Como tinha referido no post anterior do Bacalhau à Lagareiro, é normal a confusão entre essa preparação minhota e a Tibornada da Beira Litoral, que aparece usualmente referida em livros, revistas, blogues, sites e quejandos, como Bacalhau à Lagareiro. A Tibornada é o nome dado "à ceia que se come nos lagares aquando do fabrico do azeite e na qual este prato é obrigatório" (in Modesto, Maria de Lourdes - Cozinha Tradicional Portuguesa, pag. 144) e é feita assim:
Tem-se um bom lombo de bacalhau demolhado que se assa na brasa e se faz em lascas grandes. Escolhem-se batatas pequenas que se lavam e se dispõem num tabuleiro. Salpicam-se de sal e vão a assar no forno. Quando estão assadas, retiram-se, dá-se um murro a cada uma e colocam-se num tacho onde previamente se meteu o bacalhau, azeite, alho e pimenta. Tapa-se o tacho e deixa-se em lume muito brando (das brasas) durante um quarto de hora, agitando de vez em quando. Serve-se...
Naturalmente há muitas variações a este prato e este que apresento até foi terminado no forno. E até se juntaram no tabuleiro, uns grelos previamente escaldados.
Este prato foi o mote para voltar a provar um dos meus vinhos brancos de referência e simultaneamente, contribuir para a proposta que o João Pedro Carvalho do Copo de 3, lançou à blogosfera vínica, a de provar um vinho Português com um perfil clássico na Prova à Quinta.
O vinho escolhido é branco e da Bairrada, é feito com Bical e Maria Gomes, fermenta em madeira e o seu Produtor é o Mário Sérgio Alves Nuno, um indefectível dos vinhos da Bairrada à moda antiga (o que será isto de modas e ainda por cima antigas?). A já quase dez anos do lançamento do seu primeiro Quinta das Bágeiras Garrafeira Branco (da colheita de 2001) este vinho, que só conheceu sete edições até ao presente (2001, 2002, 2004, 2005, 2006, 2007 e 2008) é, indubitavelmente um dos melhores brancos portugueses.
E na edição de 2007 deu um dos melhores garrafeiras brancos da quinta.
A concentração dada pelas vinhas velhas, o estágio em madeira usada, a fuga à frutinha fácil, a capacidade de evolução em cave, a mineralidade, o equilibrio geral, a aptidão gastronómica e acima de tudo, a expressão do terroir tornam este vinho em algo quase único, mas que ainda faz lembrar (embora de uma forma elevada e sublime) os velhos vinhos brancos da Bairrada que o meu avô fazia...
E em véspera de Trilogia, cumpriu-se o post 800 aqui no Garficopo.
...e eu que pensava que tinha muitos posts e afinal nem à metade dos teus cheguei!
ResponderEliminar800 é um número muito bonito e a pedir parabéns!
Quanto ao Bágeiras 2007, constituiu mais uma pedra no já sólido muro da minha ignorância vínica, cada vez mais consolidada:
eu pensava que a fruta era uma qualidade nos vinhos, nomeadamente nos brancos; mas agora fico a saber que há uma "frutita fácil", má, (e por inerência lógica, haverá uma difícil, boa)e lá fico outra vez à nora!
Quem diria já 800? Decidi agora que vou explorar o teu blog lá mais para trás...
ResponderEliminarGostei da tibornada: simples e apetitosa!
Beijinhos.