Há algumas coisas nesta çena da enofilia (como aliás, em quase tudo) que fariam rir se não fossem tão deprimentes. Uma delas foi a tirada de um crítico num programa televisivo de entretenimento onde se brinca com comida (aka Masterchef). O crítico* (que por acaso sabe muito e escreve bem), talvez bafejado pela boçalidade do programa, pergunta a um dos concorrentes se tinha usado verde ou maduro. Claro que só podia estar a brincar, mas estas coisas não se dizem quando a maioria dos espectadores (ou, de acordo com o acordo, espetadores) do programa pensa que o vinho verde, é verde.
O tradicional tinto de Sousão feito para acompanhar pratos como os rojões, os sarrabulhos ou as lampreias e consumido na região vai perdendo importância para os brancos que se foram impondo num mercado mais global. E se há alguns (poucos) anos a grande maioria dos vinhos da região dos vinhos verdes era uma porcaria, a verdade é que actualmente verifica-se o contrário. Dos vinhos de marca branca (como o Loureiro do Pingo doce) a menos de dois euros, até aos vinhos mais elaborados (como o Soalheiro Reserva ou o Anselmo Mendes Parcela única) e a valerem vinte e cinco euros a garrafa, é todo um mundo a descobrir. E claro que o vinho não é verde! Nos brancos temos dos melhores que se fazem no rectângulo e nos tintos, vamos tendo boas surpresas (embora não tantas como se desejaria).
E falar de vinho verde é falar de vinhos leves e frescos, com baixo teor alcoólico, bons para acompanhar pratos simples de peixes e mariscos, saladas e demais comidas de verão. E este verão outonal foi o mote para desnichar os vinhos verdes clássicos, aquelas marcas que conheço há anos e que, por não os beber há anos, não guardo recordações.
Comecei pelo Gatão. Um vinho da Borges, um clássico que de não clássico só tem a virtude de ter uma acidez engraçada que não perfura o estomago. De resto, é banal.
Passei para a Quinta da Aveleda e para o mais que clássico Casal Garcia. Aqui sim, acidez pujante a pedir kompensan. Para os indefectíveis do estilo. O Quinta da Aveleda Colheita Seleccionada é melhorzito, mas banal. Lembro-me de ter gostado mais do AVA, também da Quinta da Aveleda e que provei há um ano (acho).
Para completar o ramalhete, o Gazela da Sogrape. Leve e fresco, frutado, composto, com boa acidez. Um vinho que me conquistou. Creio que deve ser este o perfil de um vinho corrente da região dos vinhos verdes. É tentadoramente fácil de beber a solo, numa esplanada ou a acompanhar comidas leves, simples e despretenciosas como esta salada de atum. E custa três euros em qualquer supermercado.
* Fernando Melo, da Revista de Vinhos.
Pois estou parvo! Parvo e speechless como diriam os súbditos de sua majestade britânica.
ResponderEliminarÉ que nem eu, nem eu...