domingo, 30 de dezembro de 2012

Tintos das Bágeiras 2010


Depois do belíssimo Garrafeira de 2008, provei os tintos colheita e reserva, ambos de 2010 e oferecidos pelo Mário Nuno. 
O colheita tem 85% de Baga e 15% de Touriga Nacional. Não é vinho para meninos nem para todos os dias. Pede comida séria, como uma chanfana de cabra velha que até se pode fazer com o mesmo vinho, pelo preço (€ 4,25 na Garrafeira Nacional). É um Baga puro e duro, ligeiramente amaciado pelo tourigo, feito para a mesa. Gostei muito (garrafa nº 1.239 de 25.168 produzidas). 
O reserva tem 60% de Baga e 40% de Touriga Nacional, está um vinho elegante, com boa aptidão gastronómica e diferente da maioria dos vinhos do mesmo preço (€ 8,50, também na Garrafeira Nacional). Altamente recomendado (garrafa nº 22 de 7.529 produzidas). Estes vinhos foram provados num jantar onde pontificou um borreguinho no forno com as suas batatas, arroz dos miúdos e grelos salteados.


A rematar o jantar, um Special Reserve Port da Quinta do Javali. Um porto mais em força que em jeito que esteve muito bem com o Bolo Rei da Petúlia :) 



sábado, 29 de dezembro de 2012

Soalheiro 2012

O Soalheiro é um vinho fantástico. Encontra-se em toda a parte (do supermercado à garrafeira e será obrigatório na carta de vinhos de qualquer restaurante onde tratem bem os peixes e mariscos), tem uma boa relação qualidade/preço, vai bem com muitos pratos (os tais peixes e mariscos, mas também excelente com enchidos da tradição minhota, como refere o produtor quando liga o vinho com os enchidos produzidos pela sua irmã), tem uma excelente capacidade de envelhecimento, etc.

Também sai cedo para o mercado e nesta edição de 2012 parece-me mais pronto a beber do que o 2011 (que começou a ficar muito bom há uns dois meses). Custa € 8,49, um pouco mais que o Deu la Deu da Adega Cooperativa de Monção e um pouco menos que o Contacto, do Anselmo Mendes. Os seus irmãos mais velhos (primeiras vinhas e reserva) são ainda melhores, mas para consumo mais corrente, este chega e sobra. É clássico, tão clássico que bloguetas e eno chatos já lhe começam a tentar encontrar defeitos...


Esteve supimpa a acompanhar uma bacalhauzada no forno feita a preceito, com a cebola a ficar ali entre o macio e o crocante e com as batatas bem douradas. O bacalhau, esse, ficou untuoso e a lascar bem, como se gosta.


quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Lombinhos de Porco Estufados

Nesta trilogia número cento e doze foi a minha vez de sugerir o tema à Ana e ao Luís: cozinha de Autor. Sem querer beatificar a cozinha erudita dos grandes mestres passados ou contemporâneos nem endeusar a enorme criação colectiva que é a cozinha popular de uma cidade, região ou país, nem sequer diabolizar a cozinha feita de revistinhas, copy/paste de coisa nenhuma que pulula em muitas casas e blogues, apresento a minha, como quero que ela seja: simples, sem pretensão a mais do que alimentar com algum bom gosto, sem exageros de nada.

E teria que ser uma comida de tacho, a roçar confort food, feita com a vulgarizada peça do porco, que se comia uma vez por ano, no dia da matança e que agora se encontra todo o ano e que para além de versátil, é saborosa. Falo do lombinho do reco que aqui foi cortado em nacos como para rojões e foi a saltear para o tacho onde já estava cebola picada, alho picado, uma folha de louro e pimentas moídas. Alourei ligeiramente a carne, enquanto a cebola ficou translucida e juntei polpa de tomate. Deixei uns minutos a refogar e juntei vinho branco. Baixei o lume, juntei uma cenoura cortada em troços e deixei estufar uma meia hora em lume brando. Depois juntei um punhado de ervilhas, deixei o molho voltar a fervilhar e voltei a deixar em lume bem brando até estar tudo no ponto. Entretanto cozi uns penne, deitei-os no prato de serviço e cobri com o estufado. Servi assim, sem mais...


