quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Nona Trilogia, a das Quartas e um Bife ou Tournedos a roçar o Rossini

Esta semana foi a minha vez de propor o tema à Ana e ao Luís. E propus, o bife. E bifes, há muitos, quase tantos como os chapéus; efectivamente, desde o bife tártaro aos bifes de Hamburgo, do bife Wellington aos Tournedos, da posta Mirandesa aos bifes de Café, do Steack au poivre ao bife com três, cinco ou sete pimentas, da picanha ao bitoque, é toda uma miríade de possibilidades que um bom naco de novilho nos pode oferecer para explorar. 

Por mim, que não desdenho um bom bife (pena é que a boa carne esteja cada vez mais arredada dos pontos de venda da nossa mais que formatada distribuição - embora a do Pingo Doce seja superior à média, IMHO) lá me tentei a fazer uma variação sobre um tema de Rossini, não de uma das suas composições musicais, mas de uma criação culinária, que o homem gostava de e sabia comer. Do clássico Tournedos Rossini, retive o básico dos acólitos mas em vez do foie gras usei rillette de ganso da Bizac e em vez das trufas usei uns muito mais baratos e democráticos champignons de Paris (e de estufa, já agora...). Comprei uns bifes altos do pojadouro da vitela e lardeei-os com bacon. Levei-os à chapa bem quente por cerca de um minuto de cada lado, temperei com flor de sal e reservei-os num prato dentro do forno a 50º C. Para os bifes, uns pedaços da rillette e os cogumelos cortados em quatro, salteados em manteiga e alho esmagado, um ar de pimenta preta e uma colher de sopa de natas. O acompanhamento ficou a cargo de umas batatas cozidas al dente com pele que depois cortei até obter uns paralelipípedos que levei a alourar em óleo quente. Para completar o prato, tomate chucha do Oeste cortado em quartos e rabanetes temperados com um fio de azeite e flor de sal. Para o prato ficar com uma apresentação à altura, faltaram as folhinhas e uns toques de uma qualquer espuma para dar um ar "gourmet" (termo que abomino, mas que quem não sabe o que é gosta de usar, talvez por não saber o que é e soar bem dizer palavras estrangeiras, mas isto digo eu sem saber). Como isto era apenas um bife, saiu para a mesa despido de aparatos pirotécnicos refugiando-se na velha frase de Ludwig Mies Van Der Rohe, infelizmente tão pouco na moda nestas coisas da cozinha: less is more... Mas gostei do efeito lagarta das batatas, do tomate e dos rabanetes a rondar o bife ;)     

4 comentários:

  1. As batatas ficaram super simpáticas com este corte!

    ResponderEliminar
  2. Este Tournedos Cupido é, isso sim, uma sinfonia de referências culinárias do Senhor Bife e quando se começa a tentar nas preciosidades como aquele lardeamento, vê-se que se está perante a Petite Messe Solenelle, o "pequeno" título com que Rossini brincou na sua grande obra-prima.

    ...e com isto, brincando, brincando, estamos a chegar aos dois dígitos, credo!

    ResponderEliminar
  3. Não falta nada ao teu bife «despido de aparatos»... está magnifico!
    Estas trilogias dão-nos cabo da cabeça, mas dão tanbém um gozo danado na preparaçãp, realização e no partilhar dos resultados que são sempre especiais e surpreendentes.
    Beijinhos.

    ResponderEliminar