sábado, 8 de outubro de 2011

Era uma taça de Verde, sff...

Há algumas coisas nesta çena da enofilia (como aliás, em quase tudo) que fariam rir se não fossem tão deprimentes. Uma delas foi a tirada de um crítico num programa televisivo de entretenimento onde se brinca com comida (aka Masterchef). O crítico* (que por acaso sabe muito e escreve bem), talvez bafejado pela boçalidade do programa, pergunta a um dos concorrentes se tinha usado verde ou maduro. Claro que só podia estar a brincar, mas estas coisas não se dizem quando a maioria dos espectadores (ou, de acordo com o acordo, espetadores) do programa pensa que o vinho verde, é verde.

O tradicional tinto de Sousão feito para acompanhar pratos como os rojões, os sarrabulhos ou as lampreias e consumido na região vai perdendo importância para os brancos que se foram impondo num mercado mais global. E se há alguns (poucos) anos a grande maioria dos vinhos da região dos vinhos verdes era uma porcaria, a verdade é que actualmente verifica-se o contrário. Dos vinhos de marca branca (como o Loureiro do Pingo doce) a menos de dois euros, até aos vinhos mais elaborados (como o Soalheiro Reserva ou o Anselmo Mendes Parcela única) e a valerem vinte e cinco euros a garrafa, é todo um mundo a descobrir. E claro que o vinho não é verde! Nos brancos temos dos melhores que se fazem no rectângulo e nos tintos, vamos tendo boas surpresas (embora não tantas como se desejaria).

E falar de vinho verde é falar de vinhos leves e frescos, com baixo teor alcoólico, bons para acompanhar pratos simples de peixes e mariscos, saladas e demais comidas de verão. E este verão outonal foi o mote para desnichar os vinhos verdes clássicos, aquelas marcas que conheço há anos e que, por não os beber há anos, não guardo recordações.     


Comecei pelo Gatão. Um vinho da Borges, um clássico que de não clássico só tem a virtude de ter uma acidez engraçada que não perfura o estomago. De resto, é banal.


Passei para a Quinta da Aveleda e para o mais que clássico Casal Garcia. Aqui sim, acidez pujante a pedir kompensan. Para os indefectíveis do estilo. O Quinta da Aveleda Colheita Seleccionada é melhorzito, mas banal. Lembro-me de ter gostado mais do AVA, também da Quinta da Aveleda e que provei há um ano (acho).


Para completar o ramalhete, o Gazela da Sogrape. Leve e fresco, frutado, composto, com boa acidez. Um vinho que me conquistou. Creio que deve ser este o perfil de um vinho corrente da região dos vinhos verdes. É tentadoramente fácil de beber a solo, numa esplanada ou a acompanhar comidas leves, simples e despretenciosas como esta salada de atum. E custa três euros em qualquer supermercado.


* Fernando Melo, da Revista de Vinhos.

1 comentário:

  1. Pois estou parvo! Parvo e speechless como diriam os súbditos de sua majestade britânica.

    É que nem eu, nem eu...

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