domingo, 23 de dezembro de 2012

Conde de Vimioso Espumante Extra Bruto 2009


Espumante* da Falua de João Portugal Ramos, feito com Chardonnay e Touriga Nacional. A ligação das duas castas é interessante e também interessante é parte do vinho ter estagiado em madeira antes de ser espumantizado. O vinho aparece engraçado numa flute e até se podia fazer um brinde com ele, mas pareceu-me mais adequado à mesa, com comida por perto. 

Fiz uma caldeirada de borrego para o acolitar e o resultado foi muito bom. A boa acidez lidou bem com a gordura do prato, as bolhinhas estavam muito boas e havia mais flores da touriga do que manteiga da casta estrangeira. Bela aptidão gastronómica. O preço anda ali a rondar os dez euros. Gostei muito :) 


garrafa enviada pelo produtor

Casa da Passarela Branco 2011

Vinho branco do Dão, custa três euros. É feito com Encruzado, Malvasia Fina e Verdelho e tem 12,5º de álcool. Muito agradável e equilibrado, é boa companhia à mesa e vai bem com muita coisa. Altamente recomendável... 


E foi muito bem com uma roupa velha de bacalhau. Parti uma posta de bacalhau (cozido) em pedaços e deitei-a numa frigideira com azeite e alho picado a fervilhar e com a pele para baixo. Juntei o resto do bacalhau, batatas cozidas com a pele, descascadas e cortadas em rodelas e deixei uns minutos. No fim, juntei cenouras e couves cozidas que apenas envolvi no azeite para não secarem.


quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

trilogia dos cereais, sai um cereal killer


Quando o Luís lançou o tema para esta centésima décima primeira trilogia, a dos cereais, não fiquei a pensar em exóticas preparações, mas antes numa que alia dois bichos da água, sendo que um é um cereal e o outro um bicho feio.
Um arroz de polvo, feito com o carolino que cresce ali ao lado do mondego, levemente temperado com pimento verde da terra e o belo do polvo que cresce na ria de vigo.



Tacho de bom fundo coberto com também bom azeite, cebola e alho picados, pimentas misturadas e almofarizadas, uma pequena malagueta seca lançada ao tacho sem se pensar no picante das sementes, umas rodelas de pimento verde e, querendo, umas finas rodelas de chouriço, tudo a refogar (ou a estrugir, como se diz aqui no burgo). 

No outro bico do fogão, tem-se já um bom polvo galego a cozer, sem mergulhos de assustar nem cebolas a acompanhar. Coze assim, num fundo de água até ficar medianamente tenro (40 minutos são suficientes, mas para melhores preceitos, podem ler isto, que é do Luís e muito assertivo) e depois é hora de cortar o bicho em pedaços e de reservar a água da cozedura.

Volta-se ao tacho inicial, o do refogado e deita-se uma chávena de arroz carolino por pessoa, deixa-se fritar o arroz, envolvendo sempre, junta-se o triplo da água de cozer o polvo, o próprio polvo cortado e deixa-se em lume brando cerca de doze minutos até o arroz cozer. Querendo, adiciona-se no fim, um raminho de salsa picado para refrescar. 

Esta foi a minha preparação para esta trilogia dos cereais. Arroz do mondego, bom, bom, bom, muito bom de polvo e a acompanhar outro dos vinhos brancos que levaram 17 na RV e que custam menos de dez euros (falta o altas quintas...). Morgado de Santa Catherina 2010, um Arinto de Bucelas que cheira a inverno e aparece sempre complexo e bom, bom para branco de inverno (sublime na bacaulhazada da noite de natal) e que aqui precisava de um bocadito de mais frescura para brilhar. É muito bem feito, é um dos bons brancos tugas e para branco de inverno está muito bom. Para comprar e guardar, já que tem pergaminhos no que à longevidade lhe assiste. :)








sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Diz que é uma espécie de carbonara...

