João Perry Vidal, o enólogo, no sentido de nos receberem, ao mesmo tempo que se reuniu um grupo de enófilos admiradores indefectíveis dos vinhos. Após muitas peripécias e adiamentos, ontem dia 22 de Maio de 2010 realizou-se a tão esperada visita à belíssima propriedade.      
 

A partir das 11.00 da manhã, o grupo constituído por 13 pessoas foi chegando ao Paço do século XVIII onde foi sendo muito bem recebido pelos Condes de Foz de Arouce.


A primeira parte do programa consistiu numa prova en primeur dos vinhos mais recentes da Quinta. No belo pátio interior provou-se o branco da colheita de 2009 e o tinto das vinhas velhas de Santa Maria de 2007, ambos ainda em amostra de casco com a prova a ser devidamente conduzida pelo Eng. João Perry Vidal, enólogo da casa. Tábuas de queijos e tapas, para além de aconchegarem o estômago, serviram para mostrar mais uma vez a bela aptidão gastronómica dos vinhos.

Ao fundo viam-se as vinhas da encosta sul...



Depois desta bela prova, era hora de nos dirigirmos ao restautante "A Viscondessa" do Meliá Palácio da Lousã para o almoço e para a prova vertical dos vinhos, mas não sem antes nos despedirmos temporariamente da Sra. Dona Isabel Osório. Infelizmente devido a compromissos pessoais a Senhora Condessa não nos pôde honrar com a sua companhia ao almoço.

O almoço tinha sido previamente marcado (naturalmente) tendo a gerência do Hotel reservado uma bonita sala para o grupo. Relativamente aos vinhos para a prova, cada pessoa levou os que tinha disponíveis nas garrafeiras, tendo o Senhor Conde, o Eng. João Filipe Osório tido a amabilidade de ceder as garrafas de colheitas que nos tinham sido impossíveis de arranjar. Afinal, estamos a falar de vinhos que começaram a ser engarrafados e comercializados a partir da vindima de 1987.

Começou-se por refrescar as garrafas dos brancos. Apenas foi possível provar as das colheitas de 1995, 2003, 2005 e 2006. Quanto aos tintos, abriram-se as garrafas e deixaram-se ao alto, tendo sido apenas ligeiramente refrigeradas antes de serem servidas. Coube ao Eng. Perry Vidal o trabalho de tirar as rolhas às garrafas...




Antes de ser servida a comida provou-se o branco de 1995 que tinha estado deitado uns anos na minha garrafeira e que a maior parte das pessoas nunca tinha provado. Cansado mas não morto, valeu pela curiosidade de provar um branco com 15 anos e do qual tinham sido feitas apenas mil garrafas.


Como éramos 15 pessoas e só havia uma garrafa de cada vinho (o que apenas permitia provar uma quantidade muito pequena) mas muitos vinhos em prova é facilmente compreensível que se tenha optado por ir servindo os vinhos da seguinte forma: primeiro os brancos e depois os tintos e dos mais antigos para os mais recentes. Com dois copos por pessoa foi fácil fazer uma "gestão" individual da prova. Ou seja, era possível ainda estar a provar um vinho quando já se tinha servido outro, em função do gosto pessoal e do alinhamento dos pratos, que foram: 


Terrinha de Caça


Bacalhau gratinado com batatas confitadas


Lombinho de porco preto com molho de Porto



Bolo de chocolate com gelado de framboesa


Sobre a comida, não me alongo. Apesar do menú ter sido previamente acordado, pelo que a comida seria preparada de propósito para o almoço, a terrina de caça estava um pouco seca, o toque de vinagre no bacalhau não foi do agrado geral e os lombinhos eram um pouco duros. Também a fruta que adornava a sobremesa estava um pouco seca. Pormenores a que cada pessoa atribuirá um grau de importância diferente mas que não retiraram prazer à prova. E que prova...

Como tinha referido acima, provaram-se quatro brancos. Quanto aos tintos, provaram-se as colheitas de 1987, 1988, 1989, 1990, 1991, 1992, 1993, 1994, 1996, 1998, 2003, vinhas de Santa Maria 2001, vinhas velhas de Santa Maria 2003 em magnum e vinhas velhas de Santa Maria 2005. Catorze vinhos diferentes. Impressionou a forma como os vinhos estavam todos de boa saúde, atendendo a que em relação a alguns era impossível saber as condições de guarda. Por mim destaco o 1991 e os vinhas velhas de Santa Maria 2003 e 2005. O 1988, o 1992 e o vinhas de Santa Maria 2001 foram mais três vinhos que brilharam num universo onde nenhum vinho defraudou as expectativas. No total foram provados vinte vinhos diferentes, de 1987 a 2009 que resumem a história recente da Quinta de Foz de Arouce.


