domingo, 28 de agosto de 2011

Jardineira de Vitela Arouquesa | Quinta do Casal Branco 2007

Esta jardineira seria muito mais do meu contentamento se não viesse na sequência de um episódio muito pouco agradável e relacionado com a "fantástica" carne Arouquesa que os hipermercados Continente disponibilizam - já agora, a preços estratosféricos - e que não resisto a partilhar. É assim:

No meio de toda a carne vendida, toda ela com a respectiva indicação de proveniência chapada no rotulo das embalagens, como aliás obriga a UE (a ASAE apenas leva com as culpas dum quadro legal bastante duvidoso, porque transcrito das normas comunitárias e aceite acriticamente por quem redige as leis) e no meio da trapalhice de ver vitelas criadas no país A e abatidas no país B e que chegam cá a preços relativamente baixos (em termos absolutos, já que a qualidade é muito baixa), é sempre com especial prazer que se olha para as tentadoras embalagens de vitela Arouquesa e se não resiste - apesar do preço - a enfiar uma ou duas no cesto das compras. E foi o que fiz. Um belo naco de vitela-para-assar, com um aspecto tentador e tamanho a condizer (cerca de 350 gramas) para um jantar. Chegado a casa, abro a embalagem e o que aparentava ser um naco, era afinal, pasme-se, o topo de uma peça, aberta a meio e totalmente imprestável para enfiar no forno. É de referir que a dita carne-para-assar estava a € 16,99/kg, pelo que a brincadeira do produtor (a que os senhores do controle de qualidade do Continente são naturalmente, alheios, mas se a mim me aconteceu na primeira compra, o mais certo é ser prática corrente, pelo que esses senhores deviam abrir a pestana) me custou quase sete euros e a raiva de ficar sem jantar (isto para não completar o ciclo do choro e dizer que no carrinho também veio um Meandro do Vale Meão 2009 que se destinava a acompanhar a janta, porque se dissesse, era mesmo capaz de insultar alguém). Mas ninguém me mandou comprar nada, ainda mais no Continente.

Mas veio outra embalagem, esta de carne-para-estufar e que foi a base duma das melhores jardineiras que já comi. Cortei a vitela em pedaços e rebolei-a num tacho com um pouco de banha de porco e azeite. Juntei umas rodelas de chouriço, cebola e alho picados e deixei uns minutos em lume esperto. Juntei tomate de época picado (sem pele mas com as sementes) e um pouco de vinho tinto. Deixei mais uns minutos, enquanto descasquei umas cenouras que cortei em rodelas e juntei ao tacho. Temperei com sal e pimenta, bem como uns dois cravinhos e uma colher de sobremesa de cominhos moídos e deixei cerca de 20 minutos em lume brando. Depois juntei batatas descascadas, nabos, ervilhas e um ramo de salsa. Deixei em lume brando até estar tudo macio. Servi, com deleite, que a carne Arouquesa é excelente. E a proxima que der nota aqui no blog terá que ser comprada no terroir de Arouca, que no Continente não a volto a comprar.   


O vinho que escolhi para acompanhar é um vencedor nas provas de vinhos abaixo de quatro euros, da Revista de Vinhos, o quinta do Casal Branco. As edições de 2008 e 2009 levaram 15,5 valores (nota máxima) nas provas de 2010 e 2011, o que é, à partida, garantia de qualidade. Mas, estranhamente, nunca tinha visto este vinho à venda, apenas encontrei o 2007 e num Intermarché (o de Cantanhede). Como quatro anos após a colheita não é - regra geral - tempo suficiente para um vinho tinto (mesmo que deste patamar de preço) estar passado, lá comprei uma garrafa. E não é que o vinho é entusiasmante? Cabernet Sauvignon, Alicante Bouschet e Touriga Nacional criadas no Tejo, uma estranha trindade a mostrar-se capaz de dar um vinho elegante e sério. Frutinha muito boa, corpo qb para os 13,5º de álcool e muita personalidade a mostrar que o Tejo tem muito para dar. Pode não dar topos de classe mundial, mas nos vinhos low priced, mostra que tem argumentos. Fiquei fã!

2 comentários:

  1. Grande aventura que acabou por ter um final feliz! Isto acontece quando se compra carne ou peixe embalados (também já me aconteceram desventuras destas...) - a vantagem é que aprendemos com estes erros.
    Após a tempestade vem a bonança e fizeste uma bela jardineira, «uma das melhores que já» comeste. Estás de parabéns por ela e pelo texto corajoso...
    Beijinhos.

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  2. Como se pode fazer tão bem coisa tão simples!

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