Tinha pensado em fazer um ensaio com massa e farinheira e fui dar com uma preparação do Luís, de fevereiro do ano passado que me tentou pela simplicidade e assertividade. Tinha que a fazer :)


Meia farinheira esmagada com as mãos e salteada em azeite, um pouco de esparguete cozido e escorrido, tudo envolvido a que juntei um ovo batido, uma colher de sopa de queijo da ilha ralado e um pouco de salsa picada, voltando a envolver fora do lume. Simples, simples, simples. E muito bom.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Grelos, a Alheira e a Broa | Quinta de La Rosa 2011

Nesta semana em que se cumpre a 110ª trilogia, foi a vez da Ana dar o mote, a mim e ao Luís para irmos aos grelos. E optei por fazer uma das minhas harmonizações preferidas com alheira e com a broa de milho a compor o trio. Frigideira com um fio de azeite e um dente de alho laminado, juntei uma alheira de caça partida em pedaços pequenos e fui mexendo com uma colher de pau até obter uma pasta crocante. Juntei então broa cortada em cubos, envolvi tudo e deixei a broa absorver os sabores. Juntei então um molho de grelos que cozi, escorri e parti em pedaços. Voltei a envolver e servi. Bela entrada :)



Este prato vai muito bem com o Quinta de la Rosa branco de 2011. É um dos três vinhos brancos do Douro feitos pelo Jorge Moreira (os outros são o Pó de Poeira e o Passagem), sem contar com os que faz na Real Companhia Velha, naturalmente. Muito bom equilíbrio entre a fruta e as notas da madeira onde estagiou, é um vinho redondo e muito consensual. 


quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Empadas de Coelho e Baga by Luís Pato




Gosto muito deste rectângulo à beira mar plantado. A cozinha é excelente sem precisar de ser alta, o peixe parece que é do melhor que se faz no mundo e as pessoas, desde que não andem na política ou no futebol, são boas; hospitaleiras, sorridentes e amáveis. Somos parvos quando cultivamos a dicotomia norte/sul, porque damos demasiado valor ao mondego como fronteira, quando o mondego está ali, a crescer pequeno entre as margens, de propósito para nos deixar passar de sul para norte e vice versa e redescobrir o país que já foi do minho a timor e que agora continua a existir, do mesmo minho ao algarve quase allgarb, de tão maltratado. 

Mas do coelho se faz empada, ali a meio caminho entre as de galinha de vila viçosa e as covilhetes da vila real. Coelho que não o (nosso) primeiro, marinado em vinho branco com alho e estufado em lume brando, com os preceitos do que é feito na estremadura e chamado de "à caçadora". Das sobras, aproveita-se a carne restante, desfia-se nos dedos, junta-se o molho do estufado a gosto e forram-se forminhas de alumínio com massa folhada, deita-se lá para dentro a carne e o molho do coelho e cobrem-se com uma rodela de massa folhada. Tomam-se as pontas e leva-se ao forno bem esperto até a massa folhar e dourar. 

Servem-se assim, simples, com uma salada fresca ou com uma legumada, feita de batatas, cenoura e couve que se cozeu e se levou a saltear em azeite e alho.  


Para acompanhar estas empadas escolhi um vinho de Baga. Rosado e espumantizado pelo Eng. Luís Pato. Da vindima de 2009, apareceu pouco vivo na bolha e até algo rústico, nos aromas a madeira usada, com algumas boas notas de frutos vermelhos e um toque vegetal. Não o o recomendaria muito para sushis ou mariscos, mas esteve muito bem a acolitar estas empadas :) 


quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Bolo de Maçã e Chá Verde




Para esta trilogia sugeri chá como tema, à Ana e ao Luís. E resolvi fazer um bolo que levasse chá e que ao mesmo fosse bom para o acompanhar num lanche.

