Esta jardineira seria muito mais do meu contentamento se não viesse na sequência de um episódio muito pouco agradável e relacionado com a "fantástica" carne Arouquesa que os hipermercados Continente disponibilizam - já agora, a preços estratosféricos - e que não resisto a partilhar. É assim:
No meio de toda a carne vendida, toda ela com a respectiva indicação de proveniência chapada no rotulo das embalagens, como aliás obriga a UE (a ASAE apenas leva com as culpas dum quadro legal bastante duvidoso, porque transcrito das normas comunitárias e aceite acriticamente por quem redige as leis) e no meio da trapalhice de ver vitelas criadas no país A e abatidas no país B e que chegam cá a preços relativamente baixos (em termos absolutos, já que a qualidade é muito baixa), é sempre com especial prazer que se olha para as tentadoras embalagens de vitela Arouquesa e se não resiste - apesar do preço - a enfiar uma ou duas no cesto das compras. E foi o que fiz. Um belo naco de vitela-para-assar, com um aspecto tentador e tamanho a condizer (cerca de 350 gramas) para um jantar. Chegado a casa, abro a embalagem e o que aparentava ser um naco, era afinal, pasme-se, o topo de uma peça, aberta a meio e totalmente imprestável para enfiar no forno. É de referir que a dita carne-para-assar estava a € 16,99/kg, pelo que a brincadeira do produtor (a que os senhores do controle de qualidade do Continente são naturalmente, alheios, mas se a mim me aconteceu na primeira compra, o mais certo é ser prática corrente, pelo que esses senhores deviam abrir a pestana) me custou quase sete euros e a raiva de ficar sem jantar (isto para não completar o ciclo do choro e dizer que no carrinho também veio um Meandro do Vale Meão 2009 que se destinava a acompanhar a janta, porque se dissesse, era mesmo capaz de insultar alguém). Mas ninguém me mandou comprar nada, ainda mais no Continente.
Mas veio outra embalagem, esta de carne-para-estufar e que foi a base duma das melhores jardineiras que já comi. Cortei a vitela em pedaços e rebolei-a num tacho com um pouco de banha de porco e azeite. Juntei umas rodelas de chouriço, cebola e alho picados e deixei uns minutos em lume esperto. Juntei tomate de época picado (sem pele mas com as sementes) e um pouco de vinho tinto. Deixei mais uns minutos, enquanto descasquei umas cenouras que cortei em rodelas e juntei ao tacho. Temperei com sal e pimenta, bem como uns dois cravinhos e uma colher de sobremesa de cominhos moídos e deixei cerca de 20 minutos em lume brando. Depois juntei batatas descascadas, nabos, ervilhas e um ramo de salsa. Deixei em lume brando até estar tudo macio. Servi, com deleite, que a carne Arouquesa é excelente. E a proxima que der nota aqui no blog terá que ser comprada no terroir de Arouca, que no Continente não a volto a comprar.
O vinho que escolhi para acompanhar é um vencedor nas provas de vinhos abaixo de quatro euros, da Revista de Vinhos, o quinta do Casal Branco. As edições de 2008 e 2009 levaram 15,5 valores (nota máxima) nas provas de 2010 e 2011, o que é, à partida, garantia de qualidade. Mas, estranhamente, nunca tinha visto este vinho à venda, apenas encontrei o 2007 e num Intermarché (o de Cantanhede). Como quatro anos após a colheita não é - regra geral - tempo suficiente para um vinho tinto (mesmo que deste patamar de preço) estar passado, lá comprei uma garrafa. E não é que o vinho é entusiasmante? Cabernet Sauvignon, Alicante Bouschet e Touriga Nacional criadas no Tejo, uma estranha trindade a mostrar-se capaz de dar um vinho elegante e sério. Frutinha muito boa, corpo qb para os 13,5º de álcool e muita personalidade a mostrar que o Tejo tem muito para dar. Pode não dar topos de classe mundial, mas nos vinhos low priced, mostra que tem argumentos. Fiquei fã!
Grande aventura que acabou por ter um final feliz! Isto acontece quando se compra carne ou peixe embalados (também já me aconteceram desventuras destas...) - a vantagem é que aprendemos com estes erros.
ResponderEliminarApós a tempestade vem a bonança e fizeste uma bela jardineira, «uma das melhores que já» comeste. Estás de parabéns por ela e pelo texto corajoso...
Beijinhos.
Como se pode fazer tão bem coisa tão simples!
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