quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Papas de Abóbora com Rojões

Nesta 52ª Trilogia, a que devia ser do ano que tem 52 semanas, mas não é já que o ano não é igual para toda a gente, a Ana sugeriu que fizessemos algo com abóbora. E por mim, achei muito bem ir recriar uma proposta do Luís que até foi feita para a trilogia do milho e que ao mesmo tempo me evoca sabores da infância.  

Papas de abóbora, comida de época, de quando os produtos alimentares vinham da terra e não do barco ou do avião. Papas de abóbora, das abóboras que se tinham colhido e que estavam ao tempo, nos beirados dos anexos de apoio à actividade agrícola que todas as casas da gândara tinham. Das abóboras meninas de polpa laranja de que se faziam os filhós e as papas, que as outras, chamadas de machadas ou porqueiras, de polpa mais amarelada, eram para os porcos. E o acompanhamento natural das papas eram os torresmos da matança e que podiam ser couratos confitados até ficarem estaladiços, nacos de entremeada que quase tinham perdido a gordura ou nacos da perna que não iam para o presunto, ou da pá, assim grandinhos e sem gordura, mas resplandecentes da longa preparação na gordura do porco. Era assim, carne de porco, apenas temperada com sal, retirada de diversas partes do bácoro e que era confitada para se fazer a banha de porco; a que não derretia comia-se. E com muito prazer, a acompanhar as papas de abóbora que eram ligadas apenas com a farinha de milho.

A minha preparação cruza esta preparação tradicional gandaresa com a do Luís, mais rica e com uns rojões mais sulistas (mas não elitistas). Para os rojões, pedi que me cortassem um naco da pá em cubos (forma simples de dizer ao homem do talho para cortar em paralelipipedos irregulares) que deixei a marinar em vinho branco, alho esmagado, sal e uma folha de louro durante umas horas (de um dia para o outro). Na hora de preparar os rojões aqueci banha de porco em lume esperto e deitei para lá os rojões, previamente escorridos do líquido da marinada e deixeio-oa a rebolar na banha até estarem uniformemente dourados. Depois juntei o líquido da marinada e baixei o lume. Deixei assim quase uma hora e depois subi o lume para reduzir o molho.
Quanto às papas: deitei um fundo de água num tacho e abóbora cortada em pedaços pequenos. Deixei ferver e juntei couve galega cortada em tiras finas. Quando a abóbora se estava a desfazer e as couves ainda estavam crocantes, escorri a água e fui juntando farinha de milho até obter a consistencia desejada. Fui mexendo sempre, para as papas não se pegarem, temperei com um pouco de sal e servi como cama dos rojões.


5 comentários:

  1. muito bom.. relembra as comidas antigas e é ideal para esta altura do ano

    ResponderEliminar
  2. Sem dúvida feliz e inovadora, essa junção da galega e da abóbora, nessas papas que sendo ditas acompanhamento, junto a esses rojões mais canónicos foram de facto elas a comandar o prato.
    Bela que saiu a 52ª que parecia a de ano mas afinal não era... e ainda há quem esteja a pensar onde raio se meteu a semana que falta, eheheheh!

    ResponderEliminar
  3. Não são doces as tuas papas, mas fazem crescer água na boca a qualquer um... e os rojões estão maravilhosos.
    Esta é uma das tuas melhores fotos, gostei mesmo de verdade... estamos a ficar veteranos trilógicos com a chegada de 1 ano.
    Beijinhos.

    ResponderEliminar
  4. E eu sei onde se meteu a semana que afinal não falta.
    A trilogia 2 aconteceu quando completamos 1 semana e por aí fora. Assim na próxima semana completamos as 52 semanas, fazendo a trilogia 53 já que a nº1 foi na semana zero.

    ResponderEliminar
  5. Estas papas de abobora com rojoes fizeram tambem as receitas nas matancas de porco da minha infancia. Nao tenho matanca de porco que assustava, mas vou hoje voltar a esse sabor unico da Bairrada

    ResponderEliminar