quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Pulpo con Garbanzos | Quinta do Escudial 2007 | Trilogia 60

Nesta última quarta feira de 2011, cumprem-se as 60 trilogias com a Ana e o Luís, o que por si só, constitui motivo para festejar. Para além de ser a última do ano, foi sugerida por mim e o tema foi o polvo.

E propostas de polvo por aqui não faltam e como fui eu a propôr, teria que apresentar algo de novo (aqui no blog, naturalmente, que na cozinha - em geral - muito pouco se pode inovar, digo eu sem saber) e depois de ter desenhado mentalmente uma preparação de polvo com grão de bico, fui googlar a ver se havia algo de sério sobre o tema... E havia, já que um restaurante em Cádiz, chamado Puente Hierro, onde Angel Pérez manda na cozinha, tem uma preparação que me inspirou. 

Naturalmente, não a segui religiosamente, mas posso dizer que cozi um polvo de Camariñas com cerca de um quilo (em água qb e durante 40 minutos) e que o cortei em pedaços. Reservei o polvo e a água onde ele cozeu.

Deitei um generoso fio de azeite a cobrir o fundo do tacho de fundo grosso e juntei uma cebola cortada em fatias muito finas, dois dentes de alho simplesmente esmagados (e com a casca rosa deles), um ar de pimenta preta, uma folha de louro, uma colher de chá de pimentão aka colorau, uma malagueta seca desfeita com as mãos e umas rodelas finas de chouriço de porco preto. Levei a lume esperto e fui mexendo. Juntei pimento verde e vermelho em tiras muito finas e um pouco de polpa de tomate. Deixei refogar uns 5 minutos, mexendo atentamente e juntei o grão (da lata), juntamente com a água de cozer o polvo a cobrir e uma generosa porção de salsa grotescamente picada. Quando levantou fervura, baixei o lume para o mínimo e deixei a estufar uns 40 minutos. Passado esse tempo, juntei o polvo em troços (como o tinha cortado) e deixei (ainda em lume muito brando) uns 10 minutos depois de fervilhar, para harmonizar sabores. Servi assim, com uma fatia de bom pão, que a falta de arroz assim o demandava :) 

E se a inspiração da receita veio da Andaluzia e o polvo veio da Galiza, o vinho veio mais ou menos do meio do caminho. Ali, perto da Serra da Estrela, da Quinta do Escudial. Touriga Nacional, Alfrocheiro, Jaen e Tinta Roriz plantadas em solos de granito de encostas voltadas a sul. Não passou por madeira. Escolhi este vinho porque me pareceu que um tinto feito com as castas tradicionais do Dão e sem madeira iria copular valentemente com o pulpo con garbanzos. E não me enganei. O tourigo está lá, levemente floral, o (al)frocheiro com a fruta, o jaen/mencia a dar verticalidade e o tempranillo a dar a estrutura. Um belo vinho, sem baunilha nem tosta, que dá prazer a beber, desde que com comida por perto. Por pouco mais de 5 €, tem-se um Dão muito correcto, para conhecer...      
 

2 comentários:

  1. Ai, que dizer deste "pulpo" assim copulado valentemente pelo garboso moço Escudial, no meio dos parvos dos garbanzos que até pensavam que tinham sido convidados para um rancho?
    Se este casório à bruta se passasse noutro lugar mais reservado, eu dava-lhe um belo nome português de gema, mas como não quero que o blogger ainda presenteie o Garficopo com alguma ressalva de acesso "parental", fica para mim que este belíssimo prato é o "Polvo.... copulado" :-)

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  2. Belo polvo ibérico!!!!
    Beijinhos.

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