O Leo d' Honor é o vinho de topo da Casa Ermelinda de Freitas. É feito em anos especiais pelo Eng. Jaime Quendera a partir de uvas de Castelão (Periquita) duma vinha com mais de cinquenta anos situada em Fernando Pó. Fermenta em cubas-lagar de inox com maceração pelicular prolongada (4 semanas), estagia 12 meses em meias pipas novas de carvalho francês e um ano em garrafa antes de sair para o mercado. Depois das edições de 1999 e 2001, saiu este 2003. Mas depois o Syrah de 2005 ganhou o estatuto de melhor vinho do mundo e agora a casa aposta mais noutros varietais (Alicante Bouschet, Cabernet Sauvignon, Touriga Franca, Touriga Nacional e Syrah) tendo (aparentemente) deixado de lado este Leo d' Honor de Castelão. Curiosamente, João Paulo Martins no seu Guia de Vinhos, referia após a prova de 2006 (pouco depois do vinho estar no mercado) que o vinho "não parece merecer guarda". Em 2008, após nova prova, refere que "as uvas muito maduras com que foi feito estão a dar ao vinho uma tonalidade algo doce que (...) em nada o beneficia e lhe pode mesmo retirar longevidade". Seria um belo exemplar de Castelão, mas não ao nível das edições anteriores, o que não impediu que o preço pedido fosse sempre alto, algo entre os € 30,00 e os € 50,00. Nada de especial para o vinho de topo da casa que tinha feito o melhor vinho do mundo. Para quem tinha o vinho à venda, até podia dizer que era o melhor vinho do Universo e pedir um preço correspondente, afinal não seria novidade nenhuma e de certeza que iria ser vendido às caixas ou até às paletes...
Para quem não compra rótulos, é mais que normal este vinho ter estado fora de qualquer perspectiva de compra, pelo menos até o ter encontrado à venda a € 19,00 (Jumbo do Parque Nascente, em Gondomar). Mas depois de ter andado a provar alguns vinhos da Peninsula de Setúbal, seguindo de algum modo as boas propostas do Painel da RV na edição deste mês da RV, a prova dum Castelão de Topo (e são cada vez mais raros) seria uma espécie de cereja no topo do bolo de vinhos de Setúbal provados.
Claro que depois de ter comprado a garrafa, a primeira coisa que pensei é que seria muito bom que o João Paulo Martins se tivesse enganado... A segunda foi na comida para acompanhar este vinho. Quanto à comida, foi simples. Um sarrabulho feito pelo meu pai iria cair que nem ginjas neste Castelão que deveria talvez ter sido bebido há quatro anos. Já quanto a um possível engano de JPM, a coisa não seria fácil. E não foi. A tonalidade algo doce está lá, algum peso e algum álcool a mostrar-se, também. Quanto à guarda, justificou-se na estrita e exacta medida de que não me parece que tivesse pago € 35,00 ou mais pelo vinho em 2006, mas em 2010 lá acabei por o comprar a metade do preço. Doce e apimentado, alcoólico (sempre são 14,5º) mas como também disse JPM, "continua a ser um belíssimo exemplar de Castelão de vinhas velhas e deverá ser apreciado como tal". Um belo vinho de Jaime Quendera que terá sofrido com alguma especulação a nível de preço, mas que dá muito prazer a beber, com os seis anos que leva de garrafa.
Em jeito de nota final, a magna forma como o meu pai prepara o sarrabulho... Aparentemente é muito simples de fazer, mas é preciso ter mão (e assertividade e experiência e experiência outra vez). Muitos anos a virar frangos e a matar porcos e nem se lembrou que ainda não temos laranjas maduras. A matança do porco na Gândara deverá ser melhor feita daqui a algum tempo para melhor potenciar o potencial do bácoro e para o belo do sarrabulho deveriamos ter laranjas mais maduras. No final, diria que o toque mais vegetal do molho até ajudou a digerir o toque mais doce do vinho...
Há sincronias engraçadas: ainda na 6a feira comprei um vinho de 2003, da autoria de Jaime Quendera e que veio de uma vinha de Fernando Pó, mesmo ao lado das vinhas da Casa Ermelinda Freitas.
ResponderEliminarÉ um vinho monumental chamado Vale da Judia, colheita selecionada 2003, da Adega de Pegões, onde Quendera também pontifica. Falarei dele um dia destes.
É um vinho monumental sim senhor!E continua a ser!Ainda guardo algumas garrafas desse néctar!
EliminarCarta fora do baralho, sabes o que é?
ResponderEliminarÉ o que me sinto com vinhos e sarrabulho... lol!
Beijinhos.
Luís, tu andas um desnichador de vinhos :)
ResponderEliminarEsse Vale da Judia era bem feito e é bem capaz de estar em boa forma. Parece que os vinhos de Setúbal de há alguns anos atrás aguentavam muito bem o tempo. Lembro-me sempre de um humilde Pasmados de 1979 (bebido para aí em 2000 ou 2001) e dum Periquita reserva de 85 (bebido algumas vezes, a ultima se calhar em 2005) e que sempre deram muito boa conta de si (deles). Espero que tenhas uma boa surpresa e que a relates.
Ana, vinhos e sarrabulho não são as tuas praias, mas outros post' s mais interessantes virão (espero).
Provei hoje um, Páscoa 2023. Estava excelente, um grande vinho! Só posso discordar do Joao Paulo Martins. Achei superior a um Qta Vesuvio 2009 (tb mto bom) ou um Qt Castro Tinta Roriz, abertos na mesma ocasião.
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