Portugal produz grandes vinhos fortificados. Os Portos, os Moscateis (de Setubal e do Douro) e os Madeira serão dos melhores vinhos fortificados do mundo, mas estranhamente a grande fatia do nosso consumo será a de portos tawny novos, quentinhos e servidos em... (dedais?) brindes e festas... O moscatel básico de Favaios, esse, é servido fresco e misturado com cerveja. Já os Moscateis velhos, os Vintages, os Tawnies Velhos e os Madeira serão uns quase ilustres desconhecidos. Pelo preço? Sim, mas muito mais pela falta de cultura/divulgação destes nectares únicos que, salvo melhor opinião, fazem mais por Portugal no mundo do vinho do que os nossos vinhos de mesa todos juntos (Mateus Rosé incluido, já agora...)
Há basicamente dois tipos de vinho do Porto, o Tawny, que envelhece em madeira e o Ruby, que envelhece na garrafa.
Nos tawnies, para além dos correntes, temos os vinhos com indicação de idade (tintos e brancos e que são vinhos de lote, ou seja vinhos provenientes de colheitas diferentes que são loteados, obtendo-se assim vinhos com idades médias de 10, 20, 30 ou 40 anos) e os vinhos duma colheita específica (os colheita). Todos estes vinhos envelhecem em madeira e vão sendo loteados e/ou engarrafados à medida das solicitações do mercado e em geral não ganham nada em ficar guardados na garrafa.
Nos Ruby' s, temos os correntes, os reserva (vinho loteado) e as categorias "superiores", o LBV (late bottled vintage) e o Vintage. O LBV é seleccionado a partir de lotes de vinho de uma só colheita e engarrafado 4 a 6 anos depois da vindima. Já o Vintage, é feito a partir das melhores uvas provenientes da mesma colheita e engarrafado 2 a 3 anos após a vindima.
Sendo o Vintage e o Tawny com alguma idade (30 e 40 anos) vinhos que, pelo seu preço ficam fora do alcance dum consumo regular, ficamos com os LBV' s e os tawnies mais novos (10 e 20 anos) que por um preço razoável (entendendo-se por razoável o que qualquer pessoa possa ou esteja disposta a pagar) que já dão muito prazer na prova.
É o caso deste Ferreira LBV 2000. Feito com Touriga Franca, Touriga Nacional, Tinta Roriz, Tinta Barroca, Tinta Amarela e Rufete provenientes de uvas do Cima Corgo e do Douro Superior e vinificadas nas Quintas do Seixo e da Leda, foi depois transportado para as caves da Sogrape em Gaia, onde estagiou em vasilhas de carvalho até ser elaborado e engarrafado o lote final, em 2004 e sem estabilização pelo frio, pelo que pode precisar de ser decantado devido ao depósito (decantei para arejar mas tinha pouco depósito, embora outras garrafas possam ter mais).
É um vinho retinto, ainda cheio de fruta com os 6 anos que leva na garrafa e com os taninos domados, o que o torna num vinho fácil e muito agradável na prova. Como qualquer vinho que se preze, merece ser provado à temperatura certa (14º C ou seja, refrigerado) e num copo minimamente decente (não precisa de ser um Riedel de topo, basta um copo de pé de vidro transparente, como o do Arq. Siza para vinho do Porto ou mesmo alguns copos quase low cost, desde que transparentes e de formato adequado). Por cerca de € 13,00 tem-se um LBV já com uns anos em garrafa (neste momento temos os 2005 e 2006 no mercado) muito polido e distinto. Uma escolha mais que segura. Um senão? Deve ser consumido num prazo de 24 horas (ao contrário dos tawnies e dos moscateis que conseguem manter as suas características por mais tempo no frigorífico, os Vintages e LBV' s são muito mais frágeis e depois de aberta a garrafa, o melhor é mesmo consumir o vinho rapidamente; claro que se sobrar, as preparações culinárias irão agradecer...), mas parece que não há Bela sem Senão...
Sem comentários:
Enviar um comentário