Não podia deixar de referir a forma entusiástica do Eng. Perry Vidal e do Senhor Conde de irem falando dos vinhos à medida que estes iam sendo provados, nem o interesse do grupo presente em debater assuntos directa e indirectamente ligados aos vinhos em prova. Naturais foram também as referências a João Portugal Ramos, genro dos Senhores Condes e responsável por uma boa parte dos vinhos provados. Destaque ainda para a qualidade do serviço, atento e pronto. No fim do almoço ainda se provou um vinho da Madeira sem rótulo levado pelo Nuno Gonçalves, o que deu origem a reflexões interessantes sobre a idade, castas e método de produção. A rematar, um Dönhhoff Riesling Ausless 2001 em garrafa de 375 ml (ainda deu um fundo a cada) levada pelo João Rico que serviu para brindar a uma prova épica.

Na volta ainda passámos na loja da quinta, onde tivemos a oportunidade de comprar alguns vinhos a preços muito interessantes e de nos despedirmos da Senhora Condessa de Foz de Arouce com um sorriso nos lábios e uma enorme vontade de voltar em breve.



sexta-feira, 21 de maio de 2010

Tortilla, omelete ou what else and a bottle of Prova Régia 2009

Há algumas preparações do receituário ibérico que usam quase os mesmos ingredientes e que no fim conduzem a resultados completamente diferentes. Bacalhau, batata, cebola, ovos (e salsa). Pratos onde o bacalhau não quer alho nem tomate nem pimento (e com a presença da cebola a ser sempre discutida). Azeite, azeitonas e broa de milho (em tugal) compõem o ramalhete. Pastéis de Bacalhau e Bacalhau à Brás da Estremadura (nos pastéis de bacalhau a presença da cebola incomoda puristas, naturalmente, tal como numa tortilla Andaluza), na tortilla Basca de bacalao (pronto, essa leva pimentos e malaguetas, mas também leva salsa) e em muitas outras preparações, seguramente... Pequenas diferenças no tempo e no modo como os ingredientes se transformam com o calor, não é mais do que isso, que origina tantas preparações diferentes.

Se quisesse poderia chamar com alguma propriedade a esta preparação, de omelete/tortilla de bolinho de bacalhau (para quem aceita o toque crocante da cebola como uma mais valia num bolinho de bacalhau. Ou pelo menos como uma coisa que não mata o bolinho). Seria a prima salgada da tarte pastel de nata tão apresentada na blogosfera, mas era palerma. Fica um what else...    

Usei bacalhau e batatas previamente cozidas. Esmaguei as batatas com um garfo e desfiz o bacalhau (depois de retiradas peles e espinhas) com os dedos. Piquei uma cebola nova e um ramo de salsa. Misturei tudo numa taça, juntei ovos, temperei com um pouco de sal e pimenta branca moída na hora. Deixei a repousar enquanto aquecia um fundo de azeite numa frigideira. Voltei a mexer bem as coisas que estavam na taça e deitei o conteúdo na frigideira. Deixei cozer por baixo e virei como se fosse uma omelete (ou uma tortilla), deixei finalizar e servi. Com boa broa de milho e umas azeitonas pretas.


A acompanhar, o Prova Régia 2009. Um Arinto de Bucelas, da Companhia das Quintas. Com rótulo renovado, este clássico mantém o seu perfil. Alia os aromas cítricos a algum vegetal, conjuga uma bela acidez a um corpo razoável. Bom na boca, a pedir para ser servido muito fresco (bastará uma manga ou um frappé e ele manterá a temperatura de 10º C a que mais gostará de ser servido). Nota pessoal: 15,5. 


Mouchão 2001 - O Vinho do Centenário


Há algum tempo atrás tinha falado aqui do Mouchão 2001. Um vinho incontornável quando se fala de Topos do Alentejo. O vinho da colheita de 2001, no centenário da inauguração da adega da Herdade comprada por John Reynolds. Um clássico de Paulo Laureano...

Brilhou a acompanhar um cozido feito de farinheira, chouriço de porco preto, barriga fumada, pernil de porco preto e galinha com batatas, cenouras, nabos e couves. A untuosidade do prato a ligar muito bem com um vinho complexo e especiado.