Nesta última quarta feira de 2011, cumprem-se as 60 trilogias com a Ana e o Luís, o que por si só, constitui motivo para festejar. Para além de ser a última do ano, foi sugerida por mim e o tema foi o polvo.
E propostas de polvo por aqui não faltam e como fui eu a propôr, teria que apresentar algo de novo (aqui no blog, naturalmente, que na cozinha - em geral - muito pouco se pode inovar, digo eu sem saber) e depois de ter desenhado mentalmente uma preparação de polvo com grão de bico, fui googlar a ver se havia algo de sério sobre o tema... E havia, já que um restaurante em Cádiz, chamado Puente Hierro, onde Angel Pérez manda na cozinha, tem uma preparação que me inspirou.
Naturalmente, não a segui religiosamente, mas posso dizer que cozi um polvo de Camariñas com cerca de um quilo (em água qb e durante 40 minutos) e que o cortei em pedaços. Reservei o polvo e a água onde ele cozeu.
Deitei um generoso fio de azeite a cobrir o fundo do tacho de fundo grosso e juntei uma cebola cortada em fatias muito finas, dois dentes de alho simplesmente esmagados (e com a casca rosa deles), um ar de pimenta preta, uma folha de louro, uma colher de chá de pimentão aka colorau, uma malagueta seca desfeita com as mãos e umas rodelas finas de chouriço de porco preto. Levei a lume esperto e fui mexendo. Juntei pimento verde e vermelho em tiras muito finas e um pouco de polpa de tomate. Deixei refogar uns 5 minutos, mexendo atentamente e juntei o grão (da lata), juntamente com a água de cozer o polvo a cobrir e uma generosa porção de salsa grotescamente picada. Quando levantou fervura, baixei o lume para o mínimo e deixei a estufar uns 40 minutos. Passado esse tempo, juntei o polvo em troços (como o tinha cortado) e deixei (ainda em lume muito brando) uns 10 minutos depois de fervilhar, para harmonizar sabores. Servi assim, com uma fatia de bom pão, que a falta de arroz assim o demandava :)
E se a inspiração da receita veio da Andaluzia e o polvo veio da Galiza, o vinho veio mais ou menos do meio do caminho. Ali, perto da Serra da Estrela, da Quinta do Escudial. Touriga Nacional, Alfrocheiro, Jaen e Tinta Roriz plantadas em solos de granito de encostas voltadas a sul. Não passou por madeira. Escolhi este vinho porque me pareceu que um tinto feito com as castas tradicionais do Dão e sem madeira iria copular valentemente com o pulpo con garbanzos. E não me enganei. O tourigo está lá, levemente floral, o (al)frocheiro com a fruta, o jaen/mencia a dar verticalidade e o tempranillo a dar a estrutura. Um belo vinho, sem baunilha nem tosta, que dá prazer a beber, desde que com comida por perto. Por pouco mais de 5 €, tem-se um Dão muito correcto, para conhecer...
Ai, que dizer deste "pulpo" assim copulado valentemente pelo garboso moço Escudial, no meio dos parvos dos garbanzos que até pensavam que tinham sido convidados para um rancho?
ResponderEliminarSe este casório à bruta se passasse noutro lugar mais reservado, eu dava-lhe um belo nome português de gema, mas como não quero que o blogger ainda presenteie o Garficopo com alguma ressalva de acesso "parental", fica para mim que este belíssimo prato é o "Polvo.... copulado" :-)
Belo polvo ibérico!!!!
ResponderEliminarBeijinhos.