Nesta quarta feira de trilogias, o Luís sugeriu, a mim e à Ana, o tema cozinha de inverno. Evoco aqui um prato de época e de terroir/conjuntura que se fazia há trinta anos, quando não tínhamos auto-estradas para pagar nem convites para emigrar. Era um prato que levava toda uma manhã a fazer, num tempo em que não havia (ou não se mostravam) gouchas nem loiras gritantes nem gajas com quilos de silicone nas mamas para entreter o zé.
Deixados os feijões e as carnes de porco de molho na véspera, acendia-se a fogueira e coziam-se as carnes, os enchidos e os feijões numa panela de ferro sobre um tripé a que se chamava trempe. Esta era a base de uma sopa que levava o que havia. Para além dos feijões, batatas, nabos, couves e cenouras, tudo composto num caldo rico da goma do feijão, do sal das carnes e do fumo dos enchidos. Noutra panela fazia-se um arroz de feijão, com carolino do mondego que vinha dali dos lados de Montemor e num outro tacho, no fogão, uma feijoada. Eram comidas que se comiam com prazer quando acabadas de fazer, provando-se de tudo e que se comiam com ainda maior prazer no dia seguinte, depois dos sabores se terem apurado ainda mais. Comidas de saudade, de tempos não muito passados, mas irrepetíveis. Já não há porco, já não há enchidos caseiros e a panela de ferro há anos que não vê lume. A trempe, essa deve ter desaparecido de enferrujada.
Deixados os feijões e as carnes de porco de molho na véspera, acendia-se a fogueira e coziam-se as carnes, os enchidos e os feijões numa panela de ferro sobre um tripé a que se chamava trempe. Esta era a base de uma sopa que levava o que havia. Para além dos feijões, batatas, nabos, couves e cenouras, tudo composto num caldo rico da goma do feijão, do sal das carnes e do fumo dos enchidos. Noutra panela fazia-se um arroz de feijão, com carolino do mondego que vinha dali dos lados de Montemor e num outro tacho, no fogão, uma feijoada. Eram comidas que se comiam com prazer quando acabadas de fazer, provando-se de tudo e que se comiam com ainda maior prazer no dia seguinte, depois dos sabores se terem apurado ainda mais. Comidas de saudade, de tempos não muito passados, mas irrepetíveis. Já não há porco, já não há enchidos caseiros e a panela de ferro há anos que não vê lume. A trempe, essa deve ter desaparecido de enferrujada.
Nesta versão urbano-depressiva da sopa, cozi morcela da beira e chouriço de porco preto. Juntei feijão vermelho cozido e a respectiva água da cozedura, cenoura em rodelas, feijão verde cortado miudo, nabos em pedaços e polpa de tomate (para dar alguma frescura). Quando os vegetais estavam al dente, cortei os enchidos em rodelas e juntei um pouco de massa (curvas riscadas). Deixei a massa cozer uns dez minutos, desliguei o lume e servi. Com um naco de broa...
Pois é, no inverno não há nada como uma bela sopinha feita à nossa maneira, com o que há.
ResponderEliminarBela a evocação da sopa "da panela" feita na trempe, verdadeira slow food de antanho a recordar-me uma que comi há 28 anos, em Sendim, concelho de Tabuaço, feita assim, com o que havia, o dia todo a fervinhar, temperada com unto, um enchido espantoso que parece um salpicão, por fora, mas por dentro é só toucinho temperado e fumado e que deu algo que nunca mais provarei e que nunca mais esquecerei.
Vai bem lançada esta 59ª...
Bela viagem ao passado, esta em que nos levaste...
ResponderEliminarAdorei o termo urbano-depressivo aplicado à tua sopinha embora ao ver a foto ache que é termo que não se lhe aplica.
Boa trilogia para combater o frio de inverno...
Beijinhos.
Esta sopa transportou-me por segundos ao passado na casa da minha avó... adorei.
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