As papas laberças são bem capazes de ser das mais dignas representantes da cozinha de um Portugal rural e pobre e que anda há mais de 800 anos a ser espoliado de tudo por muito poucos. Dos desvarios da monarquia às trampolinices da primeira república, aconteceu de tudo neste rectângulo à beira mar plantado. Ainda assim e apesar dos nossos parcos 89.000 quilometros quadrados, demos mundos ao mundo, fizemos o Brasil e temos a melhor equipa de futebol do mundo. A nossa triste sina, como aliás a da nossa selecção é ter quase sempre gente que faz fraca a forte gente a comandar os destinos, como se viu na África do Sul, onde uma parte da Armada Catalã de Guardiola meteu em sentido o mundo inteiro do futebol enquanto nós saímos de lá com um guião de novela barata que meteu jogadores brasileiros e um treinador de má memória capaz do melhor (há 30 anos) e do pior (agora).
Entrámos em guerras que não eram nossas, pagámos toda a sorte de ruinosos "negócios" que não fizemos, temos na expressão "apertar o cinto" uma das mais ouvidas ao longo da história, gastámos o dinheiro das especiarias em conventos e mosteiros, o ouro do brasil em conventos e palácios e os marcos alemães em auto-estradas que afinal não pagámos, mas o nosso portugal profundo, rural, crente e temente foi fazendo sempre muito com muito pouco, ao contrário de quem manda que sempre fez muito pouco com muito muito. E o portugal rural sempre teve a terra e o porco. Mesmo em momentos de racionamento de víveres, a terra e o porco alimentaram este país de norte a sul. Veremos até quando, já que matar o porco é cada vez mais proibido e até plantar couves o será em breve, tal é a ansia de quem manda em nós de nos reduzir de vez ao nosso papel na europa e que se resume a uma coisa: comprarmos os automóveis que os alemães deixam de usar ao fim de um ano ou dois para que eles comprem o novo modelo que tem mais um airbag e meia dúzia de cavalos e que gasta menos um decilitro aos cem. Os fabricantes alemães conseguem assim manter a sua saúde financeira e contribuir para o fortalecimento do papel da alemanha na europa e não precisam de reciclar os carros. Só vantagens, portanto. Em troca eles emprestam-nos dinheiro, desde que o gastemos todo no lidl...
E enquanto nos deixam semear milho, nada melhor que nos regalarmos com este prato da beira alta. Um molho de nabiças, um fio de azeite, um punhado de farinha de milho, uma pitada de sal e um ar de pimenta, para além da água. Seis ingredientes apenas. Corta-se a nabiça em tiras bem finas (havendo paciencia e como se fosse para caldo verde) e escalda-se na água que levou um pouco de sal, a pimenta e o azeite. Junta-se a farinha que se misturou com um pouco de água fria e mexe-se bem para não ganhar grumos. Deita-se mais um pouco de azeite e deixa-se cozer a farinha. Serve-se. Por mim, optei por juntar um fio de azeite já no prato em vez de juntamente com a farinha.
Já somos dois a ir pela via das papas!
ResponderEliminarBelas papas e grande texto, que assino de cruz, por baixo.
... e venha daí a Trilogia Duas Dúzias, que já fica a faltar só um pró quarteirão.
Tenho sido preguiçosa e nunca me dei ao trabalho de lhe transmitir o quanto tenho apreciado as suas receitas e as do Luis Pontes!Com estas papas não podia ficar indiferente! Este prato fazia-se muito no interior do Douro Litoral (que eu conheça) principalmente nos dias em que a broa tinha acabado. Ainda o faço hoje ou peço para mo fazerem e pode ter várias versões conforme os produtos disponiveis ( couves, nabiças, abóbora etc.. A minha mãe acrescentava sempre feijão.
ResponderEliminarMelhores cumprimentos e um obrigada pela partilha.
Fátima Cabral
Estavas inspirado hoje, escreveste um belo texto...
ResponderEliminarA inspiração também não te faltou ao escolher estas papas laberças que têm tanto de simples quanto de fascinante...
Beijinhos.