2 ovos
150 gramas de açúcar mascavado
1 chávena de chá verde
5 colheres de sopa cheias de farinha com fermento
1 maçã cortada em quartos e fatiada

Bati os ovos com o açúcar até obter uma mistura cremosa. Juntei o chá (apenas morno, para não cozer os ovos) e envolvi tudo. Juntei a farinha peneirada e mexi até homogeneizar a mistura. Juntei a maçã, tornei a envolver e levei ao forno numa forma de buraco, untada com manteiga e polvilhada com farinha. Forno a 180º C durante vinte minutos foi suficiente, mas convém fazer o teste do palito. Desenformei, polvilhei com açúcar em pó e servi morno, com um chá :)



domingo, 2 de dezembro de 2012

Quinta do Escudial Vinhas Velhas Reserva Tinto 2008




Na Quinta do Escudial os vinhos não passam por madeira. Já conhecia o branco e o tinto colheita, de que dei nota de prova aqui e escolhi este vinho para harmonizar com um borrego estufado/assado em vinho tinto, feito no tacho de barro no forno.

Borrego cortado em pedaços, ficou a marinar numa mistura de vinho branco e tinto e alhos esmagados durante um dia. Depois temperei com pimentas, uma malagueta, sal e um pouco de azeite. Deitei tudo num tacho de barro, juntei bom azeite e levei ao forno, com a tampa no tacho, até a carne estar macia. Tirei a tampa, desliguei o forno e deixei mais uns minutos. Acompanhei com batatas cozidas com a pele, cenouras e couve branca.


O vinho foi uma bela surpresa. Os vinhos mais consensuais levam (para mim) madeira a mais. Pode ser muito boa, mas parece sempre muita, pelo que é de saudar a ousadia de propor vinhos de qualidade sem passarem por madeira. Lembro-me sempre do Ouzado, aqui relatado e foi com muita satisfação que vi o vinho, raçudo e cheio de boas notas de fruto, embora com os taninos ainda espigadotes, a proporcionar uma excelente ligação com o prato. O preço ronda os onze euros, mais do que justos face à qualidade do vinho. Estou fã :)

Quinta de Porrais Branco 2007




O vinho branco que o Francisco Olazabal faz na Quinta de Porrais é um Best Buy indiscutível. Custa cinco euros e é muito bom em novo, como referi acerca do 2011 aqui. Uma garrafa duma colheita de há cinco anos atrás pode constituir uma desilusão ou, neste caso, uma grata surpresa. Muito bom na cor amarelho palha, nada evoluído, pode ter perdido parte da fruta mas ganhou em complexidade no nariz, mantém a frescura e a acidez, em suma, está um vinho muito agradável. Esteve muito bem a acompanhar um ensopado de pregado. Belo vinho :) 


Dão Álvaro de Castro Tinto 2009

Há pouco tempo deixei aqui uma nota de prova do Dão Branco do Álvaro de Castro. Hoje vou ao tinto. Tem andado com um preço a rondar os sete euros, mas aparece no painel de prova de vinhos tintos abaixo dos quatro euros da RV de Julho e até teve uns pouco recomendáveis 14,5 valores, com alguns vinhos a terem 15,5, sendo um deles o Lóios que até custa três euros. 
Tudo muito estranho e se juntarmos a isso alguma doçura que tinha notado numa colheita anterior (aqui relatada) quase que se perde a vontade de provar o vinho e ainda mais de falar dele. Abri a garrafa, deitei um pouco de vinho no copo e provei. Lá estava a doçura. Foi para o decanter, o decanter foi para o frigorífico e no dia seguinte voltei ao vinho. Tirei o decanter do frio e esperei até o vinho ficar a uns 16/17º C. E não é que estava outro? Nada de doçuras, estava um vinho pujante, terroso, mais do que pronto para aguentar um naco de novilho estufado em vinho tinto com que o acolitei.


A garrafa custou € 4,79, o vinho precisou de um dia para acordar, mas vale a pena esperar por ele. Afinal os 14,5 valores da RV são mais que correctos se se beber logo o vinho. No dia seguinte passa a 15,5 IMHO. O novilho foi feito mais ou menos como este.